Ensinar, por Espíritos Diversos
Família: Espaço de Conveniência
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A história das relações familiais sempre esteve atrelada à
história do conhecimento humano. Na Idade Primitiva, quando o conhecimento do
uso da força era vital para estabelecer a sobrevivência, as relações familiares
também mantinham essa base, onde o mais forte comandava o grupo, levando o homem
ao poder e a mulher à submissão. O contato com a natureza e a realização dos
mitos para explicar seus diversos fenômenos também se refletem na família, como
no caso da gestação, tornada um símbolo e comemorada em rituais sagrados,
mitificando o poder masculino na fecundação. Com o avanço do conhecimento e o
progresso social, complexificando o mundo das relações humanas, o grupo social
inicia a procura de uma estabilização, aparecendo a figura do casal - um
pertence ao outro - e os frutos desse envolvimento, os filhos. A família pode
então ser definida como sendo o grupo formado por pai, mãe e filhos.
Os cultos religiosos, de uma maneira geral, serviram para ajustar esse perfil,
na procura de conceitos éticos para o viver humano. Gregos e romanos, através
das leis, procuraram manter a família, determinando direitos e deveres. Mas as
guerras, a predominância de um conhecimento mitológico e a prevalência do uso da
força continuariam a manter a submissão feminina no trato doméstico, e mesmo a
submissão dos filhos às ordens paternas (internas) e oficiais (externas).
Com o advento do cristianismo há uma retomada da discussão de ordem moral sobre
a família, logo depois ofuscada de falso moralismo e preconceitos diversos.
Entretanto, a verdade é que Jesus, para escândalo de muitos, protegeu a mulher e
as crianças, exaltou suas virtudes e conclamou a família para uma união legítima
com base na fraternidade. É o que hoje consagramos como "direitos iguais". O
grande erro cometido por seus seguidores, e entenda-se aqui os teólogos da
Igreja Católica, arrogando-se uma outorga divina absolutamente questionável, foi
declarar que a mulher não possuía alma. Cometeram, na entrada do período chamado
Idade Média, não apenas uma grave injustiça, mas uma aberração doutrinária
frontalmente contrária ao conhecimento já então estabelecido.
A família, enquadrada em numerosos conceitos sem razão, perdeu a espiritualidade
para fixar-se no imediato materialista.
Somente a partir do século XVII, com as relações sociais mais estáveis e a
crítica científica sobre a religião estabelecida, a família retoma os conceitos
éticos de sua formação, estabelecendo o padrão mais conhecido: pai, mãe, filhos,
avós, tios, sobrinhos, o que prevalece até à metade do século XX, quando a
corrida pelo conhecimento, o domínio tecnológico, as filosofias libertárias e a
ânsia do não compromisso bilateral, esfacelam as relações familiares. Hoje,
redefinimos a família numa visão mais ampla e mais dinâmica, e concentramos as
discussões sobre as questões do relacionamento familiar. Isso porque a
desestrutura moral caracterizada pelo adultério, sexo livre, aborto, consumo de
drogas, separações, violência doméstica é de tal magnitude, que já não nos
interessa simplesmente definir família, mas entendê-la enquanto espaço de
convivência de seres humanos. Quais as suas finalidades? Quais são seus
objetivos? E sua influência na estrutura social? Qual seu papel na formação da
personalidade de seus componentes? Como deve ser compreendida do ponto de vista
das relações ético-morais? Responder essas perguntas pode tornar-se um exercício
exaustivo, pois a profundidade do conhecimento humano oferta-nos teorias e mais
teorias, caminhos e mais caminhos.
Vamos estabelecer, como princípio básico do nosso raciocínio, que as relações
familiais são acima de tudo, de ordem moral. Como prova dessa afirmação aí estão
as pesquisas, estatísticas, noticiários, tão fartas que páginas e mais páginas
não dariam conta de seu conteúdo. E podemos chamar a nosso testemunho o
cotidiano das famílias que conhecemos, inclusive a nossa, quando percebemos
nelas um desgaste emocional acentuado e uma intrincada rede de dissabores morais
Sendo as relações familiais de ordem moral, fica claro que as questões
empregatícias, salariais, orçamentárias, culturais, de lazer, etc., ficam
subordinadas aos padrões éticos estabelecidos para a convivência.
Na família antiga encontramos um espaço de convivência maior entre seus membros,
embora aqui não estejamos discutindo sua qualidade. Na família atual, pelo
contrário, e apesar das facilidades tecnológicas, encontramos um espaço de
convivência menor. A própria tecnologia é responsável indireta por isso, pois
ocupamos espaços vitais para assistir televisão, ouvir música, navegar na rede
mundial de computadores - a Internet - e assim por diante. Diante disso, somos
forçados a declarar, em reconhecimento, que a família atual necessita de suporte
para encontrar seu equilíbrio moral.
A família deve participar de grupos sócio-educativos que proporcionem a ela uma
retomada do seu papel e permitam uma discussão dela mesma enquanto espaço de
convivência de seres humanos.
Deve o leitor estar se perguntando: e o Espiritismo? Quando o autor deste artigo
vai citar a Doutrina? Mas já a citamos. Estamos com ela desde o princípio. Pois
nosso pensamento está todo assentado nos princípios espíritas.
Quem nos diz que a família é espaço de convivência são os Espíritos ao
responderem à questão 714 de "O Livro dos Espíritos": "Os liames sociais são
necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais: eis
porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim,
aprendessem a amar-se como irmãos."
Para aprender a amar seus irmãos, é preciso conviver com eles, estar com eles,
relacionar-se com eles, descobrir-se com eles, nas alegrias e tristezas,
construindo-se ao mesmo tempo em que ajuda o outro a construir-se e recebe
auxílio daquele que está com você. A família é esse lugar, esse espaço de
convivência, reunindo Espíritos através dos laços de afinidade, dos débitos
passados, das promessas futuras, sempre proporcionando oportunidades de
progresso no campo moral.
Cabe ao Centro Espírita dimensionar os serviços de suporte à família atual, mas
não de forma isolada. Deve o Centro Espírita integrar suas ações com outras
instituições, tanto de caráter religioso como social, na busca da melhor
qualidade do atendimento individual e coletivo, naturalmente sem perder sua
identidade doutrinária, mas objetivando o resgate da ordem moral que deve
alicerçar a família como espaço de convivência.
Entre os serviços de apoio à família, destacamos os cursos de formação para os
pais. Allan Kardec, em artigo publicado na "Revista Espírita" de fevereiro de
1864, assim se pronuncia, enaltecendo o Espiritismo como doutrina capacitada
para fomentar a educação moral:
"Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra
maneira; sendo o seu objetivo o progresso moral da humanidade, forçosamente
deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da
moralização das massas. Um dia compreender-se-á que esse ramo da educação tem
seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é
uma verdadeira ciência; talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de
família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a
de conhecer o Direito."
O conhecimento moral deve ser propiciado aos pais pelo Centro Espírita, que é a
instituição capacitada para trabalhar a família do ponto de vista da
reencarnação e de sua finalidade, como espaço de convivência de Espíritos que
trabalham seu progresso moral.
Por: Marcus Alberto de Mario, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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