Ensinar, por Espíritos Diversos
Auto-Imagem e Felicidade
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A idéia de que Deus possa criar seres imperfeitos, parece
contrariar os atributos do Criador, dentre eles o da infinita perfeição, além de
colocar em dúvida toda a harmonia que rege o Universo, do micro ao macrocosmo.
Particularmente, deixo-me convencer pela infinita perfeição do Criador,
especialmente quando observo as forças da natureza agindo dentro e fora do
homem, com uma harmonia e singularidade que jamais seriam atingidas se não
fossem concebidas por uma Inteligência Suprema. Talvez a nossa dificuldade em
perceber essa perfeição cósmica esteja relacionada à nossa inconsciência acerca
da vida e de seus "mistérios", o que justifica a razão maior do processo
reencarnatório: "Tomarmos consciência da vida - em nós".
Pacificando o tema, a questão 114 de O Livro dos Espíritos esclarece que "o
espírito é criado simples e ignorante, ou seja, sem a consciência de si mesmo" e
de sua universalidade, que será "revelada" à medida de sua evolução, através de
suas experiências reencarnatórias. A partir dessas considerações, podemos
concluir que o espírito é um ser perfectível - suscetível de ser aperfeiçoado -
pois carrega consigo o gérmen da perfeição como uma herança natural.
Assim, quando apontamos ao mundo nossas supostas imperfeições, não estamos
apenas chamando de imperfeito o Criador, mas também estamos contribuindo para
uma auto-imagem - forma como nos visualizamos - negativa e distorcida de nós
mesmos, principalmente porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Ora,
do absolutamente perfeito não pode advir a imperfeição!
Na literatura espírita, inclusive, comumente encontramos colocações como: "Eu
sou imperfeito!", "Preciso combater minhas imperfeições!", "O homem será feliz
somente quando deixar de ser imperfeito!". São expressões que somente reforçam
uma crença negativa a respeito de nós mesmos, afastando-nos da nossa beleza e
harmonia interior. Realmente, não há como desfrutar a sensação de bem-estar
diante de uma auto-imagem tão dilacerada.
Segundo o espírito Lourdes Catherine, no livro Conviver e Melhorar, a beleza não
está na flor, mas sim nos olhos de quem a vê, ou seja, a beleza ou a inadequação
está nos olhos do observador. Daí porque entendo que a meta de toda psicoterapia
é mudar a imagem que o indivíduo tem de si mesmo.
Nossa auto-imagem estaria mais próxima da realidade se observássemos os nossos
"pontos fracos", como por exemplo: o ciúme, a insegurança, a indisciplina, a
gula, a timidez, o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a raiva, etc., não como
defeitos de caráter ou de personalidade, mas sim como áreas da nossa vida com as
quais ainda não sabemos lidar de uma forma tranqüila, e que, por isso, merecem a
nossa atenção e cuidado, muito mais do que repreensão e punição.
Quanta tortura e martírio impingimos a nós mesmos diante da luta que travamos
para "arrancar", "destruir" os nossos "supostos defeitos", como se isso fosse
possível. Conforme esclarece o princípio de Lavoisier: "Na natureza nada se
cria, nada se destrói, tudo se transforma". Somos, por assim dizer, natureza
divina e não há nada em nós a ser criado ou destruído, apenas a ser
transformado. Aliás, surge daí a expressão "transformação interior": trans -
mudança; forma - da forma; ação - através da ação, significando mudança da forma
através da ação. Por isso, o nosso orgulho não precisa ser arrancado ou
destruído, apenas precisa ser transformado; o nosso ciúme não precisa ser
arrancado ou destruído, apenas precisa ser transformado; o mesmo acontecendo com
tudo aquilo que reportamos como defeituoso ou inadequado em nós. Eis aí a razão
maior da reencarnação: "Tomarmos consciência da vida - em nós!".
