
Cantiga da Dor, por Maria Dolores
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- Eu estava muito bem , saudável , animado...De repente , sem
motivo palpável , caí na "fossa" - uma angústia invencível , uma profunda
sensação de infelicidade, como se a vida não tivesse mais graça...
Queixas assim são freqüentes nas pessoas que procuram o Centro Espírita. Nesse
estado toma corpo , não raro , a idéia de que a morte é a solução.
Conversávamos , certa feita , num hospital , com um rapaz que tentara o suicídio
ingerindo substância tóxica. Socorrido a tempo , amargava sofrida recuperação.
Tentamos definir o motivo de tão grave iniciativa:
- Alguma desilusão sentimental?
- Absolutamente. Não tenho namorada.
- Problemas familiares?
- Pelo contrário. Dou-me muito bem com meus pais e irmãos.
- Perdeu o emprego?
- Trabalho há anos na mesma firma. O patrão parece contente comigo.
- Então , o que foi?
- É que eu estava entediado de viver. Entrei em estado de tristeza e achei que
seria melhor morrer.
- Já se sentiu assim , anteriormente?
- Sim , de vez em quando...
Em psicologia o paciente poderia ser definido como ciclotímico , alguém com
temperamento sujeito a variações intensas de humor - alegria e tristeza ,
euforia e angústia , serenidade e tensão. Tem períodos de grande energia ,
confiança , exaltação , alternados com aflições. Muita disposição e iniciativas
hoje; amanhã temores e inibições.
Os períodos negativos podem prolongar-se , instalando a depressão , a exigir
tratamento especializado na área da psiquiatria. Como ela se alterna com estados
de euforia , em que o paciente parece totalmente recuperado , sem que nada tenha
ocorrido para justificar a mudança de humor , emprega-se a expressão "depressão
endógena" , algo que tem sua origem nas tendências constitucionais herdadas ,
algo que faz parte da personalidade do indivíduo.
Há uma retificação a fazer. A tendência à depressão é uma herança , realmente ,
não de nossos pais , mas de nós mesmos , porquanto as características
fundamentais de nossa personalidade representam , essencialmente , a soma de
nossas experiências em vidas pretéritas.
O que fizemos no passado determina o que somos no presente. Poderíamos colocar
em dúvida a justiça de Deus se assim não fosse, porquanto é inadmissível , além
de não encontrar respaldo científico , a existência de uma herança psicológica
embutida nos elementos genéticos.
O que pesa sobre nossos ombros , favorecendo os estados depressivos , é a carga
dos desvios cometidos , das tendências inferiores desenvolvidas , dos vícios
cultivados , do mal praticado. Há pessoas que , pressionadas por esse peso
mergulham tão fundo na angústia que parecem cultivar a volúpia do sofrimento ,
com o que comprometem a própria estabilidade física , favorecendo a evolução de
desajustes intermináveis.
De certa forma somos todos ciclotímicos , temos variações de humor , sem que
isso se constitua num estado mórbido: hoje em paz com a vida; amanhã brigados
com a humanidade. Nas nuvens por algum tempo; depois na "fossa".
E nem sempre , como ocorre com o paciente ciclotímico , há justificativa para
essa alternância. Pelo contrário : freqüentemente nosso humor opõe-se às
circunstâncias , como o indivíduo plenamente realizado no terreno afetivo ,
social e profissional que , não obstante , experimenta períodos de angústia; no
outro extremo , o doente preso ao leito , padecendo dores e incômodos , que tem
momento de indefinível alegria e bem - estar.
Essa ciclotímia guarda relação com os processos de influência espiritual.
Estados depressivos podem originar-se da atuação de Espíritos perturbados e
perturbadores , que consciente ou inconscientemente nos assediam. Popularmente
emprega-se o termo "encosto" para esse envolvimento.
Por outro lado , os estados de euforia , sem motivo aparente , resultam do
contato com benfeitores espirituais que imprimem em nosso psiquismo algo de suas
vibrações alentadoras.
- Hoje estou em estado de graça. Acordei bem disposto, feliz , sem nenhum
"grilo" na cabeça - diz alguém , sem saber que tal disposição é fruto de ajuda
recebida no plano espiritual durante as horas de sono físico , favorecendo-lhe
um "alto astral".
Importante lembrar , também , o ambiente como fator de indução que pode
precipitar estados de depressão , ou euforia.
Num velório , onde os familiares do morto deixam-se dominar pelo desespero , em
angústia extrema , marcada por gritos e choro convulsivo , muitas pessoas se
sentirão deprimidas , porquanto os sentimentos negativos são tão contagiosos
como uma gripe. Se não possuímos defesas espirituais tenderemos a assimilá-los
com muita facilidade.
Inversamente , comparecendo a uma reunião de cunho religioso , onde se cultua a
prece , no empenho de comunhão com a Espiritualidade , ouvindo exortações
relacionadas com a virtude e o bem , experimentaremos maravilhosa sensação de
paz , como se houvéssemos ingerido milagroso elixir.
Há outro aspecto muito interessante , abordado pelo Espírito François de Genève
, no capítulo V , de "O Evangelho Segundo o Espiritismo": "Sabeis porque , às
vezes , uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar
amarga a vida? É que o vosso Espírito , aspirando à felicidade e à liberdade ,
se esgota , jungido ao corpo que lhe serve de prisão , em vãos esforços para
sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços , cai no desânimo e , como o
corpo lhe sofre a influência , toma-vos a lassidão , o abatimento , uma espécie
de apatia e vos julgais infelizes. "Crede-me , resisti com energia a essas
impressões , que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os
homens as aspirações por uma vida melhor ; mas , não a busqueis neste mundo e,
agora , quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem , para vos
instruírem acerca da felicidade que lhe vos reserva , aguardai pacientemente o
anjo da libertação , para vos ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o
Espírito . Lembrai-vos de que , durante o vosso degredo na Terra , tendes que
desempenhar uma missão de que não suspeitais , quer dedicando-vos à vossa
família , quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou . Se , no
curso desse degredo-provação , exonerando-vos dos vossos encargos , sobre vós
desabarem os cuidados , as inquietações e tribulações , sede fortes e corajosos
para os suportar. Afrontai-os resolutos . Duram pouco e vos conduzirão à
companhia dos amigos por quem chorais e que , jubilosos por ver-vos de novo
entre eles , vos estenderão braços , a fim de guiar-vos a uma região inacessível
às aflições da Terra."
Podemos concluir , em resumo , que a ciclotimia de nossa personalidade ocorre em
função de pressões ambientes , de influências espirituais , do peso do passado e
das saudades do além.
E como superar as variações de humor , mantendo a serenidade e a paz em todas as
situações ?
É evidente que não a faremos da noite para o dia , como quem opera um prodígio ,
mesmo porque isso envolve uma profunda mudança em nossa maneira de pensar e agir
, o que pede o concurso do tempo.
Considerando , entretanto , que influências boas ou más passam necessariamente
pelos condutos de nosso pensamento , podemos começar com o esforço por
disciplinarmos nossa mente , não nos permitindo idéias negativas.
O apóstolo Paulo , orientando a comunidade cristã , em relação aos testemunhos
necessários , ressalta bem isso , ao proclamar , na Epístola aos Felipenses
(4:8):
"Tudo o que é verdadeiro , tudo o que é respeitável , tudo o que é justo , tudo
o que é puro , tudo o que é amável , tudo o que é de boa fama , se alguma
virtude há e se algum louvor existe , seja isso o que ocupe o vosso pensamento".
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