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Remontemos à História da Civilização humana. Recordemo-nos de que quando o Império Romano ruiu, os bárbaros, ao se verem “donos do mundo”, sentiram-se pequenos e impotentes; em seu temor fecharam-se em feudos, isolando-se. Enclausurados pela própria insegurança, dormiram um sono de 1.000 anos e sofreram a epidemia provocada pelo vírus da supertição religiosa. Surgia o autoritarismo religioso institucionalizado. A Idade Média consolidaria a “Esquina de Pedra do cristianismo, que dos conceitos puros da “Casa do Caminho” do apóstolo Pedro, tomaria o rumo da hierarquia religiosa institucionalizada.

Para o núcleo familiar rígido e preconceituoso medieval, havia uma correspondência adequada da Religião instituída nos mesmos moldes.

Núcleo familiar que representaríamos por um círculo imaginário de limites rígidos, dentro do qual uma autoridade paterna também rígida ao extremo, tendo o pátrio poder com domínio absoluto sobre a vida e destino da esposa e filhos.

A mãe exclusivamente presa ao lar, submissa e tolhida nas suas iniciativas. Os filhos recebendo educação no próprio núcleo familiar.

A religião era dinamizada também, em nível domiciliar, em nichos e capelas. A profissão paterna, mais ligada ao próprio feudo, prendia os membros da família ao núcleo familiar.

Essa situação, embora gerasse conflitos íntimos importantes, mantinha a família mais integrada resistente às pressões ambientais. Ao surgir um problema de conduta moral, os indivíduos procuravam o sacerdote que os ameaçava com um inferno terrível ou se escandalizava com o “pecado”. Eventualmente poderia até minorar os problemas, embora não existisse conhecimento do espírito humano que pudesse contribuir para soluções efetivas. Mas, para o núcleo familiar rígido e preconceituoso da época, era suficiente a religião como freio.

Nos tempos atuais vivenciamos a nova queda de um grande império. Não mais o Império Romano, mas o Império da Religião Dogmática está desmoronando.

O homem moderno, vivendo em núcleos familiares abertos (excessivamente abertos até), não mais procura solução para seus problemas na religião rígida e dogmática. Os conselheiros religiosos vão sendo substituídos pelos psicólogos, sociólogos, médicos, sexólogos etc., que às vezes também são impotentes para fornecer todas as respostas aos problemas íntimos do indivíduo e da sociedade, por desconhecerem a cosmovisão espírita e a realidade das vidas sucessivas, onde residem as causas mais profundas dos problemas atuais.

Colhemos hoje o que semeamos ontem. Nosso presente é o reflexo de nosso passado. Os núcleos familiares esvaziados com a ausência materna e paterna, os filhos em creches por dois períodos ou educados só pela babá ou TV, escolarizados longe do núcleo familiar e perdendo a ligação dependente dos pais, tão necessária para a estruturação psíquica. A religião, infelizmente, tornou-se apenas rótulo exterior ou um símbolo de limitação intelectual.

Observamos, portanto, o desmoronar do império religioso dogmático e da estrutura familiar rígida. Tivemos, na Idade Medieval, modelos infantis ou primitivos de religião e núcleo familiar: preconceituosos e limitantes. Vivemos, na Idade Contemporânea, modelos de contestação, de reação necessária, porém excessiva e desarmônica, que deverão evoluir para modelos adultos. Haveremos de ter no futuro uma religiosidade superior, não dogmática ou institucionalizada. Um núcleo familiar mais harmônico e estável, não tão rígido quanto o medieval, porém não tão esvaziado quanto o atual.

A Doutrina Espírita propõe uma análise dos problemas psicológicos e sociais fundamentada em considerações filosóficas sobre a Reencarnação, com respaldo em pesquisas científicas que investigam a existência do Espírito, com conseqüências ético-morais que orientam a reforma íntima do indivíduo. Reforma íntima que é a base para a constituição da família e de uma sociedade cristã e justa.


Revista “Reformador” - setembro 1987-Editorial


Por: Cláudio di Bernardi, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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