Ensinar, por Espíritos Diversos
Uma Passagem pela Vida
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Morreu tristemente, sem dizer ao que veio fazer no mundo. Não casou, quase
não viveu. Aos dezenove anos, o senhor Hipnos – divindade do sono – concedeu-lhe
sono eterno.
Quando era criança, até a adolescência, vivia isolado pelos cantos da casa em
dias de chuvas e trovoadas, chorava em silêncio. Dava-nos a entender o medo.
Quando em dias de sol corria para ficar sentado embaixo de uma gameleira, bem
antiga e frondosa, com olhar fixo nas flores, parecendo contemplar a beleza e a
ouvir os cantos dos pássaros, era primavera, ficava alegre. Nesse período
vivíamos na chácara na periferia da cidade.
Se as pessoas perguntavam-lhe alguma coisa, ele respondia em metáforas e jamais
perguntava a ninguém sobre qualquer coisa, limitava com gestos e olhares. Era
calmo e ouvia a todos com atenção. Era jovem e belo, atributos que a natureza
lhe deu.
Com essas qualidades e deficiências aparentes, foi à escola aos sete anos. Lá
desenvolveu a sua inteligência e as deficiências foram reduzindo-se até suas
atitudes serem normais.
Aos dezoito para dezenove anos, voltou às atitudes e procedimentos iguais quando
criança. Todos nós familiares, preocupados com o retorno da doença, resolvemos
levá-lo ao médico neuro psicanalista. Descrevemos as fases do seu comportamento
e o médico foi acompanhando nas consultas o desenvolvimento ou não da doença.
Vários exames foram feitos e nada acusava de grave, tudo parecia normal. Foram
meses de expectativas com muita ansiedade. Mas, a doença se é que chamamos
“doença” nesses casos, tomou rumo letal.
Dias antes da sua morte, de súbito, ele falou com a pessoa mais afeiçoada a ele,
sua irmã Tereza, disse: “ Querida irmã, se a morte vier cedo para mim, não será
surpresa, pois tenho os olhos fechados para não ver os horrores da vida, só vejo
o belo. Tenho ouvidos também fechado para não ouvir lamentações, só ouço as
músicas. Sinto assim, não fazer parte como ser humano das coisas da terra. Sou
feliz, peço não chorar a minha ida, sorrias sempre quando lembrares de mim”.
Suas palavras saíram ( contou Tereza ), com a voz serena, como nunca tinha se
pronunciado a alguém com tanta firmeza. Ao ouvir, meu corpo estremeceu,
abracei-o e disse-lhe: Não fales assim... Vais ficar bom e se não ficar bom,
fiques como estais, não quero sentir a tua falta.
Ele disse: “ A minha ida, não será a morte, o meu corpo fica, eu é que vou sem
sentir a morte. Tu sentirás saudades do meu corpo, ele é que convive com todos.
Meu espírito, sempre estava ausente em permanente contato com a natureza.”
No dia da sua morte, era domingo de carnaval. O povo estava em festa, ouviam-se
de longe os gritos e as músicas em alto som, convidando os foliões. Aqui em
nossa chácara a tristeza
tomou conta de todos, o silêncio no vazio. Minha irmã Tereza estava
inconsolável, por vários dias ficou assim.
Eu, como irmão mais velho, fui encarregado de todas as obrigações fúnebres.
Dolorida missão de quem está vivo. Triste tristeza para um irmão que transcreve
essas palavras, SAUDADES.
Deixou um grande vazio nos lugares em que ficava. Uma interrogação eterna em
nossos pensamentos, uma dor perene em nossos corações.
Um Adeus sem ser Adeus.
PARTE II
UMA PASSAGEM PELA VIDA
Faz um ano que meu irmão Perício faleceu. Suas lembranças permanecem em nossos
pensamentos, não tão sofridas como no início do seu falecimento. Agora todos da
família, admitimos que a sua passagem entre nós tenha um propósito estritamente
espiritual de grande importância para a nossa espiritualidade. Relembrando das
suas palavras, ditas para a nossa irmã Tereza: “ Tenho os olhos fechados para
não ver os horrores da vida, só vejo o belo. Tenho os ouvidos também fechado
para não ouvir lamentações, só ouço as músicas. Sinto assim, não fazer parte
como ser humano das coisas da terra”.
Com essas palavras tão afirmativas e claras, compreendemos que o Perício quis
nos dizer, em outras palavras, que ele tomou como empréstimo um corpo e durante
a sua permanência aqui, seu espírito cultivou o que de melhor encontrou. Somos
familiares queridos seus em outras encarnações, esta foi a sua última passagem
em Carma em união.
Ele foi, foi de encontro às camadas transcendentais reservadas para àqueles
espíritos superiores e não voltam mais para conviver conosco. Foi com este
pensar que compreendemos e ajudamos à nossa irmã Tereza a aceitar à morte de
Perício. Foi difícil, mas ela terminou concordando dizendo que por diversas
vezes em sonho ele aparecia, sempre jovem e belo, dizendo: “ Não chore, sorria,
não houve à morte, meu corpo ficou aí. Na minha vida anterior, vocês foram à
minha família e você fez parte como minha esposa. Juntos sofrem e amam muito.
Continue com sua fé, porque só aqui seremos mais felizes.”
Hoje, Tereza já não mais chora. Só faz lamentar o quanto perdeu em não ter
aceitado a partida de Perício. Como também, não mais deseja à sua morte para ir
de encontro ao irmão. São apelações que ela não tem afirmação concreta na vida
material. Seus conhecimentos em vida após a morte, ainda é muito pouco em
comparações a fatos tão recentes.
Limitamos em reunir todos da nossa família, em dia único de cada mês, em nossa
casa para rezarmos a Deus e pedir esclarecimentos aos irmãos da espiritualidade
sobre as nossas dúvidas e dificuldades em que passamos para viver com dignidade
e honra. E sempre, terminamos fazendo preces fervorosas para aqueles que estão
sem esperança nos hospitais. Principalmente as crianças com doenças terminais.
Fazemos nossa parte material e espiritual sentimos gratificados em cada término
dos trabalhos em mesa. Temos a certeza que Perício está nos acompanhando e nos
orientando, esteja onde estiver. Sua morte a princípio deixou tristezas e
descrenças, mas ao passar da dor, vêm abrindo uma nova estrada espírita em que
nós estamos caminhando com muita fé e esperança. A união familiar criou um laço
indelével entre nós. Perício mostrou para nós uma nova Luz que não têm fim.
“A morte é um desprendimento do espírito da matéria, é um laço que vai se
soltando gradativamente no decorrer do tempo. E novos aprendizados vão sendo
transmitidos, aperfeiçoando um novo ser.”
Por: Álvaro B. Marques, Texto enviado pelo autor para publicação em nosso site
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