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Bené é de uma família de gordinhos e, apesar de ser comportado, estudioso, cumpridor dos seus deveres, bom e leal amigo, é alvo de gozação de seus colegas, que o chamam : Bolo Fofo, Bujão de gás, Jarrão, Bolota, etc, etc.
Bené fica triste com essas brincadeiras mas nada diz, sabe que demonstrar o seu aborrecimento será pior, aí é que os apelidos aumentam.
Em casa, come pouco, faz ginástica, usa o moderador de apetite receitado pelo médico e segue à risca o que está escrito na lista do que ele pode e do que não pode comer.
Faz tudo direitinho, mas se está perdendo alguns gramas, não dá para notar.
Neste ano Bené começou a freqüentar as Aulas de Evangelização (clico intermediário) num Centro Espírita perto de sua casa. Está empolgado! Todo domingo aprende algo novo sobre Jesus, e sobre Doutrina Espírita. E a tia Sônia, a evangelizadora explica tudo tão bem!
Os ensinamentos recebidos estão lhe ajudando a ser mais tolerante, e já não sofre como antes com a gozação dos colegas na escola.
As rias de julho chegaram ... Bené, como faz todos os anos, está indo para a fazenda dos tios Lilito e Lázara, sem se esquecer de colocar na sacola o seu livro predileto “ O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Na fazenda dos tios, que beleza! Muito espaço, muita água, um belo pomar com as mais variadas frutas, cavalos mansos para se montar e, pela manhã, o delicioso leite da “Malhada”, quentinho, tirado na hora! Mas o melhor de tudo é a companhia dos primos, os gêmeos Olavo e Alceu, ótimos companheiros de folguedos, quase da sua idade, apenas um ano mais novos.
Dessa vez havia mais novidades : tio Lilito havia comprado um televisor e um vídeo- game. Essas rias seriam inesquecíveis ...
O dia foi cheio. Visita aos bezerrinhos recém-nascidos, pescaria e banho no rio, que em suas águas placidamente refletia o céu de anil, e que fazia divisa da fazenda “Boa Esperança”.
Por isso logo após o jantar os garotos foram para o quarto de dormir.
Como fazia habitualmente desde que começara a freqüentar a Escolinha da Evangelização, Bené apanhou a Evangelho, leu algumas páginas, colocou-o depois sobre o criado próximo à sua cama, e desejando uma boa noite aos primos e deitou-se logo adormeceu.
Os dois meninos estranharam o comportamento de Béne, e, depois que ele dormiu, levantaram-se devagarinho para não acordá-lo, apanharam o livro no criado, e foram para a sala para examiná-lo.
Alceu, admirado, exclamou:
- Olha só é, um livro espírita!
Olavo, não queria acreditar...
- Não é possível! Nosso primo lendo essas coisas, elas são do “diabo”!
Não foi assim que o padre João ensinou ? Credo! Vamos colocar esse livro no mesmo lugar, sem desmarcar a página, “A porta estreita”.
E assim fizeram, colocaram o livro no criado, correram para suas camas, cobriram suas cabeças e logo adormeceram.
Na manhã seguinte, após tomarem o ca com leite, comerem bolo de fubá e os deliciosos biscoitinhos feitos por D. Lázara, as crianças saíram para um passeio.
Olavo lembrou-se de levar alguns estilingues, poderiam matar passarinhos.Alceu gostou da idéia:
-Vai ser divertido !
Mas Bené dispensou o estilingue; ele não pretendia ferir nem matar nenhuma criaturinha de Deus.
Os primos se entreolharam espantados. Nas rias passadas Bené participava daquela ¨brincadeira¨ e agora...
Resolveram então apostar corrida a cavalo. Nisso os três estavam de acordo. Foram até ao estábulo e pediram ao Sr. Fausto, o caseiro, que preparasse três cavalos mansinhos para eles, no que foram atendidos.
Galoparam por toda ¨Boa Esperança¨ e regressaram alegres, suados e famintos, quando o almoço já estava pronto.
Aproveitando a ausência de Bené, que fora se lavar antes de irem para a mesa, os gêmeos combinaram deixá-lo em má situação perante os tios, durante a refeição.
A comida cheirosa e quentinha era um convite irresistível, e os meninos trataram de encher bem os seus pratos, já de “olho” na sobremesa, doces dos mais variados, queijos, frutas deliciosas e fresquinhas!
Difícil era escolher...
Quando estavam terminando de almoçar, Olavo perguntou:
- Bené, que estória é aquela de ¨Porta estreita¨que você está lendo NAQUELE LIVRO?
- Ah! Você se refere ao Evangelho de Jesus, cap. XVIII ¨Muitos os chamados, poucos os escolhidos¨, respondeu o menino. E continuou... A porta estreita é aquela que devemos preferir, é a porta da vida. Mas, para passar por ela, temos que nos preparar, fazendo uma reforma íntima, isto é, corrigindo as nossas más tendências. Respeitando as Leis de Deus, respeitando a sua criação. Temos que procurar entender as pessoas e perdoá-las quando nos ofendem e nunca revidar o mal.
Não é fácil, por isso muitos são chamados e poucos são escolhidos .
Os tios ficaram agradavelmente surpreendidos e impressionados com a explicação do menino.
Mas os primos, querendo confundi-los, insistiram:
– Mas como, Bené, você tão gordinho pretende passar por essa porta estreita? – perguntou Alceu.
– Haverá algum regime especial para isso? – questionou Olavo.
Bené, com os olhinhos brilhando de emoção, respondeu prontamente:
Há sim, queridos primos, é o REGIME MORAL, que eu estou tentando fazer; e vou conseguir, SE DEUS QUISER.


Por: Luzia Santiago - O Clarim, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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A Porta Estreita: por Luzia Santiago - O Clarim

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