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Curioso este título, não? O que tem a ver o aplauso com as instituições espíritas? Será que teremos que aplaudir os palestrantes (após suas exposições) ou os médiuns (após alguma atividade)?
Nada disso! Não se trata do “elogio à vaidade”, nem o “afago de egos”. Referimo-nos, isto sim, ao reconhecimento do público aos bons trabalhos de natureza artística que tenham como palco nossos centros.
O quê? Não há apresentações artísticas e literárias, de natureza cultural espírita, na “sua” instituição? Que pena!
Bem que eu já tinha visto preconceito em relação à arte espírita, com gente “torcendo o nariz”, olhando “atravessado”, ou fazendo “cara feia”... Muitas pessoas, infelizmente, ainda consideram o centro um “lugar sagrado”, onde predominam a sisudez, a contrição, o semblante fechado e o cumprimento de “obrigações”. Certos condicionamentos ou paradigmas, assim, criados por uns e alimentados por outros, sem análise e discussão, acabam virando “dogmas” no movimento espírita.
Considerando-se a arte como um “veículo” de difusão das idéias espíritas, as apresentações espíritas devem ocupar os espaços públicos das instituições, não somente nos chamados eventos comemorativos ou especiais, mas no próprio dia-a-dia da seara.
Certo dia, conversando com um velho dirigente, ele me disse que o público que vem a casa, chega cheio de problemas, necessidades e carências, e, desta forma, vem à procura do lenitivo da mensagem (palestra) e do passe. Então, este poderia não “entender direito” se, ao invés de uma palestra “sobre o Evangelho”, houvesse lá na frente um “punhado” de jovens apresentando teatro.
Eis a dura e triste realidade.
Os jovens – quase sempre os realizadores das apresentações artísticas, sejam elas cênicas ou musicais – ainda são vistos como um “gueto”. Lutam, árdua e corajosamente, para garimpar espaços. Demoram muito tempo mesmo para obter a valorização do (bom e belo) trabalho que fazem. Todos nós passamos por isto. Em outro artigo que escrevemos, há algum tempo, perguntávamos logo no título: “Serão conservadores os nossos jovens, amanhã?”, como a representar que, na idade madura, nós acabamos minimizando sonhos e lutas, contentando-nos com a rotina ou arriscando-nos muito pouco. Felizes são os que conseguem cultuar o espírito jovem por toda a vida.
O aplauso, assim, é sempre bem-vindo! Algum músico ou ator já disse que ele é o “combustível do espetáculo, do trabalho artístico”, na esteira do que Milton Nascimento sentenciou: “[...] todo artista tem de ir aonde o povo está”. Aplaudir (e sorrir), demonstram satisfação com o resultado, apreensão das idéias, entendimento da mensagem, emoção e sintonia com a proposta. Há, é claro, aplausos mais simples, e outros, mais efusivos. Há os que se levantam da cadeira e gritam: - Bravo! Muito bem! Há os que vão até o “camarim”, a “coxia”, para apertar as mãos dos atores ou músicos, ou os que assistem mais de uma vez o espetáculo ou apresentação. Há os que querem bater fotos com atores e músicos, estes ainda caracterizados ou “uniformizados”. Tudo isto é sinal de simpatia, de reconhecimento da qualidade do trabalho. E, convenhamos, não há dinheiro que pague estas manifestações autênticas e sinceras.
O aplauso, assim, não vai fazer “baixar a vibração”, não vai atrair “espíritos zombeteiros”, não vai tumultuar o ambiente, senhor dirigente! Ele vai, sim, enriquecer ainda mais o processo de interação entre público e artista espírita. Vai, ainda que através de gestos ou linguagem não falada, constituir o próprio processo comunicativo, através da interação, da simbiose, da empatia.
Lembro-me, ainda, de uma confraternização estadual de jovens espíritas, no início da década de noventa. Reunidos, mais de 400 jovens, em cinco dias de trabalho, estudo, confraternização e arte. Uma beleza! Ainda mais, porque realizado em pleno período das festas de Momo, quando, costumeiramente, a juventude bacana dos centros foge do burburinho das festas carnavalescas, buscando o refúgio da confraria espírita-jovem, na alegria, no carinho, na fraternidade. De repente, lá pelo segundo dia de encontro, um dos dirigentes – ainda relativamente jovem – propôs: - Gente, eu queria fazer uma sugestão... Vamos substituir o aplauso, que faz barulho, e às vezes “agride” nossos ouvidos por um “sacudir de mãos”, assim, para o alto... E, mexeu as mãos, simultaneamente, como a sacudi-las, demonstrando como deveria ser o novo “aplauso”. Assim – continuou ele – os grupos que se apresentam sabem que estamos contentes e gostamos do número musical ou teatral e os “espíritos superiores” não ficam aborrecidos com o excesso de barulho que possamos fazer.
Sim, é isto mesmo que você acabou de ler... Os espíritos “superiores” ficam desgostosos porque batemos palmas...
Tais anátemas ficam por aí, se proliferando, virando verdades absolutas, alimentando, mais e mais, o preconceito contra a legítima arte espírita.
Fico a me lembrar de Jesus, que precisou ser enérgico (e ruidoso) em algumas circunstâncias, mas revelou-se manso e pacífico em tantas outras... Há quem revele um Cristo sisudo, compenetrado ao extremo, triste até, nas suas andanças e conversações. Não creio nisto, sinceramente. Basta ver, perto de nós, o exemplo do Chico, que ria, até das suas duras provações e dificuldades. Que sempre era visto – apesar das dores atrozes – sorrindo para todos. Prefiro ficar com a imagem literário-poética de J. J. Benítez, no seu Operação Cavalo de Tróia, nos mostrando um Jesus feliz, até brincalhão, bem-humorado em várias oportunidades, sobretudo em meio às crianças e jovens de seu tempo, não obstante, durante os três anos de andanças de seu ministério de amor, fundando a “Casa do Caminho”, precisasse de toda a concentração e seriedade nos momentos de ensino e prática mediúnica.
Assim devem ser os ambientes espíritas. Sérios no trato e no exercício das faculdades mediúnicas, mas sem perder a graça, a alegria, a jovialidade e a leveza das apresentações artísticas. Como Che, poderíamos repisar: “[...] hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, representando que a atividade espírita, eficiente e eficaz, no trato das necessidades humanas, não pode olvidar a alegria e da ternura, formas tão nobres quanto imprescindíveis para a nossa aproximação do outro, no relacionamento interpessoal e no serviço assistencial e doutrinário espíritas.
O aplauso é, por isto mesmo, tão oportuno quanto o silêncio em outros momentos, de concentração e atividade mediúnica, ou o aperto de mãos sincero, o abraço, o beijo, o “muito obrigado”, o “Deus lhe pague”, o “até logo”... Nós é que temos, racionalmente, mas sem esquecer o sentimento, escolher dentre tais manifestações e muitas outras, qual a que melhor se adequa ao nosso momento de atividade.
Desejo-lhes, então, muitos aplausos, sinal de que a mensagem – tão carinhosamente preparada num esquete ou audição – foi bem entendida, e preencheu mente, coração e espírito de quem – encarnado ou desencarnado – teve a felicidade de presenciar.


Por: Marcelo Henrique, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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