Ensinar, por Espíritos Diversos
Pretensão Descabida
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Nada como o tempo para colocar à mostra nossa fragilidade humana, a visão
limitada das ocorrências e a imaturidade que nos caracteriza o comportamento,
iludindo-nos em pretensões, que depois mais tarde com a experiência dos anos,
percebemos o quanto necessitamos de amadurecimento no trato com as variadas
questões da vida humana.
Isso vale para tudo. Nem é preciso dizer. Na experiência familiar, na vida
profissional ou nos demais segmentos de atividades a que nos dedicamos nos
relacionamentos humanos, o tempo é sempre o maior aliado, trazendo realidades
que nem sempre enxergamos no ardor das paixões e dos apegos que ainda nos
permitimos, iludidos de vaidades.
Aquele personagem nasceu em família espírita e, desde pequenino, esteve com os
pais, envolvido com as contínuas e crescentes atividades da instituição a que a
família se vinculava.
Vivenciado as várias fases do próprio desenvolvimento pessoal, na idade adulta
chegou à Presidência da mesma instituição e viveu período muito produtivo e
intenso de atividades, exercendo a função por vários mandatos, adquirindo sim
vasta experiência e, de certa forma, envolvendo a região em eventos doutrinários
memoráveis, com vasto intercâmbio com renomados palestrantes e tarefeiros
espíritas da região e do país, tornando a pequena cidade e a própria instituição
em foco irradiador de motivação para o estudo e a vivência doutrinária.
Realidade que construiu graças a operosa equipe envolvida no mesmo objetivo.
Porém, nessa época de entusiasmo e alegria pelos frutos colhidos em abundância,
um expressivo equívoco foi cometido. Uma afirmação descabida, pronunciada talvez
por exagerado entusiasmo e até certa ingenuidade, traria lição de profundo
aprendizado. Afirmou nosso personagem que seu desejo era “fazer da instituição
um modelo para outras”.
A partir dessa pronúncia iniciaram-se as tempestades, que atingiram a
instituição e seus trabalhadores de forma intensa, repetindo-se em situações que
abalaram os relacionamentos, criando verdadeiro caos, que trouxe anos de
aflições e tensões de vulto, que, de uma forma ou outra, atingiram a toda a
equipe, desestruturando quase que por completo os trabalhos em andamento.
Atualmente, olhando-se pelo retrovisor, percebe-se a pretensão descabida da
afirmação infeliz. Claro que não foi a frase em si, mas o sentimento que a
norteou. Talvez uma vaidade, talvez um orgulho, que acionou o gatilho próprio
desencadeador das crises comuns que surgem para nos amadurecer.
Pretensão descabida sim. Nenhum de nós (ou a instituição que dirigimos) é modelo
para ninguém, considerando nossa condição de aprendizes ainda iniciantes. Somos
ainda frágeis, imaturos, para nos auto promovermos à condição de condutores
capazes, eficazes, infalíveis, como se nossa suposta capacidade nos autorizasse
a tais posturas, cuja autoridade moral ainda não foi adquirida. Em todos os
lugares está a fragilidade humana que se reflete de várias formas nos variados
segmentos. Daí as crises sociais abundantes.
Vendo a lição e o rumo real dos fatos, o aprendizado foi enorme, expressivo,
assimilado, que funciona hoje como autêntica vacina contra pretensões que possam
se insinuar. A lição foi dura, mas previne hoje dos perigos e ciladas da ilusão.
Ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Somos todos iguais na origem e na
destinação, ainda que diferentes nas bagagens, experiências ou tendências e
gostos. Cada um no seu tempo, na sua experiência, mas todos ainda frágeis e
limitados. Iludir-se com nomes ou cargos, situações temporárias – como são todas
as que vivemos – ou ocorrências tolas que são tão comuns, criar expectativas ou
alimentar tolices bem dispensáveis, é bem caminhar para decepções futuras.
Por isso, aprendamos com as lições vivas da experiência trazida pelo tempo.
Pretensões descabidas a nada levam. Só fomentam aflições.
Claro que não foi a frase, há vários fatores envolvidos em toda a ocorrência,
com aprendizados para todos. Para o personagem, todavia, olhando no tempo agora,
a lição foi expressiva, convidando à prudência e cuidado nas afirmações
prematuras que nos permitimos sem reflexão. Intenção foi nobre. Equívoco esteve
na pretensão. E talvez nem tenha sido pretensão, mas entusiasmo irrefletido,
outro cuidado que se deve ter.
O personagem citado, caro leitor, quem é? Pode ser qualquer um de nós...
Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo autor
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