Essa postura diante de nós mesmos, qual seja, a de nos visualizarmos como
criaturas dotadas de talentos e potencialidades inatas a serem desenvolvidas,
representa um ato de amor que se encaixa perfeitamente no mandamento divino:
"Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo!". O amor em
relação ao próximo nasce em nós, e se torna difícil vivenciá-lo quando estamos
tão presos em supostos "defeitos" e "imperfeições" que carregamos, como se
fôssemos produtos com defeitos de fábrica. Esse padrão mental obstrui o canal da
felicidade, além de nos afastar da agradável companhia de nós mesmos, já que
ninguém gosta de estar ao lado de algo ou pessoa "defeituosa".
Você já notou que quando está bem consigo mesmo as outras pessoas se tornam mais
gentis com você? É até engraçado ver a mudança no comportamento delas!
Em verdade, o mundo exterior é um reflexo de nós mesmos, da nossa essência
interna. Quando nos depreciamos, depreciamos tudo mais. Quando amamos o que
somos, o restante do mundo fica maravilhoso!
Nossa auto-imagem é o pano-de-fundo que determina a maneira como iremos nos
comportar, os atos e atitudes que tomaremos em dada situação. Cada pensamento e,
por conseguinte, cada ação advêm do modo como vemos a nós mesmos.
Essa auto-imagem é colorida pelas nossas experiências, por nossos sucessos e
fracassos, pela influência dos modelos perfeitos criados pela sociedade, pela
religião, educação, etc.
Podemos vislumbrar nossa auto-imagem quando olhamos as pessoas que nos cercam,
pois, em verdade, travamos relacionamentos com pessoas que nos tratam da maneira
como acreditamos que merecemos ser tratados. Pessoas com uma auto-imagem
saudável exalam respeito daqueles que as cercam. Elas tratam bem a si mesmas,
estabelecendo um exemplo do modo como os outros devem tratá-las.
Na posse de uma auto-imagem negativa, confrontamo-nos com maus tratos e
aborrecimentos, vindos de todos os lados. Lá no íntimo, em nosso subconsciente,
ocorrem pensamentos do tipo: “Eu não sou importante mesmo...”, “Sou apenas eu” e
“Sempre me trataram mal mesmo. Talvez eu mereça”.
Mas, até quando nos manteremos presos a esse tipo de comportamento?
A resposta é: Será assim enquanto mantivermos uma opinião distorcida a respeito
de nós mesmos.
Se há respeito próprio, todos seguem fazendo o mesmo, respeitando-nos! Imagino
que todos conheçam casos de pessoas que, por possuir em uma auto-imagem
negativa, vivem mudando de um relacionamento desastroso para outro. Geralmente,
o parceiro é um fracassado convicto ou tem problemas relacionados ao álcool, por
exemplo. Entretanto, elas se vêem como vítimas de abuso, tanto físico quanto
emocional. Infelizmente, esse padrão continuará a se repetir enquanto elas
persistirem com o mesmo conceito equivocado a respeito de si mesmas.
Nosso comportamento subconsciente e nossas programações subconscientes estão
interligados ao conceito que temos de nós mesmos. Quando estamos nos sentindo
mal a nosso próprio respeito, por exemplo, tendemos a descontar a insatisfação
em nós mesmos. Isso pode se manifestar de várias formas, tais como: surtos de
comilança de “besteiras”, acidentes, doenças, concessões exageradas ao álcool ou
às drogas, privação de comida, etc. Isso não é necessariamente um ato
consciente. O fato é que o modo como nos tratamos é um reflexo de quanto estamos
gostando de nós mesmos em um determinado momento.
Há evidências que sugerem até que as pessoas que sofrem acidentes
automobilísticos costumam estar se sentindo mal consigo mesmas naquele período.
O acidente parece ser parte de uma punição subconsciente. Daí decorre a
necessidade de mantermos um padrão mental positivo e saudável.
