Ensinar, por Espíritos Diversos
Deus
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SUMÁRIO:
1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. A Origem da Idéia de Deus; 2.2. Etimologia;
2.3. Significado de Deus. 3. Deus e a Divindade: Monoteísmo e Politeísmo. 4. A
Revelação de Deus. 5. Provas da Existência de Deus. 6. Deus da Fé e Deus da
Razão. 7. Atributos da Divindade. 8. Imagem de Deus. 9. Conclusão. 10.
Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é buscar uma compreensão mais abrangente da idéia de
Deus. Embora seja difícil não só definir Deus como também provar a sua
existência, temos condições de senti-Lo e de intui-Lo em nossa mente e em nossos
corações. É o que faremos neste ensaio sintético.
2. CONCEITO DE DEUS
2.1. A ORIGEM DA IDÉIA DE DEUS
A origem da idéia de Deus pode ser concebida: através da antiga doutrina cristã,
que afirma que Deus se revelou aos antepassados do povo de Israel por meio das
comunicações pessoais que lhes deram uma noção verdadeira, porém incompleta do
Deus único, infinito e eterno; depois, no decurso de sua história, foi o povo
alcançando gradualmente uma idéia mais adequada e estável acerca da natureza e
dos atributos de Deus; como resultado de um desenvolvimento puramente natural.
Enquanto o homem se manteve no nível meramente animal não houve nele a idéia de
Deus, se bem que existisse uma tendência para a religião. As suas necessidades e
aspirações não encontravam satisfação no Mundo ambiente; conheceu as
dificuldades e a dor. Em tais circunstâncias, surgiram no seu espírito "por
necessidade psicológica" a idéia de encontrar auxílio que de algures lhe viesse,
bem como a de algum poder ou poderes capazes de lho ministrar. Uma vez
introduzida a idéia de Deus, observa-se a tendência para a multiplicação dos
deuses (e daí o politeísmo). Com o alargamento da família para a nação, a esfera
de deus também ia se ampliando, e as vitórias sobre outras nações, assim como um
mais largo entendimento no que concerne ao Mundo, teriam produzido enfim a idéia
de um deus único além do qual todos os outros deuses seriam somente pretensos
deuses, sem existência real. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
2.2. ETIMOLOGIA
Deus é um dos conceitos mais antigos e fecundos do patrimônio cultural da
humanidade. Deriva do indo-europeu deiwos (resplandecente, luminoso), que
designava originariamente os celestes (Sol, Lua, estrelas etc.) por oposição aos
humanos, terrestre por natureza. Psicologicamente corresponde ao objeto supremo
da experiência religiosa, no qual se concentram todos os caracteres do numinoso
ou sagrado. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado).
2.3. SIGNIFICADO DE DEUS
Tomou esta palavra a significação de princípio de explicação de todas as coisas,
da entidade superior, imanente ou transcendente ao mundo (cosmos), ou princípio
ou fim, ou princípio e fim, ser simplicíssimo, potentíssimo, único ou não,
pessoal ou impessoal, consciente ou inconsciente, fonte e origem de tudo,
venerado, adorado, respeitado, amado nas religiões e nas diversas ciências.
Deste modo, em toda a parte onde está o homem, em seu pensamento e em suas
especulações, a idéia de Deus aflora e exige explicações. É objeto de fé ou de
razão, de temor ou de amor, mas para ele se dirigem as atenções humanas, não só
para afirmar a sua existência, como para negá-la. (Santos, 1965)
Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas.
3. DEUS E A DIVINDADE:
MONOTEÍSMO E POLITEÍSMO
Os termos monoteísmo e politeísmo surgem no processo de identificação ou de
distinção entre Deus e a divindade.
