
Na Oração, por Emmanuel
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O mundo político e social do Ocidente encontrava-se exausto.
Desde as pregações de Pedro, o Eremita, até a morte do Rei Luís IX, diante de
Túnis, acontecimento que colocara um dos derradeiros marcos nas guerras das
Cruzadas, as sombras da idade medieval confundiram as lições do Evangelho,
ensangüentando todas as bandeiras do mundo cristão.
Foi após essa época, no último quartel do século XTV, que o Senhor desejou
realizar uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos
de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.
Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado
outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas
cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias,
clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração
luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão dos
seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros,
o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias
da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos
espinhos da ingratidão e do egoísmo.
Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão
procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face
do orbe terrestre. No coração da Umbria haviam cessado os cânticos de amor e de
fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de
carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam
descido outra vez das selvas misteriosas das iniqüidades humanas, roubando às
criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.
— Helil — disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros,
encarregado dos problemas sociológicos da Terra — meu coração se enche de
profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições
do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos
tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como
irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como
Cains desvairados.
— Todavia — replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a
impressão dolorosa e amarga do Mestre — esses movimentos, Senhor, intensificaram
as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para
aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências penosas; novas
utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as
fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os
príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a
nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.
Mas — retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro — qual o lugar da Terra
que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditas que sejam,
paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era
preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na
Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de um soldado, numa guerra
incompreensível por minha causa, que, em todos os tempos, deve ser a do amor e
da fraternidade universal. E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios
do porvir, continuou:
— Infelizmente, não vejo senão o caminho do sofrimento para modificar tão
desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas poderosas e,
depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os embates da ambição
e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte.
A amargura divina empolgara toda a formosa assembléia de querubins e arcanjos.
Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com
brandura e humildade:
— Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma
felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes infortúnios
coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples
aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes
oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e
da liberdade.
E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços,
encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo americano.
O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as aves lhe
homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos, as flores se
inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas sendas. O
perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia, impregnando todas
as coisas de um elemento de força desconhecida. No solo, eram os silvícolas
humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu largo potencial de
energia e bondade.
Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando a beleza do
sublimado espetáculo.
— Helil — pergunta ele — onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do
qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?
— Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se vêem, no mundo, as homenagens
dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul. E, quando no seio
da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas
dos orbes felizes, na presença do Cordeiro, as maravilhas daquela terra nova,
que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas
rutilantes, no jardim das constelações de Deus, o mais imponente de todos os
símbolos.
Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os
elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:
— Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu
Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os
povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão
entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial.
Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais
trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam
transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o
velho do novo mundo.
Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa,
glorificando os seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento
simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e,
mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no
sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das
regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno
que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos
gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz,
ficará localizado o coração do mundo! Consoante a vontade piedosa do Senhor,
todas as suas ordens foram cumpridas integralmente.
Daí a alguns anos, o seu mensageiro se estabelecia na Terra, em 1394, como filho
de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, e foi o heróico Infante de Sagres, que
operou a renovação das energias portuguesas, expandindo as suas possibilidades
realizadoras para além dos mares. O elemento indígena foi chamado a colaborar na
edificação da pátria nova; almas bem-aventuradas pelas suas renúncias se
corporificaram nas costas da África flagelada e oprimida e, juntas a outros
Espíritos em prova, formaram a falange abnegada que veio escrever na Terra de
Santa Cruz, com os seus sacrifícios e com os seus sofrimentos, um dos mais belos
poemas da raça negra em favor da humanidade.
Foi por isso que o Brasil, onde confraternizam hoje todos os povos da Terra e
onde será modelada a obra imortal do Evangelho do Cristo, muito antes do Tratado
de Tordesilhas, que fincou as balizas das possessões espanholas, trazia já, em
seus contornos, a forma geográfica do coração do mundo.
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