Ensinar, por Espíritos Diversos
Alegação Justa
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O grande orientador espiritual, de palestra com alguns amigos, enunciava
expressivas considerações.
– Como vocês todos sabem – alegou, justiceiro –, os companheiros encarnados,
desde tempos imemoriais, vêm à nossa esfera, à procura de modelos para as
atividades na Crosta do Mundo. A massa preguiçosa, exclusivamente interessada no
câmbio das emoções físicas, jamais se moveu nesse sentido, porque recebe sem
discutir as medidas que lhe são impostas. Todavia, os homens ativos e
inteligentes, sempre que podem, largam envoltórios pesados e reclamam-nos a
colaboração. Estudam-nos os serviços, quanto lhes é possível e examinam-nos os
institutos evolutivos. Aliás, possuímos instruções especiais para facilitar-lhes
semelhante acesso, tanto quanto somos autorizados a subir, mais além, buscando a
inspiração de nossos Maiores.
Revelando infinita benevolência no olhar, fez longa pausa e prosseguiu :
– Ministros da fé, administradores de bens públicos, cientistas e artistas,
condutores do pensamento e da cultura da Humanidade encarnada, sequiosos de
renovação em benefício dos contemporâneos, toda vez que se mostram à altura dos
títulos de que são detentores, apressam-se em granjear-nos o concurso
espiritual. Nem sempre sabem o que desejam e somos compelidos a agir com eles à
moda dos professores de primeiras letras nos jardins da infância.
Suportamos-lhes os impulsos intempestivos, sem dar-lhes tabefes, e determinamos
horas adequadas para as lições. Logo que se afastam do corpo, em desligamento
provisório pela influência do sono, congregamos os mais aptos ao progresso
intelectual, no serviço de preparação desejável. Usualmente descobrem inúmeras
dificuldades para compreender-nos, apontando contínuos obstáculos a fim de
manobrarem convenientemente com a memória. Muitos recebem colaboração nossa
durante vinte, trinta, cinqüenta anos, e acabam surpreendidos pela morte, sem
cumprirem um só item das compridas promessas que nos hipotecam. Alguns, contudo,
bem intencionados e persistentes, atravessam óbices, ultrapassam fronteiras,
quebram cadeias e nos fixam os ensinamentos, convertendo-se em vanguardeiros do
tempo em que se fazem visíveis na Crosta Planetária. Tornam-se, via de regra,
combatidos pelos irmãos ociosos, porque os indolentes hostilizam os servidores
leais, em todas as épocas.
Muitos desses amigos perseverantes acabam martirizados, conforme aconteceu ao
próprio Cristo, Nosso Senhor; todavia, chega a ocasião em que as idéias deles se
fazem louvadas e aproveitadas. Para companheiros dessa qualidade, nossas portas
vivem abertas. Estudam conosco, desde o problema do alimento ao da mais alta
distribuição de justiça. Carreiam daqui para a Terra todas as migalhas de luz
que podem arquivar no campo mental, medianamente evolvido, como ocorre às
abelhas operosas que transportam para a colmeia a quantidade de essências,
segundo a capacidade que lhes é própria. É assim que, observando-nos os códigos
de direito, por lá fizeram leis de acordo com as suas inclinações pessoais,
instituições casas que vão progredindo gradativamente na direção da Justiça
Universal. Esses bandeirantes do idealismo superior, em moldes idênticos,
ergueram templos religiosos, aprimoraram a ciência, iluminaram a filosofia,
instalaram a indústria e aperfeiçoaram o comércio. De quando em quando, as
massas recordam a animalidade primitiva, regridem nos impulsos, abrem-se aos
gênios satânicos da destruição e atiram-se umas contra as outras, através de
embates sanguinolentos; mas, dominadas pelos homens superiores que nos visitam,
acabam sempre por ensarilhar as armas, reconstruindo as cidades, recompondo a
economia e reajustando raciocínios, atraídas novamente para os nossos círculos
de ação. Entrementes, os vanguardeiros do progresso se reúnem por intermédio de
acordos e conferências, para novos juramentos a Deus, exaltando os mais elevados
símbolos da dignidade humana e buscando-nos, incessantemente, os serviços. Raros
perguntam de onde lhes vêm os valores da intuição e a maioria costuma
classificar de fantasia a nossa colaboração.
O elucidador fixou significativa expressão fisionômica e aduziu:
– Colocavam-nos, antigamente, na galeria dos deuses, e éramos conhecidos por
Musas.
A verdade é que, desde os primórdios da vida planetária, trabalham na cópia
geral dos nossos modelos. Jamais conseguem imitar-nos convenientemente.
Admiram-nos as torres luminosas e constroem edifícios escuros a que chamam
arranha-céus. Observam-nos os caminhos floridos e brilhantes e traçam duro leito
de pedras no chão, a fim de cuidarem da fraternidade. Contemplam-nos as
utilidades graciosas e leves e improvisam máquinas pesadas, a exsudarem
combustível malcheiroso e a lhes ameaçarem a vida corporal a cada momento.
Semelhante situação, porém, é justificável. O escultor poderá guardar
maravilhosa ideação, mas, para exteriorizá-la, dependerá do material acessível
às suas mãos e convenhamos que a condensação de fluidos na Crosta da Terra se
caracteriza por aflitiva dureza. O orientador parou, movimentou a cabeça
expressivamente e concluiu:
– Até aqui, tudo lógico, tudo razoável...
Acontece, porém, que nos últimos tempos alguns de nossos companheiros deram
noticias de nossas organizações aos homens encarnados. E sabem o que se
verificou? Há grande barulho, em torno de nossos correios. Os próprios copistas
de nosso esforço respiram imensa revolta. Dizem que não temos personalidade, que
os “mortos” são plagiadores dos “vivos”, que nossas cidades, leis, instituições
e equipamentos, que toda a nossa multimilenária estrutura de ordem e trabalho
não passa de reflexo da cultura deles. Se pudessem, moveriam ação judicial
contra nós, junto aos gabinetes da engenharia divina...
Não julgam tudo isso espantoso e incompreensível?
Ninguém respondeu; mas, porque o nobre instrutor sorrisse francamente, a nossa
gargalhada geral se espalhou, envolvente e cristalina.
Por: Irmão X, Do livro: Lázaro Redivivo. Médium: Francisco Cândido Xavier
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