Ensinar, por Espíritos Diversos
Alvísseras de Alegria
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Os costumes promíscuos, frutos das guerras e dos ódios incessantes, geraram o
desvario das massas.
Sem qualquer apoio ou perspectiva de melhorias, o povo consumido pelo desespero
estava mergulhado na treva e não mais vivia, apenas sobrevivendo cada dia, cada
hora, sem projeto algum para o futuro.
De um lado, a falsa religiosidade, preocupada mais com a aparência do que com o
profundo conteúdo espiritual, caracterizava-se pelo formalismo pusilânime,
enquanto as necessidades asfixiantes do povo armavam-no de ódio e de ferocidade.
Os infelizes cansados das injustiças, que já haviam criado no passado o partido
dos zelotes, daqueles que buscavam preservar os códigos ancestrais, violentados
pelos romanos, agora abriam uma ala para os que desejavam desforço, cometendo
hediondos crimes, mesmo à luz do dia, contra os seus contemporâneos infiéis...
Israel encontrava-se desestruturado, contorcendo-se entre as garras férreas da
águia romana, da sordidez dos seus governantes ignóbeis e da indiferença dos
poderosos que adquiriam direito à comodidade a peso de ouro.
As pessoas, antes sonhadoras e gentis, que aguardavam o Messias,
transformaram-se na multidão aturdida e desenfreada nas suas paixões, que se
atiravam sobre o espólio das gerações vencidas.
Apesar de tudo, pairava uma psicosfera de ternura como ligeira brisa que
carreasse aromas suaves e leve expectativa de alegria no ar.
Sem saberem compreender o que sucedia, muitos infelizes ainda confiavam em Deus
e humildes trabalhadores honravam os seus deveres.
Ocorre que a Terra estava sob tênues claridades do Céu que anunciavam a
eliminação das sombras.
Sempre surgiam sonhadores que afirmavam a chegada do justiceiro e se armavam,
sendo logo vencidos, dizimados, sem qualquer compaixão, pelos dominadores.
Naqueles dias, subitamente, as aragens da esperança começaram a cantar nos
corações expectantes.
Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. No entanto, desde o momento
quando o Batista anunciou que aquela era a hora do arrependimento e da
renovação, algo realmente começou a suceder.
Desde as terras de Betfagé, às margens frescas do Jordão, e dali à aridez do
deserto e ao mar Morto, visitando as pradarias e ultrapassando as montanhas,
alguma ocorrência especial alterava a paisagem humana...
Roma estava acostumada àquele povo tumultuado e rebelde, teimoso e bulhento,
silenciando as suas contínuas revoltas com banhos de sangue...
Na Galileia singela, as labutas do mar sofreram modificação desde quando Ele
abriu a Sua boca e clareou a noite das almas com o verbo de luz.
Ele era simples e puro como o lírio do campo e despido de atavios como uma
espada nua.
Quem O tivesse visto e ouvido não conseguiria ser mais o mesmo, nem olvidar
aquele momento, aguardando os longes tempos para O entender e O seguir, caso não
dispusesse de resistências morais para fazê-lo a partir daquele instante.
A Sua palavra penetrava o cerne do ser como o perfume do nardo que impregna a
superfície que acaricia.
Era natural que, onde aparecesse, a patética do sofrimento também se
apresentasse.
Sucediam-se como ondas eriçadas pelo vento, as multidões que desejavam o seu
contato, o seu benefício, a dúlcida carícia do seu terno olhar, que diminuía o
fogo das aflições.
Preocupados com o corpo, nem sempre O ouviam realmente, anelando apenas por
escutar a interrogação: Que queres que eu te faça?
Ele não viera exatamente para ser remendão de corpos despedaçados, mas fazia-se
necessário que O vissem agir em nome de Deus, que recuperasse aquelas formas
orgânicas que iriam perecer depois, a fim de que tivessem despertada a fé na
imortalidade.
Bem poucos desejavam realmente receber o pão da vida e a água que dessedenta
para sempre, embriagando-se na perene luz do conhecimento que é o suporte
vigoroso para a fé inabalável.
Mas a Sua fama crescia na razão direta dos Seus feitos, da Sua incomparável
bondade, da Sua compaixão.
Ninguém jamais amara daquela maneira, falara com aquele tom de voz, convivera
com os deserdados do mundo com a mesma naturalidade...
Os fariseus souberam que Ele silenciara os saduceus e, tomados de cólera, que é
o recurso dos pigmeus morais diante dos gigantes espirituais, buscaram-nO, e um
sacerdote pusilânime, para O tentar, perguntou-lhe:
Qual o mandamento maior, aquele que devemos seguir?
A luz penetrante dos Seus olhos desnudou o hipócrita, enquanto docemente
respondeu:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, acima de todas
as coisas.
O atormentado fariseu de sentimentos corroídos pela inveja redarguiu:
Isto sabemos nós. Como, porém, amar ao que não se vê, não se compreende, não se
sente?
Num relampaguear de emoção, Ele aduziu:
Amando ao próximo como a si mesmo, assim sintetizando toda a Lei e todos os
profetas.
O soez inquiridor, porém, não queria a verdade, mas a discussão inútil com o
sarcasmo no qual era mestre.
Voltou, então, a interrogar:
Que é amar ao próximo? Como fazê-lo, sendo ele um estranho?
Houve um silêncio profundo, prenunciador da sinfonia da gentileza:
O próximo – esclareceu com ternura – são todos os seres humanos, filhos do Único
Pai, sem distinção de classe ou de cor, de credo ou de raça.
Ante a impossibilidade de amar-se ao Pai, que transcende a qualquer
entendimento, respeitar-lhe os filhos que lhe conduzem a herança e caminham ao
nosso lado.
Amá-lo, implica em considerá-lo irmão, compreendendo-lhe as necessidades e
buscando supri-las, dispensando-lhe carinho e tolerância e fazendo-lhe tudo
quanto gostaria de receber de outrem.
Quando o amor se exterioriza do coração, o Pai alberga ambos, aquele que ama e
aqueloutro que lhe frui o afeto, na sua incomparável alegria.
O amor ergue, quando o outro tomba, compadece-se, quando defronta o erro,
acompanha o solitário, ajudando-o, e enriquece de ternura todos aqueles que
abraça, por maior que seja a carência que os devasta.
No amor ao próximo, que é o eu no outro, a vida estua e a paz repousa no
coração.
Não é necessário ver para amar, bastando compreender que ninguém jamais se
realiza a sós, nem se completa se não der um sentido de solidariedade à
existência...
Doces melodias e vozes inarticuladas cantavam na pauta grandiosa da Natureza.
Logo após, completou:
Então, não existirão inimigos, porque todos aqueles que se prazer'>comprazerem nessa
infeliz condição serão também amados.
As alvíssaras de luz e alegrias do Reino dos Céus rompiam a noite dos tempos de
então para todos os tempos do futuro.
Por: Amélia Rodrigues, Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, em 5 de agosto de 2013. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=726
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