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Nada consolava aquele coração materno. Quem a visitava podia lhe descobrir, de imediato, o estado lamentável.

Parecia uma sombra a se mover, entre as quatro paredes do lar.

Chorava e maldizia o acontecido.

Seus dois filhos, no caminho da escola, haviam sido colhidos por uma moto, em alta velocidade.

O motoqueiro perdera o controle, invadira a calçada e jogara os dois pequenos contra um poste.

Com ferimentos graves, foram levados ao hospital, de imediato. Mas não resistiram.

A revolta daquela mãe não tinha tamanho. E, entre a dor da ausência dos filhos queridos, colhidos pela morte, clamava por justiça.

Era preciso que aquele rapaz fosse castigado duramente.

Passado algum tempo, ela soube que o motoqueiro sobrevivera e estava no hospital, muito ferido.

Uma amiga, que fora visitá-lo, lhe veio dizer que, nos momentos em que adquiria lucidez, rogava perdão pelo que ocasionara.

Queria poder se desculpar, embora soubesse que nada traria de volta a vida das duas pequenas criaturas.

Os dias foram passando. E, finalmente, Wilma resolveu visitá-lo, levada por uma amiga.

Ele estava sob o efeito de fortes sedativos, tendo ao seu lado uma mulher sofrida e chorosa. Era sua mãe.

Foi então que Wilma se deu conta de que o sofrimento não era somente seu. Aquela mulher sofria pelas dores do filho. Também pela sentença judicial que, de futuro, ele teria que enfrentar.

Algo comoveu Wilma. Eram duas mães que choravam os filhos: uma por aqueles que haviam partido e a outra pelas dores presentes e futuras do filho.

E Wilma voltou e voltou ao hospital. Começou a conversar com aquela mãe, e ouviu, repetidas vezes, o pedido de perdão do rapaz, na medida em que melhorava seu estado físico.

Ele sabia que errara e muito. A impaciência o levara a acelerar e acelerar. Fora inconsequente. E agora sabia o quanto.

Não podia consertar o que fizera. A justiça o julgaria, ele sabia. Mas isso não consolaria aquele coração materno.

O sofrimento costuma endurecer nossos sentidos.

A primeira reação dos que sofremos uma agressão, um trauma ou uma contrariedade é o revide automático, sem análise profunda da situação e das condições do agressor.

A ideia de que podemos resolver os impasses de forma racional e iluminada é tida como tolice para muitos.

Causa surpresa quando pessoas mais calmas e esclarecidas procuram normalizar situações apenas com um gesto ou diálogo respeitoso.

É da lei maior o dever de nos amarmos uns aos outros.

E como é prazeroso encontrarmos um amigo que nos traz ao coração sentimentos alegres e saudáveis.

Nesses momentos nos sentimos mais perto do que chamamos felicidade.

Quando nos dispomos a refazer uma amizade que se truncou por qualquer motivo, nosso coração parece tornar a florir.

Ao conseguirmos que alguém magoado reveja sua postura e tudo recomece do início com o propósito de paz, acabamos felizes com a alegria que surge.

Amar aos que nos amam é cômodo, é fácil.

Amar aos desafetos, aos que nos fazem mal, nos fazem sofrer é mais difícil.

No entanto, tudo começa no processo de tentarmos desculpar, depois perdoar. E, finalmente, deixar de querer mal a quem nos fez mal.

Este é o caminho do amor.

Se o amor ao próximo representa o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio.

A posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.


Por: Momento Espírita, Redação do Momento Espírita, com transcrições do cap. XII, item 3, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. Do site: http://momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=5573&stat=0


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