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O desemprego e sua efetiva realidade constitui hoje um flagelo mundial. Já não se trata mais de mera palavra para consulta em dicionários ou de situação distante do cotidiano. Não! Ele já é realidade para grande porcentagem da população brasileira e mundial. É gerado por diversas circunstâncias, entre elas a evolução tecnológica, o despreparo na qualificação profissional, os altos custos operacionais, entre outras causas como a questão principal geradora de todo esse quadro: o egoísmo, cuja abordagem o leitor encontrará nas respostas de nossos entrevistados.
Suas conseqüências são cruéis para a harmonia social e vive-se hoje um grande desafio na conciliação entre o equilíbrio da relação emprego/renda/custos com a irreversível transformação social que estamos vivendo.
Na série de reportagens mensais que temos veiculado pelas páginas desta publicação, expusemos duas questões a dois conhecidos articulistas da imprensa espírita nacional: Octávio Caúmo Serrano, de João Pessoa-PB, e Sonia Theodoro, de São Paulo-SP. Ambos responderam as mesmas questões, propostas pela redação, à luz da Doutrina Espírita, que trazemos em forma de reportagem aos nossos leitores e assinantes.
As questões são:
1 - Como conciliar o desenvolvimento social e tecnológico com o tema
desemprego?
2 - Baseando-se no Evangelho de Jesus e na própria Doutrina Espírita, que
caminhos podem ser seguidos pela humanidade no combate ao flagelo do
desemprego?
Nas respostas de nossos entrevistados, o leitor poderá ampliar seus estudos e reflexões.
Octávio Caúmo respondeu à primeira questão:
O mais sagrado direito do homem é conquistar o progresso como fruto do seu esforço. Por isso, a maior caridade que a sociedade pode prestar a uma pessoa é oferecer-lhe um posto de trabalho para que ela se sustente e cumpra suas obrigações junto aos que dela dependem.
De nada adianta uma economia estável se existe alguém dependendo da esmola, do subsídio, do favorecimento degradante. Em vez de vales, tíquetes ou bônus, o homem quer o direito de trabalhar e um salário justo pelo serviço que presta. O favor só deve ser endereçado àqueles que estão impossibilitados de exercer qualquer atividade. Mesmo o deficiente físico ou visual tem o direito de usar a sua capacidade para realização de alguma tarefa.
Ampliando a questão, nosso entrevistado foi buscar referências na Codificação Espírita e trouxe a seguinte reflexão: Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec dedicou o Capítulo 3 da parte terceira à Lei do Trabalho. Aprendemos que o trabalho dá ao homem, além do sustento material, novos conhecimentos para fazê-lo cada dia melhor. Faz com que aprenda a comandar com bondade e a obedecer com respeito. Na questão 676, diz que o trabalho é um meio de aperfeiçoamento de sua inteligência.
Sugerimos aos leitores consulta mais detalhada às referências feitas por Caúmo.
Na segunda questão, Caúmo usa toda a lógica da proposta espírita para embasar seus pensamentos:
O desemprego é uma chaga nascida da incompetência dos que governam.
Para que o desemprego desapareça são necessárias certas providências. Entre elas, que se ofereçam possibilidades de crescimento moral e profissional às pessoas. Facilitar ao jovem o acesso à escola, permitir-lhe a boa saúde e dar-lhe a oportunidade de iniciar-se num emprego ou numa profissão, para crescer.
Os comentários que aqui fazemos são óbvios e não têm novidade. Mas é importante não nos iludirmos na busca de facilidades, esperando protecionismo dos governos. Eles estão por demais comprometidos com seus cargos e postos, que tentam perenizar. Uma vez no cargo, não cogitam mais de deixá-lo.
A solução do desemprego está na solidariedade entre as criaturas, com a diminuição da ganância. E aos que têm mais recursos cabe a maior responsabilidade no equilíbrio das nações. Caso contrário, todos sofreremos. Recordemos John F.Kennedy: “Se os poucos que são ricos não ajudarem a viver os muitos que são pobres, os muitos que são pobres não deixarão viver os poucos que são ricos”. A mídia mostra diariamente esta dura, mas triste realidade!
Os quatro parágrafos da resposta mostram, com clareza, os equívocos de nosso tempo. Especialmente o 4o parágrafo não deixa dúvidas quanto à realidade dos tempos hoje vividos. Os pensamentos e posturas atualmente vigentes não encontram eco na proposta apresentada pelos Evangelhos, que convida ao amor, à solidariedade e ao fortalecimento mútuo da sociedade, justamente por estarem ainda sob influência do sentimento que origina todos os demais males humanos: o egoísmo, conforme indicação dos próprios espíritos na resposta à questão 913 de O Livro dos Espíritos.
