Ensinar, por Espíritos Diversos
Você Está Sorrindo
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Neste báratro em que estamos vivendo, quando os valores éticos e morais,
tanto quanto os sentimentos de beleza e compreensão, parecem haver desaparecido,
vale a pena recordarmos de que há muita lição de vida chamando-nos à ordem e ao
amor.
Recordo-me de uma cena que me foi narrada por uma querida amiga, que se passou
numa feira livre em Porto Alegre. Subitamente uma senhora, que se dizia
empregada doméstica, começou a chorar e a lamentar-se: – Que será de mim? Fui
roubada... A carteira com dinheiro da feira desapareceu e a patroa não
acreditará em mim...
Houve uma consternação em seu entorno. Nesse momento, um pivete, como eram
chamados então, os meninos de rua, gritou, exultante: – Calma, senhora! Eu achei
a sua carteira... E a entregou. A senhora, ainda em lágrimas, examinou o
conteúdo e após disse: – É uma pena eu não poder recompensá-lo, porque este
dinheiro não é meu. O garoto, que fora certamente o usurpador, respondeu,
jovial: – Não precisa, você está sorrindo...
Não há muito, numa cidade da África do Sul, sucedeu-me algo muito curioso.
Descemos com os amigos para o desjejum e subitamente ouvi uma voz pedindo-me
para abraçar um garçom. Relutei, achando estranha a solicitação. Quando, porém,
ele se acercou de mim, pedi-lhe algo especial e ele disse que o faria. Naquele
instante eu o abracei. Tomado de susto, ele tentou desembaraçar-se e
perguntou-me, intrigado: – Por que o senhor me está abraçando? Eu respondi-lhe
com tranquilidade: – Em razão da sua gentileza. Ele, então, acrescentou: – Mas
eu sou pago para isso... Eu sorri e nada mais acrescentei.
O meseiro serviu-me, conforme eu havia solicitado, e depois indagou-me pelo meu
nome, etc. Respondi-lhe com bonomia.
No dia seguinte, não desci ao desjejum e ele perguntou aos amigos por que eu não
o havia feito. Explicaram que eu estava com indisposição estomacal.
De imediato ele foi ao nosso apartamento levando chá, torradas e bolachas, sem
que fossem solicitados. Estranhei, mas pedi-lhe para entrar. Sugeri que se
sentasse. Logo depois, ele voltou a perguntar-me qual a razão do meu gesto. Após
explicar-lhe, ele me elucidou: – Não mais existe aqui legalmente o apartheid. No
entanto, ele permanece. Eu tenho 42 anos e nunca nenhum branco deu-me a mão,
quanto mais abraçar-me. Sempre fui visto como uma coisa, um lixo... Mas ontem
senti-me gente e quero agradecer-lhe. Narrou-me a sua história, o câncer de
próstata que estava padecendo e programando suicidar-se… Ante o abraço recebido,
ele sentiu-se cidadão, gente, e iria lutar.
No dia seguinte, quando eu estava de saída, ele veio agradecer com a família, e
eu lhe respondi: – Não é necessário nada. Você está sorrindo!
Façamos alguém sorrir hoje!
Por: Divaldo Franco, Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, de 21 de março de 2019. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=564
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