
Vigilância, por André Luiz
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Mantendo-nos no objetivo de estudar algumas das perguntas
presentes no Novo Testamento, busquemos a leitura do capítulo 5 de Lucas, mais
especialmente os versículos 22 e 23, quando o Mestre levanta-nos a seguinte
questão: "Que arrazoais em vossos corações? Qual é mais fácil dizer: Os teus
pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te, e anda?"
Relata-nos o evangelista Lucas que estava Jesus a pregar a Boa Nova, quando
alguns homens trouxeram até Ele um homem paralítico. Não encontrando facilidade
para aproximar-se do Senhor, desceram-no pelo telhado e Jesus vendo a fé
daqueles homens, dirigiu-se para o doente, dizendo-lhe que os seus pecados
eram-lhe perdoados, causando alvoroço entre muitos presentes, o que resultou nas
palavras do Mestre acima citadas.
As colocações de Jesus no contexto acima são de relevante importância, já que
nos colocam diante das inter-relações entre nossos atos negativos, seus
resultados e o verdadeiro caminho para a resolução dos problemas.
Assim, Jesus deixa-nos claro que as situações vividas por nós, que guardem
semelhança com aquelas vividas pelo paralítico, estão vinculadas a um passado de
dificuldade, no qual teríamos pecado contra Lei.
O que seria esse pecado? Na verdade, ele é todo ato em que a criatura,
consciente da orientação divina insculpida na Lei, insiste em agir de forma
contrária, atendendo aos seus interesses mais mesquinhos e egoístas. Em tais
situações encaminhamo-nos para situações de doença ou estado de pecado que, como
no caso citado, leva-nos a ficar paralíticos ou paralisados diante da própria
vida, imobilizados para atuar no sentido de vivermos a alegria e a felicidade.
Tudo isso, no entanto, só ocorre quando a criatura ao agir contrariamente à Lei,
persiste em acreditar que essa seria a sua melhor forma de atuar, negando-se a
uma reparação. Como a Lei é sábia em sua origem, seu dispositivo de correção,
que nos parece punição, é o recurso para o aprendizado e crescimento. É
reparação de percurso, de tal forma que a Vontade do Pai sempre se faça, em
favor da criatura, para que ela possa conquistar a felicidade tão almejada.
O que, porém, dentro da passagem, teria levado Jesus a proferir aquelas
palavras? Qual o mecanismo pelo qual alguém poderia dizer-nos que as nossas
faltas teriam sido perdoadas?
O texto é bastante claro ao informar-nos que vendo Jesus a fé dos homens que lhe
traziam o paralítico, pronunciou-se de tal forma que aquele homem pôde ver-se,
pelo menos temporariamente, livre do incômodo que sofria.
Mas como seria isso? Alguém pode agir de forma a interferir na situação de
terceiros? Podemos aliviar as dores e os sofrimentos de alguém? Certamente, e os
espíritos superiores, em "O Livro dos Espíritos" e no "O Evangelho Segundo o
Espiritismo", falam-nos da grande capacidade das preces intercessoras, da ação
dos espíritos em nossas vidas.
Assim, o mecanismo de transformação do pecado em instrumento de crescimento,
além de envolver o arrependimento, carrega em si a possibilidade da intercessão
de outrem. Não que terceiros possam fazer por nós aquilo que nos compete para o
nosso crescimento, mas podemos com nossas ações paralelas criar uma atmosfera de
energias salutares em favor dos outros, de modo a minimizar, por exemplo a
interferência dos espíritos inferiores, ou alimentá-los psiquicamente,
reforçando nas criaturas pelas quais oramos ou vibramos os propósitos de
renovação ou de facilitação no caminho rumo à saúde.
Os atos amorosos da vida alimentam as criaturas de tal modo, que elas se sentem
ampliadas em seus recursos de transformação, ou seja, a presença de alguém que
nos ama, ao nosso lado, faz-nos sentir como se nossas forças fossem maiores do
que são.
Essas colocações fazem com que reflitamos melhor sobre a nossa participação real
na melhoria da condição de vida em nosso planeta. Não só do ponto de vista
pessoal, quando inteirados da realidade maior, buscamos agir na direção do Bem,
de tal forma que, vencendo as interferências das atitudes negativas anteriores,
caminhamos para estados de maior paz e alegria; mas também atuando através de
nossas preces e realizações solidárias para que as criaturas, as quais se
encontram em condições mais difíceis que as nossas, possam encontrar em nós
sustentáculos para os passos, mesmo que cambaleantes, em direção à felicidade.
Ao lado desta lição, imprescindível nos últimos tempos, deparamo-nos com a
própria pergunta do Cristo. Segundo Ele, teríamos duas formas de encarar a
problemática do outro. De um lado, pela visão vinculada ao pretérito, fazemos
uma correlação com o pecado, direcionamos o olhar para o erro. Tal atitude é a
mais comum entre os homens. Embora nada possua de errada, traz o perigo de
reforçar a culpa e dificultar a movimentação. Com esse tipo de postura, a
humanidade tem fomentado a "indústria do pecado", alimentando o poder de
determinadas criaturas que mais
do que preocupadas em ajudar, buscam se servir dos sentimentos de inferioridade
e menos valia dos outros.
Certamente, ao se referir ao perdão dos pecados e distante de querer manter
aquele homem no mal, Jesus buscava dar uma lição da necessidade de mudança de
comportamento, para poder se conquistar um estado de saúde. Falava, também, numa
linguagem mais acessível e condizente com a visão daqueles que o ouviam. De
outro modo, trazia ao mundo uma nova visão, através da qual a intercessão dos
bons é capaz de ajudar os que se encontram sob o guante da dor, aliviando-a nos
limites da possibilidade da Lei, mostrando que o seu desejo e ação poderiam
atuar positivamente na situação carmática daquele companheiro.
De outro modo, ao falar com o paralítico: "levanta-te e anda", enfocava o
aspecto positivo da situação. Para conseguirmos a transformação, a renovação e
os propósitos de cura não precisamos ater-nos ao passado de nossas
inferioridades, reforçar lembrança no campo das dificuldades.
Aprendida ou entendida a lição de crescimento, é fundamental que a criatura saia
de sua situação de inércia, quando paralisado pelo passado de sofrimentos,
erga-se acima dos propósitos mesquinhos do egoísmo humano e caminhe em direção a
novos rumos, quando encontrará a possibilidade real da vida.
Fica assim a lição, a demonstração de que a Lei sempre se cumprirá, independente
do ângulo que nós vejamos a vida, mas que antes de questionarmos a autoridade
daqueles dos quais desconhecemos o poder, busquemos agir para auxiliar os outros
de modo a proporcionar-nos um crescimento pessoal, acreditando, também, que
temos em nós possibilidades para fazer do mundo um lugar melhor para todos nós.
Pecados e Arrependimento: por Roberto Lúcio Vieira de Souza - Revista Delfos
Posturas Coerentes: por Roberto Lúcio Vieira de Souza - Revista Delfos