Ensinar, por Espíritos Diversos
Movimento Paralelo
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"E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu
nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não
nos segue.
Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu
nome e possa logo falar mal de mim.
Porque quem não é contra nós é por nós. Porquanto qualquer que vos der a beber
um copo dagua em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo
que não perderá o seu galardão". Marcos 9:40
Usada inicialmente por corações bem intencionados, porém, portadores de ingênuas
projeções quanto ao futuro, a expressão em foco justificou-se na sua origem face
ao momento histórico pelo qual passava o movimento em torno das idéias do
Espiritismo.
Guardando o propósito de fortalecer o processo de soma e adesão institucional,
"paralelo" era todo grupo ou atividade que não se alinhasse a parâmetros que
teciam a identidade do Espiritismo brasileiro junto às honrosas entidades
unificadoras. Algumas vezes esse chavão foi utilizado, por algumas almas
sensíveis, apenas para alertar sobre os cuidados em não se executar trabalhos em
duplicidade, mera perda de esforços... o tempo se incumbiu de alterar seu
sentido original em razão da carga emotiva que passou a representar. Da visão
inicial de medidas puramente organizativas e de concentração de esforços, passou
a traduzir sentimentos de exclusão e discriminação.
No seu aspecto conceitual, a designação em análise comporta uma releitura.
Algumas dissidências, cismas, aposições existentes no movimento social espírita
devem ser vistos como resultados e não como fatos isolados ao sabor do
personalismo humano. Resultados sistêmicos oriundos de um processo nascido e
desenvolvido na dimensão "eco-organizacional" da doutrina. Parte integrante de
um todo que carece estudos aprofundados, para estabelecermos uma teoria social
interna do movimento espírita com pena de continuarmos prestigiando a
marginalização em nome de uma utopia nos terrenos da unidade, caso desdenhemos
galgar essa reflexão de profundidade.
Só existem "movimentos paralelos" porque instituiu-se o "movimento oficial",
afora isso tais iniciativas seriam avaliadas como quaisquer outras existentes na
vinha. O critério de serem mais ou menos produtivas e úteis advém dos fatores
comuns que estipulamos para avaliar qualquer tarefa naquilo que ela possa
oferecer de melhor a quem dela participa ou se beneficia.
A tarja "paralelo" tem subtraído de determinadas pessoas ou grupos a chance de
terem suas idéias avaliadas com isenção de ânimo.
Estudando algumas causas do surgimento do que ficou batizado como movimento
paralelo, entenderemos melhor a inconveniência dessa terminologia.
Vejamos apenas três das razões mais costumeiras para o surgimento de frentes
novas de trabalho:
Revanchismos personalistas: inegavelmente existem cizânias por simples desejo de
prestígio pessoal; e mesmo nesse caso, em que há franca ausência de habilidades
para solução de conflitos de parte a parte, será injusto tributar a alguém esse
rótulo separatista, porque fica a impressão de que os "não alinhados" com o
sistema vigente é quem são portadores dessa inabilidade ao dialogo, sendo que
nem sempre é assim, conforme se sabe.
Cismas: os cismas tomaram uma conotação negativa, mas são muito bons a quaisquer
movimentos que desejem crescer. Condicionou-se uma visão de atitude infeliz a de
dividir, separar, desvincular. O problema não é dissidir, entretanto como se faz
a dissidência. Quando efetivada sem mágoas e agastamentos, são caminhos de
promoção muito bem vindos e que atendem à natural diversidade humana.
Necessidades específicas: esse o ponto que mais nos chama a atenção. Qualquer
sistema humano, que não deseje implodir-se no centralismo cultural e
administrativo, deve prezar o pluralismo. Ainda mais tratando-se de uma doutrina
com caráter universal como é o Espiritismo. A adoção do policentrismo e a
eleição de uma cultura plural estribada no livre-exame, trarão benefícios
ostensivos à causa, porque ampliarão o quadro das organizações específicas na
execução de misteres variados, que até então o designado "movimento oficial" não
teve e nem terá possibilidade para dinamizar em razão da gigantesca demanda
social-espiritual que pede apoio e rota nas mais variadas esferas da atividade
humana. Grupos que guardam afinidades específicas em torno de fatores que os
unem no carreiro evolutivo, vincular-se-ão, espontaneamente, para grandes ideais
frente às suas aptidões e tendências, conforme os ditames da consciência.
