Ensinar, por Espíritos Diversos
A Criança Lidando com a Apreciação Crítica
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A relação entre a criança e a literatura infantil, normalmente está sob o
controle e se define pelas normas dos adultos.
São os adultos que escrevem os livros. São os adultos que criam histórias e
personagens. São eles que escolhem o que é publicado.
São os adultos que ditam a ideologia transmitida. Organizam bibliotecas ou têm
livrarias.
São os pais que compram livros para seus filhos, quase sempre, e quase sempre
são os professores que indicam leituras a seus alunos.
E claro que, sem muitas destas iniciativas do inundo adulto, a literatura
infantil nem poderia existir. Já imaginou se não houvessem editoras, livrarias e
bibliotecas para obras infantis? Nem estaríamos aqui, escrevendo, e nossa
proposta seria totalmente vazia.
Mas o que é preciso, é que os adultos não abusem deste poder que têm. Primeiro,
eliminando o discurso autoritário dos textos considerados infantis.
Quando o narrador se aproxima do destinatário, quando abandona o status de
"sabe-tudo", e "ensina tudo", para incorporar as vivências e os conflitos do
leitor, torna-se possível transformar a experiência da leitura numa relação de
equilíbrio e troca, onde o leitor também contribui com suas idéias e opiniões
motivadas pela abordagem do autor, e sai compensado e enriquecido não só pelo
conteúdo cognitivo e moral do texto, como por suas próprias reflexões e
conclusões a respeito.
Vamos seguir adiante.
A seleção de conteúdos por parte de autores, editores e educadores é
indispensável, dentro de critérios mais ou menos gerais de qualidade, utilidade,
verdade, necessidade e moralidade. Não se pode esquecer, contudo, de que a
criança também tem suas preferências, vontades, interesses específicos, sua
linguagem e uma visão do inundo toda própria.
E ela também tem opinião.
Por isso, outro meio de contrabalançar e preponderância dos adultos num
território que é, ou deveria ser, domínio da criança, é ouvir o que ela tem a
dizer. Motivá-la a ter pontos de vista e a expressá-los. ao considerá-la mera
consumidora, paciente da relação livro/leitor, porém agente, sujeito que pensa e
dialoga, recria o lido e repensa o mundo a partir da leitura, repensando a
leitura a partir da sua circunstância.
Nas aulas fie moral cristãos textos são utilizados, em geral, com
predeterminados e específicos. Conta-se um conto para extrair trair um preceito.
Não se vê a história como arte literária e, nem mesmo, como idéia passível de
discussão.
Mas é importante conversai sobre o texto, e até sobre o "objeto" livro, no caso
de ele ter sido utilizado em sala.
Falando "de igual para igual", o evangelizador poderá iniciar este diálogo com
perguntas do tipo: "Gostou da história'.'" "Achou interessante?" "Que tal o
jeito do autor escrever? Fácil ou difícil? Gostoso ou maçante?" "Qual foi a
melhor parte?" "Ficou contente com o final?"
Sobre o livro: Que tal o livro'' Achou muito grosso, ou fino ele mais? E os
desenhos? Eram bonitos ou feios? Tinham a ver com a história, ou estavam
desencontrados? A letra era muito miudinha?
E existem muitos outros relacionados à história e ao livro que merecem ser
discutidos.
Contudo, atenção: é preciso ter coragem para baixar as defesas, expondo-a à
possibilidade de descobrir que a história que se escolheu, no fundo, no fundo,
era bem chatinha e não tinha "nada a ver", apesar de ter sido elaborada por um
grupo especializado de alguma entidade bem conceituada, ou de ter ganho um
concurso literário. Questionar o livro também é questionar o critério do
professor, o interesse da editora e a capacidade do autor de dizer algo
significativo.
Mas o resultado é positivo tanto para o adulto, que aprende a conhecer melhor as
crianças que tem diante de si, quanto para as crianças, que aprendem que livros
e histórias não são verdades intocáveis e desenvolvem a capacidade de apreciação
crítica.
Não só a desenvolvem como o que é fundamental - aprendem a lidar com ela de
forma saudável e construtiva, pois no ambiente da aula de evangelização, a
criança pode perceber desde logo que crítica não é errado, que crítica é útil e
necessária, e que é possível criticar sem ferir nem ofender.
Esta atitude do adulto perante a criança não o desautorizará perante seus
alunos. É, antes, um exemplo de humildade, que pode falar mais à criança que uma
dúzia de historinhas "xaropes" sobre o mesmo tema.
Por: Rita Foelker, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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