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"A porta entre nós e o céu não poderá abrir-se enquanto esteja cerrada a que fica entre nós e o próximo".
Veratour.

O desemprego é um dos grandes fantasmas que assombram o ser humano. Atualmente chega a ser um dos grandes problemas mundiais. Quer nos países ricos como nos chamados países do terceiro mundo, o fenômeno do desemprego está presente. Vive-se um conflito interessante: o número de empregos não cresce na mesma proporção do número de pessoas que estão aptas a ingressar no mercado de trabalho. Fala-se em 800 milhões de desempregados no mundo todo, cifra correspondente a cerca de 14% da população mundial.
Porém, para os trabalhos voluntários e logicamente não remunerados, vive-se um fenômeno oposto. O número de ofertas é muito superior ao número de candidatos. Há vagas sobrando em todos os setores do serviço social. Nas creches e orfanatos, crianças carentes aguardam o que muitas vezes sobra em nossa casa e cujo destino é a lata de lixo; aquelas roupas trancadas em nossos armários, que já não usamos há tempo e que hoje apenas sevem de repasto às traças. Mas, se não possuímos bens materiais, as mesmas crianças esperam pelo nosso sorriso, pelo nosso afeto, pelo nosso carinho.
Nos hospitais, inúmeros doentes anseiam por uma visita, ainda que de alguém desconhecido. Esperam por uma palavra amiga, por alguém que possa amenizar suas dores.
Nos asilos, irmãos em término de jornada aguardam também por uma simples visita, principalmente aqueles que foram esquecidos por seus familiares.
Nos albergues, andarilhos da vida almejam receber um prato de sopa numa noite fria, um banho ou alguém que lhes dê um pouco de atenção.
Certa feita, estava na Casa Transitória Fabiano de Cristo, em São Paulo, e quanto de lá me retirava, de carro, notei a presença de um senhor de avançada idade, todo curvado, que parecia tomar o mesmo rumo para o qual me dirigia. Condoído com aquela situação, parei o carro e indaguei àquele senhor qual o destino dele. Respondeu-me que iria pegar um ônibus na Av. Celso Garcia. Então, ofereci-lhe uma carona, no que ele concordou prontamente. Entrou no carro com alguma dificuldade física e logo entabulamos conversa. Respondendo às minha indagações, me disse que era voluntário da Casa Transitória desde a sua fundação e que todos os sábados pela manha, havia mais de 30 anos, dedicava-se aos serviços de contabilidade daquela abençoada instituição espírita.
Fiquei surpreso, pois a minha primeira impressão foi de que ele era um dos inúmeros assistidos da casa. Quando chegamos ao ponto do ônibus, perguntei qual era o seu destino. Disse-me que iria até o Hospital do Tatuapé. Pensando que estivesse com algum problema de saúde, prontifiquei-me a levá-lo. Ele aceitou a prolongação da carona e me disse que iria ao hospital, tal como fazia todos os sábados à tarde, trabalhar como voluntário. Tomado de novo impacto, perguntei-lhe que espécie de serviços prestava: disse-me, com muita simplicidade, que havia muito trabalho a ser feito naquele hospital, desde conversar com os doentes, transmitindo-lhes palavras de carinho e conforto, como também auxiliar enfermeiros, empurrando macas, segurando o frasco do soro, enfim, pequenas tarefas de auxílio aos enfermos.
Já estava envergonhado. Eu, com o meu corpo perfeito, em plena juventude, podendo desfrutar de um carro, ainda encontrava muita dificuldade em prestar algum tipo de auxílio ao próximo. Chegando ao hospital, já nas despedidas, disse-lhe que poderia mesmo se intitular um verdadeiro espírita. Mas qual não foi a minha outra surpresa ao saber que ele não era espírita.
Afirmou que era católico praticante, que ia à missa todos os domingos e que nutria afeição pelo trabalho social espírita. Despediu-se, dizendo:
"Os necessitados estão em toda parte e o Cristo não nos pede qualquer bandeira religiosa para servir".
Basta o desejo sincero de trabalhar em favor do próximo, nosso irmão do caminho. Afinal, quem garante que amanha não seremos nós que estaremos num hospital, um asilo, num albergue? Disse-nos o Cristo: "Façam aos outros aquilo que gostariam que fizessem a vocês". É por isso que a nossa felicidade não pode ser construída à custa da infelicidade dos outros. Os espíritos superiores nos trouxeram o esclarecimento de que fora da caridade não há salvação, e nós complementamos dizendo que fora da caridade não há felicidade.
Aquele bom velhinho fazia a sua parte. Não estava ocioso, inativo. Trabalhava, sem escolher o lugar, sem preconceito religioso. Ele é um homem feliz.
Vamos arregaçar as mangas?


Por: José Carlos de Lucca, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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