Ensinar, por Espíritos Diversos
Sexualidade
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Introdução
O tema central da XXI CONRESPI – Confraternização Regional Espírita, realizada
em São Carlos no período de 1 a 4 de março de 2003, foi “Sexualidade, uma
abordagem espírita”, sendo que tivemos o grato ensejo de proferir a palestra e
de participar de animado “pinga fogo” de encerramento, focando o mesmo assunto.
Assim, aproveitando o estudo que realizamos para aquele evento e simultaneamente
marcando nosso agradável retorno às páginas da querida RIE, faremos aqui um
resumo da pesquisa, mas que, pela exigüidade do espaço e pela nossa conhecida
limitação, não tem a mínima pretensão de esgotar um assunto polêmico e
sobremaneira complexo como este.
O trabalho aborda, primeiramente, as variadas manifestações sexuais, com base em
estudos genéticos, médicos e psicológicos, entra na visão espírita da
problemática sexual e chega a modestos e despretensiosos pontos conclusivos,
seguindo-se a indicação completa da bibliografia citada no texto.
1. Manifestações sexuais
Vários fatores têm influência mais ou menos decisiva na opção que o indivíduo
adota para sua identificação e afirmação sexuais, como os de natureza
fisiológica (sexo genético, gonadal e fenotípico), psíquica, familiar, social,
médica, religiosa e jurídica. Mas antes disso já houve, no plano espiritual, a
escolha feita pelo Espírito, que optou por uma encarnação em corpo masculino ou
feminino, com certas variáveis que podem ocorrer por conta do seu passado. Daí
falar-se em: a) heterossexuais; b) homossexuais; c) intersexuais, e, d)
transexuais. Vejamos alguns detalhes sobre cada uma dessas categorias para, em
seguida, focarmos o assunto sob o ângulo espírita.
1.1. Heterossexuais — O prefixo grego hetero significa ‘diferente’, e, no campo
da sexualidade, indica a pessoa que escolhe outra do sexo oposto não só para
relações íntimas, como também para a plenitude do casamento.
Assim, a definição de um indivíduo heterossexual começa a partir da fecundação
do óvulo de sua mãe por um espermatozóide do seu pai. Na formação desse embrião,
a primeira fase vai determinar se ele será do sexo masculino ou feminino
(chamado sexo genético), dependendo da forma pela qual os cromossomos dos
gametas dos genitores se unem. Como a mulher é homogamética (XX), cederá sempre
um cromossomo X. O homem que, ao contrário, é heterogamético (XY) cederá um
cromossomo X ou Y. Disso resultará um ovo XX (feminino) ou XY (masculino) sem
contar a possibilidade da ocorrência de erros (como veremos no estudo da
intersexualidade).
A fase seguinte, que acontece mais ou menos na oitava semana de gestação,
marcará a diferença gonadal do sexo do indivíduo. Assim, presente um cromossomo
Y, a gônada se diferencia na direção masculina e o tecido se volta à forma
testicular típica; caso o ovo seja XX, o processo caminha para a formação
ovariana, mas, tanto num caso como no outro, só estará completo na puberdade,
quando terá início o funcionamento dos testículos e dos ovários e o surgimento
dos caracteres sexuais secundários .
Desse modo, com a clara definição de suas características anatômicas, relativas
ao sexo masculino ou feminino, a pessoa heterossexual terá essa opção reforçada
pela educação ministrada pelos pais, professores e religiosos; entrará sem
traumas na fase do namoro, noivado e casamento, constituindo sua família e
gerando filhos.
1.2 Homossexuais — O prefixo grego homo significa ‘mesmo’ ou ‘igual’ e não pode
ser confundido com o correspondente latino, que se refere aos primatas (ex. homo
erectus; homo sapiens). Assim, homossexuais são pessoas que preferem outras do
mesmo sexo para relacionamento íntimo.
Tal como o heterossexual, o homossexual não apresenta problemas na formação
fetal, possuindo genitália interna e externa compatíveis com o seu sexo
anatômico. Em geral, o homossexual procura esconder sua condição dos amigos e da
família, cultivando hábitos relativos ao seu sexo, para evitar o preconceito.
Porém, também há homossexuais, normalmente masculinos mas sem excluir alguns
femininos, que não apenas assumem publicamente sua posição, como adotam ainda um
comportamento fetichista, usando roupas típicas do outro sexo, incluindo aqui o
grupo dos travestis, valendo observar que estes não têm a mínima pretensão de
esconder sua condição, tanto pela bizarrice da sua indumentária, quanto pela
imitação grotesca das mulheres, não deixando qualquer dúvida no que se refere ao
seu sexo verdadeiro.
1.3 Intersexuais — Vimos que normalmente um embrião com cromossomos XY deverá
resultar em homem e outro com XX em mulher. Porém, podem às vezes ocorrer erros
cromossômicos na formação fetal, que causam hipertrofia na genitália interna e
externa da criança, determinando o nascimento dos chamados hermafroditos.
