Em Louvor da Caridade, por Fabiano de Cristo
A Verdade dos Outros
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No primeiro
dia de aula, o professor trouxe um vidro enorme:
Isto está cheio
de perfume. — Disse aos alunos.
Quero medir a percepção de cada
um de vocês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão.
E
abriu o frasco. Num instante, havia duas mãos levantadas. E logo cinco,
dez, trinta, todas as mãos levantadas.
Posso abrir a janela,
professor? — Suplicou uma aluna, enjoada de tanto perfume. Outras vozes
fizeram eco.
O forte aroma, que pesava no ar, tinha se tornado
insuportável para todos.
Então, o professor mostrou o frasco aos
alunos, um por um: estava cheio de água. Eles não podiam acreditar no
que acabara de acontecer...
Até quando vamos comprar verdades com
tanta facilidade assim?
Isso já nos levou a tantos desastres...
Ao invés de encontrar as nossas próprias verdades, o nosso próprio
entendimento a respeito das coisas, preferimos, por ignorância ou
comodismo, acreditar nas verdades dos outros.
Dessa forma,
tornamo-nos uma massa facilmente sugestionável, manipulável, facilmente
fascinável por essa ou aquela ideia, por mais absurda que possa ser.
Divulgamos boatos apenas por ouvir dizer e condenamos pessoas, após
ter escutado apenas um lado, destruindo vidas inconsequentemente, pelo
descuido com o verbo.
Desenvolvemos um prazer tolo pela fofoca
que, em muitos casos, se torna um vício deveras perigoso, para quem a
divulga e para quem é alvo dos comentários jocosos.
Somos capazes
de construir nossas próprias verdades, nosso próprio entendimento sobre
as coisas da Terra e do céu.
Mesmo no campo religioso precisamos
aprender a associar a fé à razão, para que ela não seja construída em
bases frágeis – a fé cega.
Fé raciocinada é sinônimo de
segurança. Somente crer depois que compreendermos, depois que fizer
sentido dentro de nós, e não porque Fulano ou Beltrano falou, ou porque
está escrito aqui ou ali.
Quando ouvimos falar sobre
fundamentalismo religioso nos assustamos, mas, muitas vezes, esse tipo
de prática está mais próxima do que imaginamos e, em outras esferas de
nossa vida, quando fazemos as coisas sem refletir sobre elas, apenas
porque sempre foi assim.
Por isso, prestemos muita atenção em
nossas existências, se não estamos comprando verdades prontas dos
outros, sem que elas façam sentido em nós.
Se não estamos
acreditando nisso ou naquilo apenas por dizer, ou apenas por acreditar,
por ser cômodo, ou por não ter nada melhor para crer.
Não podemos
mais agir como uma massa sem cérebro, que é facilmente seduzida por
novidades, por ideias esdrúxulas ou por promessas fantásticas.
Se
desejamos mudar nossos líderes, mudemos a nós mesmos primeiro e nos
tornemos capazes de escolher melhor os que nos representam nessa ou
naquela posição.
Finalmente, tenhamos cuidado com nosso verbo,
para que nossa verdade não seja também imposta ao outro com violência.
Todos têm o direito de pensar, de escolher, de raciocinar.
Cada
um tem o direito e o dever de ter a sua verdade. Respeitemo-nos.
Respeitemos a verdade de cada um.
Por: Momento Espírita, Redação do Momento Espírita, com base no cap. Celebração da desconfiança, de O livro dos abraços, de Eduardo Gaelano, ed. LPM. Do site: http://momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4169&stat=0
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