Prece dos Obreiros, por José Silvério Horta
A Aparência e o Caráter
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"Preocupe-se mais com o seu caráter do que com sua reputação,
porque o caráter é o que você é, e a reputação é o que os outros pensam de
você."
John Wooden
As aparências enganam. Este ditado popular é mais profundo do que se imagina,
principalmente na nossa sociedade de consumo, de massa, onde os valores morais,
os princípios éticos cedem lugar a um pragmatismo desumano e cruel.
Não que a aparência não seja importante. Penso que, na declaração dos direitos
humanos, deveria ser incluído o sagrado direito à beleza com todas as
implicações necessárias. O acesso a cirurgias plásticas, por exemplo, deveria
ser popularizado, ao invés de ficar restrito à elite e ser visto como algo
fútil. O direito a uma cidade bonita, a espaços urbanos bem cuidados, a uma
arquitetura digna deste nome, a programas televisivos tão elegantes quanto
éticos, enfim, o direito ao belo e, quem sabe, como diria Kant, ao sublime.
Afinal, mesmo que a matéria seja sempre a mesma, imutável talvez em sua
estrutura, a forma varia ao infinito, o formato evolui conjuntamente com a
inteligência. Forma e estrutura, inteligência e matéria, evoluem, infinitamente,
segundo a filosofia espírita. Espíritos mais elevados são bonitos, no formato e
na estrutura, no conteúdo. Não é à-toa que no imaginário popular arcanjos e
serafins sejam brancos, loiros, de olhos azuis e com asas esplendorosas.
Todavia, nunca vi um anjo com cara de índio, negro ou mestiço. O nosso ideal de
beleza ainda é o helênico, meio ariano, estereotipado pelos padrões fashion,
oriundos do Primeiro Mundo.
Sempre achei o ideal de raça pura uma idiotice. Os mestiços são sempre mais
bonitos. A miscigenação será sempre desejável em uma sociedade livre, aberta e
democrática, conceito que não se aplica a muitos países desenvolvidos onde os
segmentos sociais, étnicos, são estanques.
Os romanos, já em seu tempo, sabiam muito bem a importância da aparência. Um
provérbio popular da época explicita bem isto: "A mulher de César, não basta
somente ser honesta, tem que parecer honesta". Os romanos valorizavam muito a
forma, mas esqueceram do conteúdo, do caráter.
Como diz o nosso amigo da epígrafe, nossa preocupação maior deveria ser com a
modelagem do caráter. Não há estrutura que se sustente, por mais perfeita que
seja, se nela estão pessoas sem caráter, sem preceitos morais, sem uma ética de
princípios. A mudança do meio e do ser humano tem que ser concomitante. Querer
apenas mudar o indivíduo, esperando que as estruturas assim se transformem é
ingenuidade. E querer apenas mudar a estrutura sem mudar as pessoas é uma
fantasia.
Em uma sociedade como a nossa, onde a imagem, a visibilidade, a aparência são
tão valorizadas, fica difícil seguir na contramão desse tipo de princípio. Mas é
justamente isso que o Espiritismo propõe. Ser espírita num mundo como o nosso
significa ficar indignado 24 horas por dia com as injustiças, a exploração, a
discriminação, com a extrema valorização da aparência, em detrimento do
conteúdo. Trata-se de um desafio, possível de ser colocado em prática.
Por: Eugênio Lara, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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