Ensinar, por Espíritos Diversos
Remorso
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Os que trazem o coração qual se fosse vaso de fel no peito,
jamais devem tomar da pena para extravasar amargura; entretanto, há feridas que,
expostas, podem evitar a eclosão de outras feridas, e aflições que, desabafadas,
consolam os que padecem.
Reencontrar a vida, além da morte, para quem julgou o túmulo simples amontoado
de cinzas, dentro da noite indevassável do nada, é castigo pior que a miséria...
É preciso haver de todo perdido a razão para despenhar-se alguém no extremo
desespero de acometer a verdade, como se as trevas pudessem investir contra a
luz. Orgulho e cegueira! Como não enxergar as mãos de Deus, nos menores trilhos
do mundo, amparando-nos a alma frágil e desafiando-nos, com doçura, a escalar os
íngremes e empedrados caminhos que conduzem à perfeição?!
Formei nas fileiras dos que se pavoneiam de fortes, sendo fracos, e que se
presumem justos quando não passam de instrumentos da injustiça, e rolei no vale
fundo e sombrio do sofrimento, presa de meus próprios conflitos interiores.
Não venho romancear o drama triste de minha peregrinação ced9o cortada para a
multiplicação de minhas dores. Venho rogar aos infelizes que não rejeitem o
remédio oferecido pela consolação religiosa e pedir aos grandes infortunados,
que já não possuem a fé, não recusarem a esperança no amanhã, que é sempre uma
surpresa capaz de restituir-lhes a coragem e a confiança.
Ninguém procure a morte antes do dia em que ela mesma, convertida em anjo
piedoso, lhe venha trazer alívio e renovação.
Ela deve constituir o ensinamento derradeiro na escola da experiência humana.
Compete-nos aguardá-la, com paciência e valor, sem o risco de desequilibrarmos a
nossa alma provocando-lhe a foice.
Perguntar-me-ão, provavelmente, se não existe aqui bálsamo para as nossas
chagas, e compaixão divina para as nossas fraquezas. Responderei que sim, que há
medicamento pra as nossas enfermidades e socorro celeste para os nossos gemidos,
mas o nosso agradecimento pelos bens recebidos mistura-se à vergonha pelos males
que praticamos; vergonha de haver menosprezado as sugestões da consciência e
enceguecido a razão, a favor dos interesses pequeninos de nosso “eu” desvairado,
contra as possibilidades de aprimoramento e elevação da nossa individualidade
eterna.
Agora compreendo a imposição fatal da lágrima no mundo: o sofrimento é criação
nossa, fogueira constante em que buscamos consumir os resíduos de nossas
imperfeições...
Ó Deus, socorre o entendimento das criaturas, favorecendo-lhes a penetração na
realidade! Ao toque de Teu Amor, o homem reconhecerá, enfim, a grandeza da
Lei!...
A estrada luminosa da evolução e da redenção está aberta.
Bem-aventurados os que a percorrerem, aceitando o obstáculo por lição e a dor
por mestra, porque no dia em que se despedirem da carne terão encontrado, em
verdade, a grande libertação!...
Por: Silvia Serafim, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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