Quando na postura de uma auto-imagem negativa dizemos: “Eu não mereço” ou quando
surgem oportunidades animadoras ou a possibilidade de aprender algo novo e
interessante e buscamos encontrar razões, sejam elas conscientes ou
subconscientes, para não aproveitá-las, estamos sabotando subconcientemente a
própria felicidade.
O primeiro passo para um grande aprimoramento em nosso desempenho é a mudança do
modo como pensamos e falamos a nosso próprio respeito. Quem aprende devagar pode
começar a aprender depressa assim que mudar de opinião sobre a própria
capacidade. Por isso, podemos criar nossa qualidade de vida, baseando-nos em
nossa própria auto-imagem de felicidade. Isso quer dizer que podemos decidir
qual é a nossa própria auto-imagem e determinar o nosso próprio valor.
Nossa auto-imagem determina o nosso foco, ou aquilo que permitimos que nós
mesmos pensemos. Uma boa auto-imagem permite que nos concentremos nos elogios
que nos dispensam e nos sucessos que dispensamos. Isso não deve ser confundido
com convencimento. Certa vez, alguém disse: “O convencimento é uma doença
esquisita. Ela deixa todo mundo doente, menos a pessoa que a contrai”. Ser
egoísta é algo completamente diferente de amar a si próprio de forma saudável.
Precisamos diferenciar o amor-próprio bem equilibrado do egoísmo. As pessoas com
ego inflado têm a necessidade de ser o centro das atenções, são desesperadas por
reconhecimento e se preocupam pouco com aqueles que as cercam. Por outro lado, o
amor-próprio bem equilibrado nos habilita a respeitar nossos próprios desejos,
bem como os desejos dos outros. Isso significa podermos sentir orgulho de nossas
conquistas sem a necessidade de fazer propaganda delas, o que significa podermos
também aceitar nossas falhas enquanto nos empenhamos em não repeti-las.
Amar a si mesmo de maneira saudável significa não termos o impulso de nos
justificar perante alguém quando vamos sair de férias, quando dormimos até
tarde, quando compramos sapatos novos e quando fazemos concessões a nós mesmos,
de tempos em tempos. Significa nos sentirmos satisfeitos em tomar atitudes que
acrescentem beleza às nossas vidas.
Podemos aceitar a idéia de que não existe essa coisa chamada: “complexo de
superioridade”.
Quando apreciamos nosso valor de maneira genuína, não há necessidade de dizer ao
mundo quanto somos bons. Apenas a pessoa que não se convenceu do próprio valor é
que se preocupa em informar o restante da humanidade sobre sua importância.
Podemos admitir também que não há problema em aceitar um elogio quando o
recebemos. As pessoas bem-sucedidas fazem isso. Elas admitem que é saudável
reconhecer um trabalho bem feito.
Se parabenizarmos uma pessoa de sucesso após uma palestra, ela não dirá “Não foi
nada” ou “Foi sorte”. A resposta será: “Obrigado!”. Se parabenizarmos um famoso
e talentoso cantor, por seu novo sucesso nas paradas, jamais o ouviremos dizer:
“Você está louco, aquela música é um lixo!". Ele apenas dirá: "Obrigado!".
Ninguém é valorizado, se não se valoriza. Ninguém é respeitado, se não se
respeita. Ninguém é amado, se não se ama. Ninguém é compreendido, se não se
compreende. Compreender esses princípios de vida é fundamental para aqueles que
desejam uma vida mais genuína e autêntica, com mais realizações e felicidade.
Lembramos, por fim, que a imortalidade do espírito o coloca na transitoriedade
da vida para extrair de cada experiência lições valorosas que possam levá-lo ao
desconhecido de si mesmo e desnudá-lo face ao encantamento da vida. Portanto,
não somos nada! Apenas "estamos" vivenciando profissões, "status", papéis
sociais, etc., cujas experiências visam proporcionar ao espírito uma maior
lucidez, para um dia compreender de fato qual é a sua história.
Por: Silvio Carlos - Revista Delfos, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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