Vale observar que o ‘hermafrodito verdadeiro’ é uma figura mitológica, porque
ele teria simultaneamente genitálias masculinas e femininas, internas e
externas. Assim, seria capaz de fecundar-se a si próprio, gerar, dar à luz e
amamentar uma criança, o que jamais ocorrerá, porque os órgãos masculinos e
femininos estão situados em condição de absoluta incompatibilidade com a
tese'>hipótese figurada.
Entretanto, esclarece Matilde Josefina Sutter, citada por Antônio Chaves, que “o
número de indivíduos intersexuados não é tão reduzido quanto possa parecer à
primeira vista. Somente na Unidade de Intersexo do Hospital Darcy Vargas em São
Paulo, no curso de cinco anos se apresentaram 66 casos”. Esse verdadeiro drama
vivido pelos hermafroditos é praticamente ignorado pela população. Decerto foi
por essa razão que o autor Benedito Rui Barbosa, depois que tomou conhecimento
do assunto, popularizou o hermafroditismo com a personagem Buba, interpretada
pela atriz Maria Luiza Mendonça, criada por ele na telenovela Renascer.
1.4 Transexuais —Transexuais são pessoas que têm a convicção de pertencer ao
sexo oposto, cujas características querem possuir, ou até já obtiveram através
de procedimento cirúrgico, de forma artificial e adaptativa.
Note-se que o transexual é muito diferente do intersexual (pseudo-hermafrodito).
De fato, este pretende uma definição do seu sexo, por causa da atrofia da
genitália. Assim, para que possa recuperar sua auto-estima, regularizar o
registro e os documentos e até casar-se, necessita de uma cirurgia reparadora,
que é aceita pelo Código de Ética Médica e pela lei. A mesma coisa já não
acontece com o transexual, pois se ele é anatomicamente um homem, afirma que sua
alma é feminina, e vice-versa. Desse modo, procura esconder sempre seus traços
sexuais, usa roupas do seu ‘sexo psíquico’, não é e nem busca um homossexual
para relacionamentos e sonha em ser operado para mudar de sexo.
Aliás, essa cirurgia é muito complexa, irreversível e não é legal no Brasil. Em
tese'>síntese, se o transexual for masculino, o procedimento cirúrgico consiste na
amputação do pênis e dos testículos, seguida pela construção de uma vagina
artificial, revestida de pele e não de mucosa, o que implica na ausência de
elasticidade e de lubrificação. Quanto ao transexual feminino, a cirurgia
consistirá no fechamento da vagina, na amputação do clitóris, seguindo-se a
implantação do pênis e dos testículos de silicone.
Toda essa artificialidade resultará em inúmeros problemas, a começar pela
imperiosa necessidade de tratamento psicoterápico, além das dificuldades
inerentes aos registros públicos, pois nem todo juiz está disposto a autorizar a
retificação do nome e do sexo da pessoa operada.
Isso tudo sem esquecer que, se o transexual ainda não tem parceiro antes da
cirurgia, estará na obrigação moral e legal de revelar-lhe a verdade, sob pena
de sérios transtornos no relacionamento futuro.
2. Visão espírita da sexualidade
O Dr. Geremias Rodrigues Vilella costumava alertar, em suas proveitosas
palestras, que além do chamado conteúdo personímico, relativo à presente vida de
cada pessoa e o único reconhecido pela psicanálise tradicional, o inconsciente
tem ainda os seguintes estratos:
a) conteúdo pré-anímico do inconsciente – Refere-se ao período em que o
princípio inteligente estagiou nos reinos mineral, vegetal e nos animais da
escala filogenética; e,
b) b) conteúdo anímico do inconsciente – Entrando no uso do seu livre-arbítrio,
o Espírito humano, como individualidade, inicia sua longa escalada evolutiva,
partindo dos seres primitivos, passando por incontáveis experiências como homem
e como mulher, até chegar à personalidade atual.
Pois bem, antes de reencarnar, ainda na erraticidade, o Espírito, com a
orientação dos instrutores espirituais, programa a futura existência carnal,
tendo como base o seu passado, conforme vimos acima. No que se refere ao sexo, a
ele não faz diferença eleger o corpo de um homem ou de uma mulher, pois o que
vai servir-lhe de guia nessa escolha são as provas pelas quais haverá de passar,
uma vez que os Espíritos não têm sexo, como o entendemos no mundo corporal,
porquanto os sexos dependem da organização. Na verdade, reina entre eles amor e
simpatia, baseados na concordância dos sentimentos. Acrescenta ainda Allan
Kardec que “Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm
sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição
social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de
ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem
os homens.”
