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1 – Em termos práticos, como administrar as diferenças comportamentais dos trabalhadores, de forma a oportunizar uma convivência saudável e menos sujeita a atritos e melindres, ainda tão comuns no Centro Espírita?

2 – Como trabalhar as "panelinhas" que se formam nos Centros e melindram-se demais?

Nós compreendemos que o movimento das pessoas para se aglutinarem compondo as "panelinhas" é uma tendência própria das pessoas, pelos laços de fraternidade, de amizade, de sintonia, de identidade, e que essas panelinhas podem estar a serviço da Causa, se, em função da sua dinâmica, não há comprometimento para o conjunto.

Na medida em que essas panelinhas formam facções dentro da Casa; na medida em que nós compomos determinadas ações que estão apartadas do conjunto, não somos uma equipe de trabalho que faz parte do conjunto, seremos um grupo de companheiros que está atuando dentro do Movimento, que está exatamente rompido com a unidade da Casa. Então, esse movimento, nessa circunstância, causa um descompasso, ele é perverso para a Casa, é perverso para a "panelinha" e compromete o conjunto inteiro. Então, temos que reconhecer a diferença. Enquanto nos identificamos com alguns companheiros, formamos uma equipe de trabalho, e quando nos isolamos daquela equipe de trabalho, nós achamos que só nós fazemos o certo e que os outros fazem o errado e vice-versa, e criamos vários Centros Espíritas dentro de um só Centro Espírita.

O problema das diferenças não é que as pessoas sejam diferentes, até porque as diferenças potencializam a Casa Espírita, como todos os espaços humanos. Nós todos somos diferentes, e há um objetivo divino nisso. Veja que não há dois olhares iguais; não há duas modulações de voz iguais; não existem duas pessoas iguais, ainda que fossem clonadas, como acontece na vida intra-uterina dos gêmeos que são originários da mesma célula. Eles são aparentemente iguais, mas têm diferenças marcantes na medida em que você os avalia, tanto do ponto de vista físico, quanto do ponto de vista psicológico.

Tudo o que se reflete no ser humano, enquanto a diferença, ao invés de ser um problema, nos aponta para a solução. Quando nós sinalizamos a mão e configuramos os dedos, cada um com a sua função, com a sua performance, com a sua contextura, com seu tamanho, integrados na palma da mão, eles compõem uma harmonia, uma unidade a serviço do corpo harmônico.

O Centro Espírita não tem problemas porque tem pessoas diferentes. Ele tem problemas quando não sabe integrar essas diferenças. Um jardim bonito não o é porque tem só rosas vermelhas, mas porque tem rosas, margaridas, amores-perfeitos, orquídeas, e cada flor dessas tem os seus matizes. Isso é o que dá o sentido de harmonia.

Na Casa Espírita nós vamos ver uma pessoa vinculada à prática. É aquele trabalhador que só quer saber de fazer, fazer, fazer. Então, ele é um companheiro que pode ser aproveitado intensamente, em diversas atividades, para operacionalizar as instruções quando vão se concretizar. Ele é um companheiro que está posto ali, está disponível.

Temos um outro companheiro que gosta mais de ficar idealizando, gosta de ficar sonhando, arquitetando. Ele é um companheiro extraordinário para montar um planejamento; para fazer avaliações de mudanças de estrutura da Casa; para reavaliar a dinâmica de um grupo de trabalho.

Temos outro companheiro, na Casa Espírita, extremamente racional. Tudo ele tem que medir; tudo ele tem que codificar. Para ele tem que estar tudo no quadro, numericamente. Ele é um companheiro fantástico. Ele vai ocupar um espaço de trabalho na Casa Espírita muito bom. Ele, por certo, poderá ser um excelente diretor de finanças, fazendo as contas, a distribuição. Ele será, na Casa Espírita, a lógica funcionando.

Há um outro companheiro que é mais emocional, mais afetivo, que tem um temperamento mais ardoroso, mais sensível. É um outro companheiro que tem uma função, na Casa Espírita, fantástica. Ele, na verdade, sintoniza muito bem com o sentimento; ele combina muito bem com o afeto, com o amor; é um companheiro que tem uma habilidade imensa para quando há um conflito, quando há uma dificuldade, quando há alguma resistência. Ele vai com a sua afetividade e tem o condão de desfazer.

Qual deles é o mais importante?
Enquanto não somos homens que detemos todas essas possibilidades de seres integrais, essas diferenças, que são muito mais marcantes, fazem-nos os trabalhadores ideais para composição de uma equipe.

