Prece dos Obreiros, por José Silvério Horta
Auditórios Sofisticados
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Em todos os tempos, os oradores mais hábeis, sempre que convidados a
discursar nos auditórios que se celebrizaram por aqueles que ali passaram,
tiveram a preocupação de dar à sua palavra os tons insuperáveis da sabedoria, em
formulações cultas, que produzissem impactos e admiração inicial nos seus
ouvintes.
Apelavam para as técnicas do discurso, citando personagens célebres e suas
palavras, em tonalidades harmoniosas unidas à gesticulação bem estudada, de
forma que pudessem produzir o desejado anelo da simpatia geral.
Era sempre muito grande a preocupação com o estilo e a forma, sem olvido,
naturalmente, do conteúdo.
Nada obstante esses cuidados, quando as ideias não lhes eram conhecidas ou não
lhes despertavam o interesse imediato, os presentes desviavam a atenção
demonstrando enfado ou desprezo pelo orador e sua mensagem.
O caso típico desse comportamento encontra-se na apresentação do Apóstolo Paulo,
no Areópago, em Atenas.
A presunção e a falsa cultura que predominavam entre os intelectuais gregos,
distantes dos postulados éticos de muitos dos seus nobres ancestrais, apesar de
leve condescendência para com o expositor mal vestido, deixaram de aceitar-lhe
as informações, logo ele aprofundou-se ao tema, revelando a grandeza da
personalidade de Jesus.
Empanturrados de hedonismo uns e do cinismo filosófico outros, não dispunham de
espaço mental para novas formulações em torno da vida e dos objetivos
essenciais.
O tédio e a futilidade dominavam-lhes o comportamento, reservando a inteligência
para os sofismas, silogismos e debates intermináveis quão inúteis, em que se
exibiam, cada qual pretendendo ser mais hábil e profundo conhecedor do que o
outro.
Perderam, pela vã filosofia, extraordinária oportunidade de travar contato com o
Nazareno, que desprezavam, porque Ele ressuscitara, o que lhes parecia
mitológico, absurdo, insensato...
Antes havia sido Estêvão que, obrigado a defender-se das acrimoniosas e injustas
acusações a respeito do seu ministério na Casa do Caminho, viu-se agredido
fisicamente por Saulo, o arrogante doutor da Lei, que lhe não participava das
ideias, porque aferrado ao judaísmo decadente.
Entre apupos e vociferações de toda ordem, o jovem cristão enfrentou os tiranos
sem disfarçar a nobreza dos postulados que abraçava, abordando com lógica
irretorquível as lições libertadoras de Jesus, por aquele mesmo sodalício
condenado à morte pouco antes, porque se não submetera às suas tricas
objurgatórias.
A simplicidade e profundeza dos conceitos emitidos irritavam os opositores que,
incapazes de debater no campo das ideias, apelavam para a desordem e a força, em
vãs tentativas de intimidar o apóstolo preparado para o martírio.
Ainda hoje, encontram-se, no mundo, os grandiosos auditórios onde desfilam as
vaidades e multiplicam-se os déspotas disfarçados de portadores do conhecimento
e formadores de opiniões.
Normalmente, asfixiados pelo soez materialismo ou o daninho fanatismo religioso,
consideram-se os únicos pensadores capazes de traçar comportamentos culturais
para os demais, situando-se acima daqueles que não compartem as suas opiniões e
aureolando-se dos louros da vitória em simulacro de parceiros das musas e dos
deuses do Olimpo da cultura.
Parecem impassíveis às propostas de desenvolvimento intelecto-moral fora das
suas escolas de pensamento e de fé, combatendo com acrimônia tudo e todos que se
proponham a melhorar a situação espiritual da sociedade.
Suas tribunas e cátedras estão sempre reservadas aos pares, àqueles que são
portadores dos títulos lisonjeiros que se permutam na disputa do estrelado
magnífico da exaltação do ego.
Não que sejam escassos aqueles outros, que, igualmente portadores dos louvores
dos centros de cultura e de ciência, estão abertos a novas reflexões e análises
do que ignoram, abraçando os resultados defluentes da investigação, que se
permitem afanosamente, de imediato, transmitidas aos demais.
São esses os verdadeiros estóicos da abnegação e da coragem que mantêm acesa a
claridade do conhecimento livre, que se reconhecem como aprendizes da Vida,
sempre crescendo no rumo da plenitude intelectual, sem a perda dos elevados
compromissos éticos indispensáveis à existência enobrecida.
Diante dos paradoxos de tal natureza, torna-se imprescindível a todo aquele que
divulga as incomparáveis lições em torno da imortalidade da alma, não temer a
presunção e o fastio da falsa e dourada cultura, usando cátedras, tribunas ou os
singelos recintos de edificação espiritual, qual o fizeram, a princípio Estêvão
na Casa do Caminho e Paulo nas diversas situações, inclusive na Domus Áurea, em
Roma, diante da truculência de Nero, cirurgiando os tumores malignos da
hipocrisia e da promiscuidade, enquanto aplicava o mercúrio cromo para a cura
desses males, em forma da mensagem de Jesus.
Provavelmente, os untuosos dominadores mundanos rejeitarão a partitura musical
da inolvidável Palavra, mas nunca se olvidarão desses momentos sinfônicos em que
a escutaram apesar dos ouvidos entorpecidos pela mentira e a mente atribulada
pelos interesses subalternos.
Nunca preocupar-se em demasia, portanto, todo aquele que se dispõe elucidar a
ignorância e disseminar a verdade em nome de Jesus, especialmente através do
Espiritismo, com os cultores da inteligência trabalhada pelo academicismo
tradicional, mais preocupada em dar brilho ao conhecimento, colocando os seus
iluminados distantes das necessidades humanas, que alguns se recusam a atender.
As tribunas clássicas dos debates culturais vêm sendo corroídas pelo tempo, que
lhe tem imposto novos comportamentos, enquanto os exemplos daqueles, que usam a
palavra na construção e manutenção da ética da solidariedade e do amor,
permanecem solucionando os graves problemas que afligem a sociedade.
A palavra espírita é simples e desataviada, tendo como escopo conduzir as mentes
e os sentimentos às esferas da harmonia, mediante a razão e o discernimento,
porque totalmente livre de adereços e dependências do status quo.
É destinada a todos os indivíduos que se encontram na Terra, sejam eles
intelectuais ou modestos cultivadores do solo, administradores poderosos ou
mendigos, exemplos de saúde ou enfermos, possuidores de riquezas materiais ou
despojados de todos os bens, qual ocorreu com os ensinamentos de Jesus, que
foram direcionados para todos os biótipos humanos. Entretanto, não será
oferecida aos discutidores inveterados, aos que se encontram empanturrados de
presunção e se acreditam bem situados nos acolchoados da inutilidade.
Verberando o erro e orientando a conduta saudável, a Mensagem deve chegar aos
ouvidos das necessidades como brisa perfumada em plena primavera, que impregna e
nunca mais desaparece.
Em qualquer lugar, portanto, seja a nobre sala das conferências, o modesto
recinto da Casa Espírita, o santuário da Natureza, o confortável areópago das
grandes cidades, o contato com o transeunte, o verbo eloquente e abençoado
poderá atender aos transeuntes carnais, para os quais os Espíritos nobres
elaboraram, com Allan Kardec, a Codificação.
Por: Vianna de Carvalho, Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 10 de junho de 2011, no G-19, em Zurique, Suíça. Do site: http://www.divaldofranco.com/mensagens.php?not=266
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