Durante a fecundação e a gestação, o perispírito dará a conformação física a um
feto, masculino ou feminino, em perfeita consonância com os ensinos da genética
já vistos. Porém, tudo sob o comando do Espírito reencarnante, que traz a
predominância da polaridade do sexo masculino ou feminino bem definido
(heterossexualidade), ou os desvios que podem conduzi-lo, dependendo do seu
livre-arbítrio, à busca de parceiros do mesmo sexo (homossexualismo), ou a
interferência de fatores que irão provocar a atrofia sexual característica dos
intersexuados (hermafroditismo), ou, finalmente, a angústia de ser um Espírito,
com marcante polaridade masculina, ocupando um corpo feminino, ou vice-versa (transexualismo).
Em uma frase, a posição de hetero, homo, inter ou transexual de uma pessoa, além
de fatores genéticos, familiares e sociais, depende sobretudo da sua condição de
Espírito imortal, através do seu passado milenar, no qual vivenciou experiências
sexuais variadas.
Resumindo tudo isso, o Dr. Hermínio C. Miranda, no livro que concluiu para seu
amigo, o saudoso confrade Dr. Deolindo Amorim, assevera, de maneira
insofismável, que a “visão espírita da problemática sexual, como um todo, e da
homossexualidade em particular, é, portanto, infinitamente mais abrangente,
responsável e inteligente do que a visão unilateral que se tem a partir de uma
postura meramente organicista, biológica, material. Somos espíritos e estamos
num corpo físico. O Espírito não tem sexo, como entendemos, e sim uma poderosa
energia criadora suscetível, como toda força natural, ao uso e ao abuso. A cada
desvio num sentido há um infalível repuxo noutro. O processo evolutivo lembra o
movimento pendular. Quanto mais avança num sentido, mais terá que retroceder no
oposto. Quanto mais violenta a ação de ida, mais ampla a reação de volta, até
que, eventualmente, com a gradativa redução da periodicidade, a oscilação se
extingue e o movimento se aquieta no repouso. É o equilíbrio, é a paz. Não mais
será necessário consumir energia para movimentar o mecanismo grosseiro e por
isso sobrará energia para as conquistas transcendentais do espírito imortal.”
Conclusão
O casamento, ou a união permanente entre um homem e uma mulher, é “um progresso
na marcha da Humanidade” e portanto há de predominar sobre outros tipos de
escolha sexual. Mesmo os celibatários, que escolhem permanecer solteiros apesar
de aptos para o casamento, quando o fazem por egoísmo desagradam a Deus e
enganam o mundo; mas têm seus méritos quando renunciam à família para se
dedicarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade (O livro dos
Espíritos, questões 695, 698 e 699).
Desse modo, ao longo dos tempos, as pessoas criaram o costume do namoro e do
noivado, antecedendo ao casamento, para que possam conhecer o caráter e a
personalidade dos seus futuros cônjuges, e assim acontece ainda entre famílias
estruturadas nessa tradição saudável e de grande utilidade na formação da
família.
Entretanto, com a emancipação da mulher, o uso indiscriminado de
anticoncepcionais e a liberação dos costumes, têm surgido algumas práticas que
são, no mínimo, discutíveis. Uma delas é o “ficar”, palavra que designa o
encontro e a permanência de jovens de sexos opostos, que muitas vezes sequer se
conhecem, e durante esse “ficar” trocam todo tipo de carícias, podendo variar de
um simples beijo até relações sexuais.
Outra novidade é a intensificação do sexo casual, sem nenhum compromisso
anterior ou posterior ao ato sexual. Isto era comum entre os homens e agora
conta com a adesão de mulheres de todas as idades, motivadas por telenovelas,
filmes, livros e revistas pregando a irrestrita igualdade entre os sexos, mas
com sentido dúbio e falacioso.
Acrescente-se a isso os altos índices de infidelidade conjugal, masculina e
feminina; a insistência na legalização da união de homossexuais; o crescente
número de operações para mudança de sexo e a proliferação dos travestis, e não
será de assustar que a AIDS e outras moléstias sexualmente transmissíveis
estejam dizimando a população, principalmente entre os jovens. Ademais, essa
desagregação da família causa problemas de múltipla natureza, desde o aumento da
infância abandonada, até o recrudescimento da criminalidade, especialmente do
tráfico de drogas, armas e mulheres, dificultando as coisas para as pessoas de
bem.
Por isso, é imperioso difundir entre as massas que o casamento, a constituição
da família e a fidelidade conjugal ainda são — e serão sempre — as melhores
armas contra todos esses males da atualidade. Bem-humorado como era, o prof.
Henrique Rodrigues costumava dizer que se “o amor que um torcedor sente por seu
clube ou escola de samba, existisse entre um homem e uma mulher, não haveria
divórcio. Seu clube favorito pode estar na lanterna, apanhar de todos, servir de
alvo para zombarias. O torcedor desse clube sofre calado, humilhado, mas não
abandona seu amor por ele. É só perguntar a um corintiano, se seu clube ficou
fora do campeonato, se ele vai torcer pelo Palmeiras que está classificado. E a
um flamenguista no Rio, que também ficou de fora, se vai torcer por outro clube.
Nunca!”
Com isso encerramos essas breves notas sobre a sexualidade humana.
Por: Eliseu da Mota Jr, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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