Sonia Theodoro, todavia, respondeu de forma única às duas questões apresentadas, formulando um único raciocínio no seguinte texto:
O flagelo “desemprego” não está somente no Brasil, mas no mundo. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia são extremamente necessários, a fim de minimizar o desgaste físico, mental e emocional de algumas funções profissionais ligadas principalmente às industriais e prestação de serviços, como aquelas de esforço repetitivo e insalubridade. Por outro lado, o desemprego em si mesmo continua a gerar insatisfação, sentimentos de derrota e de perda de auto-estima no indivíduo, o que leva muitas vezes à violência contra si mesmo e à sociedade. No entanto, ainda assim vemos com olhos positivos o progresso tecnológico, à medida em que há estimulação à busca de novos conhecimentos e especializações. O que, parece-nos, ainda não temos é a perfeita adequação desse progresso às carências sociais de nosso país. No caso do Brasil, são poucos os empresários comprometidos com a Responsabilidade Social e as aspirações de seus empregados e comunidade onde a empresa se situa. Já temos gratos exemplos dessa interação, que busca disseminar o bem-estar e o incentivo profissional, criando condições a que o/a profissional se qualifique cada vez mais, contribuindo com o crescimento de seu núcleo social e familiar.
Por outro lado, o caso do Rio de Janeiro é típico. Há uma massa de trabalhadores profissionalmente desqualificada à mercê de lideranças do tráfico que sabem como desenvolver e manter a dependência dessa população às suas iniciativas, estimulando as suas carências a seu próprio benefício. Mais trabalho onde o cidadão, a cidadã pudessem dar vazão à sua criatividade, mais oportunidades, identificação e aproveitamento das tendências profissionais inatas. Neste mister, um trabalho multidisciplinar aliado a saneamento, urbanização e educação ambiental, ajudariam sobremaneira. O que ainda falta é vontade política e empresarial, e ausência de iniciativa nas exigências da população na cobrança dos seus candidatos eleitos, no pleno exercício da cidadania democrática baseada em direitos e deveres. Os programas coletivos (ONGs) e/ou governamentais parecem alavancar apenas após o acontecimento de grandes tragédias.
O raciocínio da entrevistada levou também às considerações sobre o egoísmo e seus cruéis e desumanos descendentes:
Menos egoísmo, mais altruísmo, e, neste caso, maior competência organizacional, que poderia estar canalizando esse imenso potencial por ora perdido. As comunicações espirituais dos Benfeitores da Humanidade, no Brasil, nos alertam quanto às conseqüências desastrosas dos problemas sociais não resolvidos. Também Bezerra de Menezes, quando deputado pelo Rio de Janeiro, já alertava, em fins do século dezenove, quanto ao problema da população abandonada à própria sorte e que já começava a habitar as encostas dos morros cariocas (veja-se os Anais da Câmara dos Deputados daquele Estado). No caso de São Paulo, província transformada em metrópole em apenas um século, não é menos diferente. Precisamos o quanto antes aliar Conhecimento e Ética, o que equivale dizer Tecnologia e Evangelho, sem o qual estaremos gerando problemas extremamente complexos a curto, médio e longo prazo.
Nossa convidada chegou a propor soluções:
Para o Brasil e o mundo, a solução sempre estará:
1) nos fatores educacionais que encaminhem o indivíduo ao pleno desenvolvimento de suas faculdades inatas;
2) no ensino da Ética e da Moral nas Escolas e Universidades (pois são valores universais);
3) na conscientização de empregados e empregadores de que a sociedade não deve canalizar todos os seus esforços para o consumismo desenfreado e destruidor, mas para a realização de valores intrínsecos ao ser humano;
4) na humanização das relações empregador-empregado, e vice-versa.

A questão toda, como vimos, exige seriedade de governantes e lideranças. É assunto a ser amplamente discutido e debatido para busca de novas alternativas e soluções onde a prioridade é a segurança e a harmonia social.
Concluímos com citações de Léon Denis, também lembradas por Sonia:
Léon Denis diz em “Socialismo e Espiritismo”, págs. 43, 47 e 49 – Ed.O Clarim:
“O Espiritismo é o Socialismo etéreo baseado nas regras absolutas da justiça e nas leis da consciência e da razão. Seus princípios são imutáveis; eles apontam para a humanidade o caminho do dever através do qual ela alcançará a verdadeira luz, a plenitude de sua liberdade e direitos.”
“Uma nação sem ideal, sem objetivo elevado é rapidamente reduzida ao pó.”
“A sociedade terrestre, para prosseguir a sua evolução, deve renunciar ao materialismo que é insuficiente e apoiar-se, a partir de agora, sobre essa noção mais vasta das existências sucessivas do ser e de uma vida universal regida por leis de eqüidade e harmonia.”


Por: Redação da RIE, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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