No politeísmo há uma hierarquia de deuses, de modo que não há uma identidade
entre Deus e Divindade. A não observância dessa distinção acaba por confundir
muitas mentes. Platão, Aristóteles e Bergson, por exemplo, são qualificados como
monoteístas, quando na realidade não o são. No Timeu de Platão, o Demiurgo
delega a outros deuses, criados por ele próprio, parte de suas funções
criadoras; o Motor de Aristóteles, pressupõe a existência de outros motores
menores. Em outros termos, a substância divina é participada por muitas
divindades. Convém, assim, não confundir a unidade de Deus com um reconhecimento
da unicidade de Deus. A unidade pressupõe a multiplicidade. Quer dizer, Deus
sendo uno, ele pode multiplicar-se em vários deuses, formando uma hierarquia.
Mas justamente por isso não é único: a unidade não elimina a multiplicidade, mas
a recolhe em si mesma. Obviamente a multiplicidade de deuses em que se
multiplica e se expande a divindade, não exclui a hierarquia e a função
preemintente de um deles (o Demiurgo de Platão, o Primeiro Motor de Aristóteles,
o Bem de Plotino); mas o reconhecimento de uma hierarquia e de um chefe da
hierarquia não significa absolutamente a coincidência de Divindade e Deus e não
é, portanto, monoteísmo.
O monoteísmo é caracterizado não pela presença de uma hierarquia, mas pelo
reconhecimento de que a divindade é possuída só por Deus e que Deus e divindade
coincidem. Nas discussões Trinitárias da Idade Patrística e da Escolástica, a
identidade de Deus e da divindade foi o critério dirimente para reconhecer e
combater aquelas interpretações que se inclinavam para o Triteísmo. Certamente,
a Trindade é apresentada constantemente como um mistério que a razão mal pode
roçar. Mas o que importa relevar é que a unidade divina só é considerada abalada
quando, com a distinção entre Deus e a divindade, se admite, implícita ou
explicitamente, a participação da mesma divindade por dois ou mais seres
individualmente distintos. (Abbagnano, 1970)
Para o Espiritismo, Deus é o Criador do Universo. Portanto, admite a tese
monoteísta. Contudo, os Espíritos por Ele criado, conforme o grau de evolução
alcançado, podem ser classificados como Espíritos Co-Criadores em plano maior e
Espíritos Co-Criadores em plano menor. De acordo com o Espírito André Luiz, em
Evolução em Dois Mundos, os Espíritos Co-Criadores em plano maior "tomam o
plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões,
radiantes e obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis
predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se
desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou
co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade"..."Em análogo alicerce,
as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mesmo fluido cósmico,
em permanente circulação no Universo, para a Co-Criação em plano menor,
assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é
própria, formando assim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou
cunhando as civilizações que abrangem no mundo a Humanidade Encarnada e a
Humanidade Desencarnada". (Xavier, 1977, p.20 a 23).
4. A REVELAÇÃO DE DEUS
A revelação de Deus aos homens pode ocorrer de três modos:
1.º) a que atribui à iniciativa do homem e ao uso das capacidades naturais de
que dispõe, o conhecimento que o homem tem de Deus;
2.º) a que atribui à iniciativa de Deus e à sua revelação o conhecimento que o
homem tem de Deus;
3.º) a que atribui à mescla das duas anteriores: a revelação não faz senão por
concluir e levar à plenitude o esforço natural do homem de conhecer a Deus.
Desses três pontos de vista, o primeiro é o mais estritamente filosófico, os
outros dois são predominantemente religiosos. O segundo ponto de vista pode ser
visto em Pascal, quando afirma que "É o coração que sente a Deus, não a razão".
O terceiro ponto de vista foi encarnado pela Patrística, que considerou a
revelação cristã como complemento da filosofia grega. (Abbagnano, 1970)
De acordo com o Espiritismo, o que caracteriza a revelação espírita é o ser
divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do
trabalho do homem. E como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente
da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental:
formula tese'>hipóteses, testa-as e tira conclusões. (Kardec, 1975, p. 19 e 20)
5. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
A prova da existência pode ser encontrada no axioma que aplicamos à ciência: não
há efeito sem causa. Se o efeito é inteligente, a causa também o é. Diante deste
fato, surge a questão: sendo o homem finito, pode ele perscrutar o infinito?
Santo Tomas de Aquino dá-nos uma explicação, que é aceita com muita propriedade.
