O Regresso de Simão Pedro, por Maria Dolores
A Lenda das Duas Tílias
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Conta-se que no pórtico da cidade de Listra, na Velha Grécia,
havia duas tílias plantadas.
Os ramos das imensas árvores se enroscavam uns aos outros, parecendo uma única
copa dotada de dois troncos.
Um dia, um ilustre visitante passou por ali e quis saber sobre as árvores de
galhos entrelaçados.
Viu, perto dali, uma mulher da região que recolhia água de um velho poço, e lhe
perguntou sobre as árvores singulares.
A mulher, sentindo-se homenageada pela curiosidade do estrangeiro, deteve-se e
começou a contar:
“Dizem senhor, que nos idos tempos da Licaônia, depois que os deuses a
construíram, resolveram vir visitá-la para saber se as coisas aqui estavam
correndo bem.
Dois desses deuses: o pai dos deuses, Júpiter e o seu auxiliar direto, Mercúrio,
se transformaram em pessoas humanas comuns.
Vistoriaram toda a região e, ao entardecer daquele dia, os dois deuses começaram
a bater nas portas das casas, mas nenhum dos habitantes de listra lhes oferecia
pousada.
Então eles foram se afastando. E nos confins da Licaônia chegaram a um casebre
em ruínas. Era uma casa muito velha, muito tosca.
Bateram na porta e uma mulher muito idosa, veio atender. Era Balsis, uma pastora
da região, esposa de um lavrador que ainda se encontrava no campo.
Ao ouvir os dois homens lhe pedir guarida, Balsis foi tocada em seu sentimento e
abriu-lhes as portas, fê-los entrar e serviu-lhes água fresca, enquanto
dialogavam.
Logo depois, seu esposo Fílemon chegou dos campos e se somou à alegria da esposa
em poder hospedar aqueles homens que andaram pelas estradas durante todo o dia.
Não tinham muito para ofertar, mas Balsis pediu ao esposo que fosse até à horta
e colhesse algumas verduras para preparar um caldo e oferecer aos hóspedes.
Balsis puxou, de junto da parede, a única mesa que tinha no casebre. Uma mesa
velha, de tampo esburacado.
Recobriu-a com a única toalha que tinha, guardada para ocasiões muito especiais,
enquanto Fílemon retirou do armário alguns frutos secos, que Balsis mesma
preparava, e uma bilha de vinho.
Após, sentaram-se junto com os dois visitantes para o rico banquete da família
pobre.
Começam a tomar o caldo, a se alimentar com os frutos secos e perceberam, os
dois velhos, que quando Júpiter e Mercúrio se serviam do vinho, quanto mais
vinho retiravam da bilha, mais vinho aparecia nela.
Entreolharam-se e deram-se conta de que essa era uma prerrogativa dos deuses.
Aquilo em que eles tocassem se multiplicava.
Júpiter percebeu e deu-se a conhecer. Apresentou Mercúrio, que era considerado
deus dos oradores e pediu aos velhos que não contassem a ninguém sobre suas
estadas ali.
No dia imediato, antes de se despedirem, Júpiter abraçou os dois velhos e lhes
fez uma proposta:
“Pela gentileza da hospedagem, pela boa vontade que nos apresentaram, eu
gostaria de deixá-los à vontade para pedir o que quiserem e eu lhes garanto
realizar.” Era o deus dos deuses que estava oferecendo o que eles quisessem.
Fílemon olhou a esposa, e esta lhe retribuiu o olhar. Eram velhos, tinham vivido
na pobreza desde a juventude, quando se casaram.
Aquela idade não lhes pedia mais nada. Fílemon disse a Júpiter que não
necessitavam de coisa alguma.
Mas Balsis lembrou-se de um detalhe. Segurou o braço do marido, voltou-se para
Júpiter e disse-lhe:
Senhor, já que nós podemos pedir-lhe alguma coisa, eu gostaria de rogar que não
permitisse que um de nós chorasse a morte do outro. Gostaríamos de pedir-lhe que
quando um de nós tombe nas mãos da morte, o outro possa acompanhar
imediatamente, para que nenhum de nós tenha que chorar pelo outro.
Lágrimas escorreram pelas faces de Júpiter. O pai dos deuses emocionou-se e
garantiu-lhe que o seu pedido seria atendido.
No dia em que Fílemon tombou, arrastado pelas mãos da morte, Balsis tombou sobre
seu corpo.
E Júpiter, para homenagear o amor de ambos, plantou-os no pórtico da cidade de
listra, na entrada da Licaônia, e os converteu em duas tílias, que estão
floridas quase o ano inteiro.
Isso tudo para dizer que o amor é assim, é capaz de estar sempre florido, é
capaz de doar-se perpetuamente.
Por: Momento Espírita, Texto extraido do site http://www.momento.com.br
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