Ensinar, por Espíritos Diversos
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Estamos diante de um novo mundo que se comunica.
As fronteiras, uma a uma, ou todas ao mesmo tempo, se diluíram diante das
imagens de televisão, das ondas hertzianas, as quais, apoiadas nos satélites
artificiais, aproximam os povos.
O Espiritismo também aí é chamado.
Vencidas as etapas de superstição, abalados os dogmas e os tradicionalismos
religiosos, em seus fundamentos, pela ação da Ciência, após algumas décadas de
preconceitos, de indiferença ou descrença religiosa, eis que se está a clamar
pela mensagem autêntica do Espiritismo, dentro do lar.
Programações superficiais saturaram o povo.
Um povo que abraçou a instrução pede a educação.
O mediunismo foi a primeira fase de exploração.
Fenômenos de efeitos físicos, mediunidade menos ou mais espetaculosa, enigmas de
intercâmbio ou relacionamento espiritual, até na faixa da obsessão, foram
agitados diante de olhos e ouvidos curiosos.
Informações em linguagem enfatuada, quase pedantesca, com roupagem de falsa
aparência científica, com interpretações tendenciosas ou fantasiosas, foram
derramadas sobre o povo sequioso de notícias.
Mas, além da curiosidade, quer-se algo construtivo.
Foi assim que alcançamos o campo moral da Doutrina.
O Espiritismo está sendo chamado para esclarecer!
Diante da nova, mas inevitável e até esperada ocorrência, verificamos que não
apenas a mensagem de alto nível doutrinário será remetida ao povo. Teremos de
roldão muita coisa que nascerá do desejo de destaque pessoal, da ânsia de
exalçar a própria vaidade, do ímpeto de arremeter-se contra esta ou aquela seita
religiosa, além daqueles que direta ou indiretamente disputarão as gratificações
que os produtores poderão ofertar aos eventuais convidados e participantes.
Surgem questões, por conseqüência, pedindo respostas.
Seria o Espiritismo prejudicado por tal deformação?
A resposta, recolhida no trabalho do próprio Kardec, que em seu tempo enfrentou
o mesmo clima, no campo editorial, é uma só, que se repete: o bom senso popular
fará a seleção. A verdade, de que o homem comum se apercebe, estará sempre em
posição inarredável, embora insistentemente circundada por sistemas utópicos,
por fantasias, por engodos mais ou menos finamente trabalhados, pelas
interpretações pueris. O erro, a falsidade, somente lhe darão destaque.
A Doutrina Espírita permanecerá a salvo.
Ela já tem as suas bases fundamentais nas obras de Kardec e não serão
saltimbancos modernos que lhe desfigurarão os alicerces.
Não poderia Jesus impedir a desfiguração?
A Lei de Evolução, à qual todos nos submetemos, oferece-nos essas alternâncias
de conduta. Jesus não só não impedirá que o joio se misture com o trigo, como já
nos alertou em seu Evangelho de Amor que não se arranca o joio sem prejudicar o
próprio trigo. O homem não estará, nesta quadra de evolução, a salvo de enganos,
porque a mistificação é um exercício de sua acuidade intelectual e moral,
permitindo-lhe conscientizar-se de todos os seus atos.
Ele, o Mestre, sofreu as conseqüências de nossos erros.
Sabia que, pela frieza e maldade de nosso coração, seria encaminhado ao
Calvário, abandonado por amigos, esquecido temporariamente pelos beneficiados da
véspera —que tudo olvidariam sob a pressão da força dominante na época.
Não poderia, porém, violentar consciências.
Transmitiu-nos, dessa forma, todo o roteiro de redenção humana, confiando que os
milênios nos trabalhariam a alma com o buril da dor e que na rocha bruta de
nossas paixões se esculpiria o Homem angelical.
A informação incorreta não será prejudicial?
Cada um encontrará, na arena da vida, exatamente o que procura. Natural, pois,
que quem esteja buscando ilusões só com a ilusão se satisfaça, até que a
decepção lhe trabalhe o íntimo, varrendo os entulhos da alma para o seu encontro
com o Bem e a Verdade. Absolutamente justo, também, que os garimpeiros do
escárnio e da ironia, da descrença e da má fé, reúnam a lama que avidamente
buscam, para utilizá-la na sua empreitada dolorosa, até que a aridez que
cultivam no próprio coração se dissolva sob o socorro de um coração maternal, ou
finde em dramas obscuros ou em quadros patológicos de difícil diagnóstico para a
ciência atual.
De tudo, porém, sairá um homem novo.
Resultará a criatura consciente, despida de ilusões.
As alternâncias do mal não devem enfraquecer o Bem.
Deveremos aceitar o desafio da comunicação moderna, ampliando o relacionamento
espírita com o povo, sabendo que televisão e rádio, jornais e revistas, são
canais divinos pelos quais poderemos falar na intimidade dos lares ou na
intimidade das criaturas, apressando a renovação do panorama mental em nosso
mundo.
Se nos cabe policiar, policiemos a nós mesmos.
Fujamos de contendas e polêmicas, de rixas e desafios, de discussões e duelos
verbais — porque a mensagem espírita é de absoluta serenidade, dirigindo-se a
criaturas que sofrem e choram, que anseiam por Deus e se encontram confundidas
no imenso mar da vida, sabendo, contudo, que não poderemos impedir que o
interesse e a vaidade também se façam presentes através de lábios e corações
aprisionados nas malhas do egoísmo e do orgulho.
Reformador 1977
Por: Roque Jacintho, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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