A desproporcionalidade entre causa e efeito não tira o mérito da causa. Se só
percebemos parte de uma causa, nem por isso ela deixa de ser verdadeira. Allan
Kardec, nas perguntas 4 a 9 de O Livro dos Espíritos, diz-nos que para crer em
Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele
tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo o
efeito tem uma causa, e avançar que o nada pode fazer alguma coisa. A harmonia
que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por
isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma
falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes.
Um acaso inteligente já não seria acaso.
6. DEUS DA FÉ E DEUS DA RAZÃO
Descartes, no âmago da sua lucubração racionalista, descobre Deus através da
razão. Pascal, por outro lado, fala-nos que só podemos conhecer Deus através da
Fé. A dicotomia entre fé e razão sempre existiu ao longo do processo histórico.
Aceitar Deus pela razão é um atitude eminentemente filosófica; enquanto aceitar
Deus pela fé é uma atitude preponderantemente religiosa.
De acordo com o Espiritismo, a fé é inata no ser humano, ou seja, ela é um
sentimento natural, que precisa, contudo, ser raciocinado. Não adianta apenas
crer; é preciso saber porque se crê. É nesse sentido que Allan Kardec elaborou a
codificação. Observe que junto ao título de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o
Codificador colocou uma frase lapidar: "Não há fé inabalável senão aquela que
pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade". Quer dizer,
nunca aceitar nada sem o crivo da razão."
7. ATRIBUTOS DA DIVINDADE
Allan Kardec, nas perguntas 10 a 13 de O Livro dos Espíritos, explica-nos que se
ainda não compreendemos a natureza íntima de Deus, é porque nos falta um
sentido. Esclarece-nos, contudo, que Deus deve ter todas as perfeições em grau
supremo, pois se tivesse uma de menos, ou que não fosse de grau infinito, não
seria superior a tudo, e por conseguinte não seria Deus. Assim:
DEUS É ETERNO. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então,
teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao
infinito e à eternidade.
É IMUTÁVEL. Se Ele estivesse sujeito a mudanças as leis que regem o Universo não
teriam nenhuma estabilidade.
É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria,
pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da
matéria.
É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder
na organização da matéria.
É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder-soberano, haveria alguma
coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas
as coisas. E aquelas que ele não tivesse feito seriam obra de um outro Deus.
É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela
nos menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da
sua justiça nem da sua bondade.
8. IMAGEM DE DEUS
Imaginar Deus como um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono, é tomá-Lo
como um Deus antropomórfico. Damo-Lhe a extensão de nossa visão. Quer dizer,
quanto mais primitivos formos, mais associamo-Lo às coisas palpáveis, como
trovão, tempestade, bosque etc. À medida que progredimos no campo da
espiritualidade, damo-Lhe a conotação de energia, de criação, de infinito, de
coisa indefinível etc. O homem cria Deus à sua imagem e semelhança. Não se trata
de criar Deus, mas sim uma imagem de Deus à nossa imagem e semelhança. Observe
que a imagem oriental é uma imagem de aniquilação. No Espiritismo, devemos
lembrar sempre que Deus não tem forma, pois difere de tudo o que é material.
Devemos, sim, intuí-Lo, simplesmente, como a causa primária de todas as coisas.
9. CONCLUSÃO
Lembremo-nos de que encontramos Deus em nossa experiência mais íntima. Quer
sejamos crentes ou ateus - estamos sempre procurando transcender-nos rumo a
metas cada vez mais novas e nunca completamente realizáveis. Nesse sentido, a
experiência superficial é alienante. Somente num constante esforço de
aprofundamento de tudo o que nos rodeia é que podemos alcançar a riqueza da
vida. Desse modo, convém sempre nos dirigirmos a Deus alicerçados na humildade e
simplicidade de coração, com o bom ânimo de atender primeiramente à Sua vontade
e não à nossa.
10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial
Enciclopédia, s.d. p.
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed.,
Rio de Janeiro, FEB, 1975.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São
Paulo, Matese, 1965.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4.
ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
Por: Sérgio Biagi Gregório, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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