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Recordo-me como se fosse hoje, seu Euclides, pescador do norte da ilha, acocorado, com o seu cigarro de palha, a dizer-me: “Seu doutor, com todo respeito isso que a terra gira em “vorta do sol num podi sê.”
Na realidade ele sempre vira ao contrário. O sol nascendo ao leste e girando ao redor da terra, se pondo a oeste. Durante todos o seus 89 anos assim vira. Jamais conceberia algo diferente do seu condicionamento psicológico de sua realidade aparente.
Seu mundo tinha outras dimensões de realidade. Só cabia a mim respeitá-lo até pelos seus cabelos branquinhos de octogenário. Era como um indivíduo que vivesse num universo de duas dimensões, comprimento e largura. Tal qual uma folha de papel, que não tem espaço para outra dimensão.
Recordo-me também que um professor de física ao ensinar dimensões fez um círculo, colocou um ponto no centro e perguntou: Como um ser no centro do círculo, traçado a compasso, poderia sair deste círculo sem tocar em nenhum dos pontos traçados? Como ninguém se atreveu a responder, disse-nos que saltando por cima usando a 3a dimensão conhecida: a altura.
Hoje, fala-se em outras dimensões no universo. Buracos negros, passagens de uma dimensão à outra, mudança de tempo, e etc. As pesquisas científicas que investigam novas dimensões trazem-nos surpresas a cada dia. Mas há quem se recuse a crer nelas. Como “seu” Euclides...
O Dr Raymond Mood Jr. pesquisou mais de 150 pacientes que passaram pela experiência de saída fora do corpo (ou “Out of body experience”), para a 4a dimensão. Pacientes que foram dados como mortos mas, por massagem cardíaca e outros processos voltaram a vida e narraram o que viram e sentiram.
Contam que se sentiram fora do corpo físico, isto é, enxergaram seu corpo na maca, olhando em cima. Sentiram que seu eu ou sua individualidade estava pairando no ar e observando seu corpo lá em baixo. Assistem, admirados, as tentativas de ressuscitação de um corpo que descobrem ser o seu próprio. Sentem-se movendo por uma espécie de túnel ou passagem e escutam sons que não conseguem definir.
Observam cores estranhas no novo meio que os cerca. Ouvem, incrédulos, seus médicos declará-los mortos. Contemplam, pasmos, seu novo corpo mais leve e sutil: o corpo espiritual. Sentem-se emocionalmente perturbados e dizem (ao voltar) que estiveram em algo ou algum lugar como se fosse uma 4a dimensão. Alucinação? Efeito de drogas? Anóxia cerebral? Ação de anestésicos?
Descrevem, ainda, ver sorrindo a sua volta, em gestos amigos, ex-parentes e companheiros que já haviam morrido!
Súbito, percebem estar inundados de sentimentos de alegria e paz.
Mentalmente recapitulam, por um processo que não conseguem definir, toda a sua vida em seus pontos capitais. Vêem, como a desfilar em um filme tridimensional, imagens de sua infância, juventude e idade madura. O processo é interrompido bruscamente e o indivíduo se vê de volta ao seu corpo.
“Eu estava lá em cima no teto, vendo-os trabalhar em mim. Quando puseram os eletrodos no meu peito, e meu corpo sacudiu caí de volta nele. Como se fosse um peso morto. Dei por mim novamente em meu corpo...”
A principal tese'>hipótese a ser considerada ao examinarmos este relatos, é sem dúvida a inverdade. No entanto, crer que adultos maduros, emocionalmente estáveis que choram, emocionados ao contarem estes eventos ocorridos até há 30 anos, estejam mentindo todos juntos, contando exatamente a mesma mentira, é realmente uma proeza.
Assim, crer que um veterinário do sul dos Estados Unidos, uma simpática velhinha da fronteira canadense, um pipoqueiro da Califórnia, e assim por diante, até 150 pessoas de locais distantes tenham se reunido e conspirado durante 30 anos de pesquisa para contarem, em detalhes, a mesma mentira, não é admissível.
Admitir que o passado religioso das pessoas houvesse lhes influenciado na elaboração de suas histórias (mentira inconsciente ) , também é pouco provável. Nenhuma delas falou em céu ou inferno. O conteúdo das informações não difere entre os que informam não ter nenhuma crença em relação a daqueles que se dizem religiosos.
A explicação do fenômeno pela influência de drogas ou medicamentos, a princípio plausível, fica cada vez mais difícil de se aceitar. Em muitos casos, o fato de ver-se fora do corpo ocorreu em acidentes de trânsito sem administração de qualquer droga. Quando ocorrido em hospital, as drogas variam desde a aspirina, passando por adrenalina, até anestésicos locais e gasosos. Não há diferença nos relatos feitos por aqueles que sofreram medicação de vários tipos.
A tese'>hipótese de alucinação ou ilusão possui dois fatores que pesam contra.
Em primeiro lugar verificamos a grande semelhança de conteúdo que encontramos entre as descrições. Em segundo lugar as pessoas que passam pela experiência são gente normal, emocionalmente estáveis, alguns médicos e outros profissionais extremamente sérios e equilibrados.
Resta ainda a penúltima tese'>hipótese que é a anóxia cerebral, isto é, a deficiência de oxigênio que levaria a todos terem uma experiência comum. O que nos leva a descrer desta possibilidade, é o fato de que, em muitos casos, a saída fora do corpo os pacientes a tiveram antes do stress corporal ou fisiológico, que lhe causaria a anóxia.
Em alguns casos não houve qualquer injúria física que possa ter levado a uma deficiência de oxigênio cerebral. Além do mais, não foram encontrados, após a experiência, nenhum sinal de dano neurológico nestes pacientes, o que ocorreria em situações de anoxia cerebral.
Ficamos com a tese'>hipótese espírita. Cremos na vida após a morte. Dizemos até mais, não cremos na morte. Parece-nos mais plausível dizer que há vida, após a vida. Vida em outra dimensão da realidade. Contra estes estudos, antepõem-se dois preconceitos: o primeiro é o preconceito religioso, pois alguns religiosos mais conservadores ficam perturbados por quem quer que ouse pesquisar uma área supostamente tabu. Seria uma área “sagrada”.
Acham, alguns, que a questão da vida após a morte deve permanecer uma questão de cega, não posta em dúvida por ninguém. Não seria este um pensamento medieval?
O segundo preconceito é o preconceito científico, manifestado por alguns médicos pois classificam estes estudos como algo “não científico”. Penso que somos capazes não só de conquistar os espaços siderais mas também de descobrir a nossa própria natureza.
Esta postura de nossos colegas de ciência estimula minha criatividade, vou patentear um neologismo: postura avestruriforme. Lembra-nos a posição de uma grande ave que é ciente de suas dimensões avantajadas mas sua grandeza a impede de voar, o avestruz. Além de estar impedida de alçar vôo, pela excessiva grandeza, quando se vê ameaçada e não encontra saída, coloca sua cabeça em um buraco como se dissesse: “não quero nem olhar , o que vou ver não consigo aceitar”...
Prefiro conversar como “seu” Euclides...


Por: Dr Ricardo di Bernardi, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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