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Pai Francisco!

Abençoai-nos!

Evocando aquela tarde de 4 de outubro de 12261, com céu transparente e azulado, há setecentos e oitenta e quatro anos, três meses e um dia, quando vos preparáveis para o retorno ao Grande Lar, murmurastes para os poucos irmãos que vos cuidavam: - Fiz o que me cabia. E após suave pausa, entrecortada pela respiração débil, conluístes: - Que Cristo vos ensine o que vos cabe.

As Irmãs cotovias, algumas das quais vos ouviram cantar a Palavra um dia no passado, fizeram-se presentes com outras, alegres com a vossa libertação, voando em círculos sobre a choupana modesta em que vos encontráveis na amada Porciúncula.

Encerrava-se naquele momento uma parte da saga incomparável do vosso testemunho de amor ao Amigo crucificado, crucificado que também estáveis...

Toda uma epopeia de sacrifícios e abnegação ficaria inscrita nas páginas da História, demonstrando quanto se pode fazer e viver sob a inspiração do amor de totalidade.

Quando, na igrejinha de São Damião, atendestes ao convite que Jesus vos fez, nem sequer tínheis ideia do que vos iria acontecer, mas assim mesmo seguistes adiante...

Naquele período o tédio vos dominava e os prazeres do mundo, filhos da fortuna assim como das honras da cavalaria que antes vos fascinavam, cederam lugar ao fastio, a um vazio existencial, no qual a angústia se alojava, estiolando-vos os sentimentos.

Só depois compreendestes o que Ele desejava e, dando-vos conta do seu significado, renunciastes aos bens do mundo e aos vínculos com a família biológica, a fim de renascerdes das próprias cinzas e abraçardes a Humanidade como vossa irmã.

Desnudando-vos em plena praça, renunciastes a tudo, iniciando a trajetória pela via dolorosa, cantando os dons da pobreza e a fortuna da humildade.

Aqueles que vos conheceram anteriormente, quando jovial e extravagante, não puderam acreditar na grande revolução interna e pensaram tratar-se de alguma nova excentricidade...

Diante, porém, dos fatos grandiosos resultantes da vossa transformação, diversos deles foram buscar-vos para que lhes ensinásseis a técnica luminosa da entrega total a Jesus.

...E porque nada tínheis, vós e eles buscastes refúgio entre os leprosos que se escondiam nos escombros em Rio Torto, que se transformaram no suntuoso lar de vossas residências.

Não faltaram aqueles contemporâneos que vos definiram como um bando de vagabundos e desorganizados, porque eles se encontravam asfixiados pelos gazes das utopias e falácias do corpo transitório, embora os vossos feitos em favor dos infelizes. Era, porém, a mentalidade da época de trevas e de ignorância que conseguistes iluminar.

Pedradas, humilhações de todo porte, perseguições e zombarias, fome e necessidades, conseguistes transformar em estímulo para a incomum entrega a Deus.

Quantas vezes, interrogastes: - Quanto é demasiado? ou melhor, reflexionando, pensastes: Sou eu o proprietário de minhas posses ou elas me possuem?

Acostumado antes ao conforto e ao luxo, ao poder e ao destaque entre os endinheirados, era natural que buscásseis o equilíbrio entre a posse e o possuidor, resolvendo então por nada possuirdes.

Selecionastes os recursos para a empresa de santificação, utilizando-vos da não-posse como sendo a libertadora da alma.

Quando a fome derivada dos jejuns e da falta de alimentos vos excruciava a todos, vosso canto em homenagem à Irmã Alegria diminuía a tristeza geral e emoções sublimes tomavam conta de todos vós...

Buscastes com o pequeno grupo o apoio do papa Inocêncio III, o homem mais poderoso da época, mergulhado em luxo e diplomacia, pompa exorbitante e indiferença pela , não porque necessitáveis dele, que nada possuía para oferecer-vos em espiritualidade, mas para evitardes a pecha degradante de heresia em vossa e na conduta daqueles que vos seguiam. E apesar de tudo, o sensibilizastes pela pureza, candura e devotamento a Jesus, dele conseguindo somente uma bênção, perfeitamente dispensável, e algumas palavras de encorajamento.

Vistes ali, no Palácio de Latrão, em Roma, o anticristianismo, o burlesco, o jogo dos interesses vis, nos quais Jesus estava ausente...

As vossas palavras e exemplos tornaram-se estrelas iluminando a grande noite da Idade Média e avolumaram-se aqueles que buscavam Jesus despido das mentiras humanas e dos rituais enganosos da tradição teológica.

O vosso é o Jesus da simplicidade, da pobreza, do amor aos infelizes, da renúncia às ilusões e da sublimada entrega a Deus, não aquele a quem diziam seguir...