Movimento paralelo, portanto, tornou-se hoje, um código elegante e conveniente
que significa "trabalho não aprovado", "ação suspeita doutrinariamente",
"movimento sem valor", "atividade subversiva". Uma senha descaridosa que retrata
o espírito sectarista que ainda ronda a nossa gleba abençoada. Um equívoco
lamentável do egoísmo humano que fantasiou-se no preconceito com objetivos de
exclusão e desdém. Uma infidelidade total aos motivos antepassados que a usavam
com propósitos de soma e união por se fazer, asilando pleno respeito no coração
a quantos fossem os "paralelistas".
Para o Cristo não existem serviços dispensáveis ou de menor valor, e, não
importando o que faça a criatura, nesse ou naquele setor da seara, o amor deverá
ser a tônica de suas ações, evitando a cruel exclusão com os diferentes e a
desprezível indiferença aos diferentes.
O projeto unificador incentivado pelo mais alto é salutar "estratégia" a fim de
exercitarmos o espírito comunitário; nessa ótica, quaisquer convenções, que
sirvam de instrumentos oficiais de separatismo ou peça institucionalista
cerceadora, precisam ser revistos e corrigidos, pois são desvios que consagram o
personalismo e a disputa, a hegemonia e a antí-fraternidade.
Em matéria do movimento humano pelo Espiritismo, a outorga irrestrita e a
oficialização de conveniências institucionais constitui grande obstáculo ao
progresso da proposta renovadora do Consolador. Aceitável e justo será o
respeito e cooperação com os mais experientes, com as organizações bem
sedimentadas que queiram delegar responsabilidades ou com as entidades solidas e
historicamente bem desenvolvidas, absorvendo-lhes o manancial de recursos que
possam transmitir, contudo, evitemos a veneração e a lisonja que embalam sonhos
de missões celestiais elencadas por decretos divinatórios.
Tenhamos siso e relações construtivas sem embrenharmos pela edificação de
idolatria e reverência incondicionais, transformando a fé e a capacidade
realizadora em dogmatismo inoperante sob os auspícios de grilhões estatutários
ou regimes "vaticanais".
A existência de um perfil identitário, tendo como eixo de unidade os princípios
fundamentais e as leis naturais, será não só valiosa medida preservativa, mas
fator facilitador na construção da cultura espírita. Dispensável será que para a
consecução dessa tarefa tenhamos que reviver "cruzadas e inquisições" ao sabor
da força institucional !!! Quando nosso movimento espírita desenvolver com mais
amplitude a cidadania e a razão constataremos com maior precisão a
inconveniência da expressão movimentos paralelos. Até lá, se desejamos
utiliza-la, busquemos, pelo menos, vigiar a atitude proibitiva como fez João na
passagem evangélica aqui destacada. Ao invés de censurar, recorramos sim a
Jesus, em prece, para indagar-lhe: Senhor há alguns que não nos seguem, o que
dizes a mim sobre eles? Certamente na acústica da alma, verdadeiramente
matriculada no aprendizado do amor, uma meiga e doce resposta se fará sentir,
conduzindo-nos a amplas e elevadas meditações... Jesus , em sua alteridade, ante
o apelo sectário do apostolo inexperiente, exemplificou a postura de pluralismo
e universalismo com seus ensinos, quando estabeleceu quem não é contra nós é por
nós.
Se Paulo não superasse o formalismo Judaico, possivelmente o evangelho morreria
asfixiado pelas injunções do Sinédrio, impedindo-nos de fruir suas benesses.
Reflitamos nisso, porque o doutor de Tarso outra coisa não fez senão um
"movimento paralelo"!!!
Por: Cícero Pereira, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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