Os Mais Perigosos Espíritos, por Orson Carrara
Apreciando Satélites
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Indaga você como apreciam os espíritos desencarnados a proeza da ciência
humana enviando ao espaço os primeiros satélites artificiais e só nos cabe
responder-lhe que nós, os estudiosos, desenfaixados da teia física, achamo-nos
ao lado da iniciativa, assim como larga torcida de futebol, aguardando o êxito
do nosso time terrestre.
Sem a preocupação do observador chumbado ao solo, de lente em punho, vimo-los
também deslocando-se no céu, pequeninos fantasmas encerrando aparelhos e pilhas
que, recolhendo informações da imensidade e transmitindo-as com a lealdade
possível, simbolizam por si as preciosas sementes das grandes astronaves
imaginadas agora para as gerações do futuro.
Aquecendo-se bruscamente ao contato dos raios solares, quando de passagem sobre
a face iluminada do globo, e resfriando-se, de súbito, ao atravessarem a face
noturna do orbe, endereçam aos homens valiosa contribuição ao estudo da
ionosfera, da radiação corpuscular do Sol, das torrentes de forças cósmicas e
dos campos eletrostáticos em zonas superiores da atmosfera, sem nos referirmos
às observações positivas quanto ao comportamento das ondas de rádio e quanto à
importância das correntes magnéticas circulantes que envolvem o corpo ciclópico
do Planeta.
Que essas máquinas primorosas constituem os primeiros passos do homem físico
para a conquista do espaço cósmico, não duvidamos de leve.
Dominado o problema do combustível para a criação de motores que ainda não
existem na Terra, o homem poderá realmente concretizar as idéias do
radiotelecomando para foguetes interplanetários que o induzirão às mais
arrojadas pesquisas.
Desdobrar-se-lhes-ão aos olhos maravilhados caminhos que nunca pode fantasiar e
a generosa moradia em que estamos residindo há tantos séculos, com seus
continentes e mares, cidades e florestas estará reduzida a singelas proporções,
ante os vôos imensos e sonhos astronômicos que tomará, de assalto, a mente do
porvir.
Entretanto, ao lado das grandes aspirações da ciência moderna, que incluem
viagens a Vênus e Marte tanto quanto a formação de bases na Lua, com escalas
pelas ilhas volantes a serem construídas no firmamento, encontramos questões
morais estarrecedoras.
É que, junto à física nuclear para fins pacíficos, suscetíveis de nortear a
civilização para mais altos níveis de segurança e progresso, vemos a bomba
atômica produzida em massa para golpear essa mesma civilização culta e nobre e,
ao pé dos foguetes de propulsão que transportam os satélites de sondagem,
situando-os a grande altura, assinalamos a presença do foguete balístico
intercontinental, com capacidade de arrazamento jamais prevista.
Desse modo, admiramos a grande empresa e formulamos votos sinceros para que os
pioneiros da astronáutica prossigam destemerosos, na gradativa superação do
estágio humano, em plena conquista dos valores universais, associando, porém,
aplauso e receio, alegria e dor, ante a estreiteza do sentimento que baseia o
arrojo do raciocínio.
Sem respeito à vida do próximo, o homem ameaça a estabilidade da própria vida e
qualquer conflito entre as nações da atualidade pode trazer ao campo bélico a
exibição de engenhos mortíferos capazes de envenenar o ambiente do mundo ou de
alterar o leito das grandes águas, paralizando ou destruindo a construção que
ultrapassa milênios numerosos de esforço da inteligência.
Ainda assim, não somos clientes do derrotismo.
Prossigamos confiantes, trabalhando e aprendendo, na esperança de avançar nos
domínios do Cosmo, guardando a certeza de que a Terra é uma casa de Deus
concedida a nós, por empréstimo, a fim de que nela façamos o curso evolutivo que
nos fala de perto, à luz da imortalidade, e se os homens nossos irmãos lhe
complicarem os fundamentos, insultando-lhe os alicerces, resta-nos o supremo
consolo de que a Misericórdia Divina, paciente e imutável, permitir-nos-á, como
é certo, começar tudo de novo.
Por: Irmão X, Do livro: Histórias e Anotações. Médium: Francisco Cândido Xavier
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