Quando Clara buscou o vosso auxílio, deixando para trás o mundo de fantasias, acolhestes a jovem afetuosa, sem recear o poder da sua família, tonsurando-a de imediato, para que ficasse sob a proteção da Igreja e não fosse obrigada a retornar ao século.

Intimorato guerreiro do amor, quanta coragem tínheis!

As vossas dores físicas, naqueles dias, despedaçavam o vosso corpo frágil e afligiam a alma veneranda: malária em surtos contínuos com febre e dores estomacais, com o baço e o fígado comprometidos não conseguiram desanimar-vos...

Ao lado dessas aflições vosso corpo foi lentamente transformado num jardim, no qual passaram a desabrochar as primeiras rosas arroxeadas da hanseníase...

Suportáveis tudo com paz, cantando louvores a Deus e aos Irmãos da Natureza.

Em vossa ingenuidade, um pouco antes, pensando em converter a Jesus o sultão al-Malik-al-Kamir, viajastes ao Egito com vosso irmão Iluminatus, conseguindo dialogar com o nobre muçulmano, que acenou com a paz a Pelágio mais de uma vez, e que a recusou, redundando em tragédia a Quinta Cruzada.

Embora sentindo-vos fracassar no empenho para a conversão do monarca, buscastes os leprosos e os mais ínfimos pelos sítios por onde peregrinastes.

Com anuência do sultão gentil visitastes os lugares onde nascera, viera e morrera o Amor Incomum, fortalecendo-vos para as crucificações do futuro a que seríeis submetido.

Quando retornastes à querida Assis, já sentíeis as dores quase insuportáveis da conjuntivite tracomatosa, muito comum no Oriente, e que atinge ainda hoje milhões de vítimas, levando-as à cegueira.

Aconselhado por frei Elias e o cardeal Ugolino, que vos amava, aceitastes em submeterdes-vos ao tratamento especial contra o tracoma em Rieti, nas mãos do médico que aqueceu dois ferros até os tornar brasas vivas e vos cegou, na ignorância presunçosa, atribuindo-se conhecimentos que não possuía, abrindo na vossa face duas imensas feridas que chegavam às orelhas. E nem sequer reclamastes, exclamando, confiante: - Oh, Irmão fogo!... Sê bondoso comigo nesta hora...

Como se não bastasse, posteriormente, a fim de estancar a purulência dos vossos ouvidos, novamente experimentastes barras de ferro em brasa que os penetraram, sem que exteriorizásseis um gemido único...

Oh! Pai Francisco!

Nas tempestades que sacudiram então o vosso trabalho e no abandono a que vos atiraram alguns daqueles que ainda amavam mais o mundo e suas mentiras, buscastes meditar nos montes Subásio e Alverne, no último do qual Jesus crucificado, conforme ocorrera diante do crucifixo de São Damião, vos assinalou com a stigmata, que alguns negariam depois...

Quando alguém vos interrogou, posteriormente, o antigo jovem trovador reagiu, dizendo: - Cuide da sua vida.

Não desejáveis que ninguém soubesse da vossa perfeita união com Ele, o Rejeitado sublime.

Aneláveis por viver e sofrer como Ele vivera e sofrera, embora vos considerásseis inútil servo ou um homem inútil.

Com o coração trespassado pelas setas contínuas da ingratidão de muitos que agasalhastes no peito como se fossem cordeiros mansos, embora fossem serpentes venenosas que vos picaram mil vezes, assim mesmo continuastes amando-os.

Assim é o mundo com as suas mancomunações!

Os utilitaristas e a sua perversidade sempre estão presentes em todos os lugares.

Aqueles porém, que vos atraiçoaram também morreram, Pobrezinho de Deus, e despertaram com a hanseníase na alma...

Não vós!

Ave canora que éreis, ascendestes na escala da evolução, vencendo todos os limites e dimensões do conhecimento, recebido por Ele, que vos aguardava com a ternura infinita que reserva para aqueles que O amam.

Ei-los, os ingratos, que se encontram de volta à Terra destes dias, recordando-vos, arrependidos e afáveis, buscando a reabilitação.

Apiedai-vos de todos eles, os vossos crucificadores, e amparai-os na esperança e na coragem para conseguirem a autoiluminação.

Menestrel de Deus!

Neste momento em que a Ciência e a Tecnologia soberbas falharam na tarefa de fazerem felizes os seres humanos, intercedei ao Pai por todos nós que ainda transitamos pela senda libertadora, buscando a perdida alegria que desfrutávamos ao vosso lado, naqueles inolvidáveis dias.

Pai Francisco!

Abençoai-vos, mais uma vez.


Por: Joanna de Ângelis, Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 5 de janeiro de 2011, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Do site: http://www.divaldofranco.com/mensagens.php?not=225


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