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Uma doutrina, qualquer que seja a sua natureza, tem corpo e alma como o ser humano. O corpo é a expressão formal, a alma é a essência teórica. O corpo apresenta-se como estrutura concretamente constituída, na qual os átomos das palavras formam frases que são células, compondo estas os princípios que se integram como órgãos de um sistema unitário de pensamento, sempre animado pelo sopro de vida da alma (uma verdade ou uma fantasia).

O Espiritismo não poderia deixar de ter corpo e alma: o corpo é o conjunto de princípios que através das insanáveis limitações verbais ele oferece ao livre exame da nossa inteligência, a alma é a essência do conteúdo filosófico que ele oferta ao nosso sentimento ainda distanciado da lei de amor.

Quando apreciamos apenas o corpo do Espiritismo, dissecando-lhe com fria lógica as moléculas e os tecidos conceituais, às vezes corremos o risco de concebê-lo unicamente como ciência, mas se apuramos a sensibilidade para captar-lhe a alma vemos que ele também possui caráter religioso, embora despido das práticas e intenções do religiosismo. Isto porque a idéia de DEUS permeia a intimidade dos ensinos e revelações constantes nas obras de Allan Kardec, desde a primeira pergunta e resposta formuladas em "O Livro dos Espíritos" até ao capítulo final do último volume da Codificação.

O simples e inquestionável fato de que a idéia de DEUS - sua existência, sabedoria infinita e soberano poder sobre tudo, inclusive nosso destino individual - está presente em toda a contextura da Codificação Kardequiana basta para imprimir um sentido religioso ao Espiritismo, pois o elemento básico da verdadeira religiosidade, aquela que reside no sentimento moral e não em exterioridades, vincula-se, substancialmente, ao relacionamento da criatura com o Criador.

Sobre esta questão delicada, de tanta sutileza, convém refletirmos não só visualizando os aspectos do corpo doutrinário que mais nos agradam. Importa abrirmos a percepção para o fundamental, sem nos deter no superficial, a fim de assimilarmos o espírito do Espiritismo.