Ensinar, por Espíritos Diversos
Surpresa de Magistrado
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Comovidos ante a prece tocante da sofredora mulher,
acompanhamo-la à presença do juiz.
Alcançamos a casa solarenga. Deleitosa varanda. Extenso jardim.
Sem que nos pressentisse, ajudamo-la a tocar a campainha a destacar-se na parede
fidalga.
Uma serviçal atente prestativa.
Movimenta-se.
O magistrado, porém, apenas surge depois de longa espera.
Ouve, de cabeça empertigada, a visitante que chora.
- Doutor - diz ela -, peço-lhe caridade. Meu pobre marido não tem culpa. Temos
oito filhinhos passando falta. Oito filhos, doutor! Tenha piedade e ajude-nos! O
senhor não ignora que meu pobre Cecino foi sempre um chofer cuidadoso! O homem
estava embriagado quando avançou de encontro ao carro!
O juiz, entretanto, não traiu qualquer emoção no olhar frio.
- Que deseja a senhora com semelhante arrazoado? - falou irritadiço. - Quem
pensa que sou? A justiça é justiça. Seu marido foi imprudente, desnaturado.
Houve premeditação inconteste e sanearei a cidade. Tomá-lo-ei para escarmento
aos motoristas criminosos. Profissionais inconscientes! O processo foi
corretamente conduzido por mim e a justiça provará que Cecino é um homicida
quanto outro qualquer.
- Doutor, compadeça-se de nós! - clamou a infeliz.
- Nada mais tenho a dizer - falou, ríspido, o magistrado, despedindo a
interlocutora.
O juiz voltava, sereno, ao interior doméstico, quando enorme alvoroço estala na
rua.
- Socorro! Socorro! Pega o culpado! Pega o culpado!
Populares gritam em desespero.
Torvelinho na via pública.
Ao lado de luxuoso automóvel, último tipo, agita-se um rapaz aprisionado por
homens do povo. Não longe, uma criança morta.
Inteiramo-nos, então, do sucesso triste. Era o filho do juiz, que, no carro da
família, em correria desenfreada, acabava de atropelar pequenina indefesa.
Mal refeito do choque, ouvimos alguém que pede em tom respeitoso:
- Licença! Licença!
O juiz passa junto de nós com extrema agonia moral a se lhe estampar no
semblante paterno.
Abraça o filho com enternecimento de quem se compadece de um louco.
E, naquele dia, o magistrado não pode comparecer ao fórum...
Por: Hilário Silva, Médium: Francisco Cândido Xavier
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