Imagine-se um time de futebol em que todo mundo só sabe fazer gol. Iria perder. Porque, quem iria segurar a bola; quem iria fazer a defesa? Então, nós precisamos cada um ter o seu carisma, na afirmativa de Paulo. Cada um tem a sua aptidão.

Tem aquele companheiro que é mais introspectivo, que não gosta de falar. Ele não vai desempenhar a exposição na Casa Espírita. Mas será um excelente entrevistador; ele conseguirá ser um excelente trabalhador na área mediúnica, dialogando como um médium esclarecedor.

Tem aquele companheiro que está mais afeito à dinâmica do livro; ele está lá na livraria, está na biblioteca.

E assim nós vamos juntando as diferenças e assegurando a unanimidade.

O problema é nós querermos definir que o bom mesmo na Casa Espírita são aqueles que agem! Mas, se você agir sem refletir, a situação pode degenerar noutro desvio. Então, tem que ter alguém que reflita, que analise, que pondere, mas tem que ter alguém que operacionalize as ponderações, porque senão a gente define as coisas na reunião de Diretoria, na reunião de trabalho, mas nunca faz, porque não há alguém que pegue no arado, que ponha a mão na massa.

As lideranças espíritas têm que entender que as diferenças é que fazem a diferença no ser humano, e que a liderança não tem que estar preocupada em criar estereótipos, fôrmas, onde todo mundo tem que ser igual. Ela tem que se valer das diferenças para potencializar o trabalho.

Agora, cabe à liderança estabelecer um processo de pacificação, porque dentro das diferenças há os entrechoques: aqueles que reivindicam estar com a verdade; há um temperamento mais ardoroso, mais afoito; aquele que não fala mas que se magoa...

Há que administrar o conflito para que o melindre não se estabeleça, solapando a base das relações do Centro Espírita, porque a base do Centro Espírita não é o chão, não. A base do Centro Espírita são as relações que se estabelecem.

À liderança, na Casa Espírita, cabe administrar esses conflitos de relacionamento humano, procurando, naturalmente, assumir, não uma posição de juiz: você está certo, você está errado, nem a de promotor, acusando, ou a de advogado de defesa, mas ser apenas o que Jesus propôs a Simão Pedro: "Se tu me amas, apascenta as minhas ovelhas". E apascentar não é esconder as verdades; apascentar é ser fraterno, é ser amigo; é medir as relações, aglutinando; é estabelecer um diálogo fraterno, como Raul propôs ainda há pouco, evocando uma passagem do Novo Testamento.

Às vezes há necessidade de chamar a equipe para discutir, para avaliar, e a melhor forma de trabalhar isso é o dirigente, a liderança dar o exemplo. Mas, se a liderança é a primeira a ficar magoada e deixa de ir às reuniões espíritas, como é que vai ser? A liderança tem que dar a nota maior. Ela tem que ser a pedra de toque nesse processo de harmonização, e uma das estratégias que vocês têm para administrar esses conflitos chama-se avaliação. Nós temos que planejar, organizar, delegar, executar e avaliar. Infelizmente, nós não temos o hábito de avaliar, no Centro Espírita. Todo trabalho tem que estar sendo avaliado. E o pior é que a gente acha que avaliar é malhar o outro. Parece que avaliar é colocar o outro no paredão e sair bombardeando. Assim também não é avaliar. Avaliar é buscar aquilo que está ótimo e que precisa ficar; aquilo que não está bem e que precisa ser refeito, e aquilo que está tão ruim que precisa ser erradicado. É esse o processo de avaliação, que é do trabalho, que é efetivo com todos os trabalhadores num clima familiar, e de uma forma sistemática e não só lá uma vez por ano, quando o grupo já está em crise e se acabando. Se nós criarmos um sistema de avaliação sistemática, nós vamos excomungar esse tipo de ameaça que é trabalhar os conflitos, porque a gente não trabalha os conflitos de medo que haja ruptura: então a gente fica sempre escondendo, e o problema que você não trabalha está sendo gestado, vai ganhando forças. Ele não é comentado, mas está ali, implícito, às vezes determinando o movimento da Casa Espírita, e determinando de uma forma negativa. É melhor Abordá-lo na avaliação regular, onde vamos colocando e vamos aprendendo a trabalhar as nossas diferenças.

Tudo isso, se tivermos amor. Se não tivermos amor, vamos ficar como um grupo de profissionais, se aturando. Mas, se tivermos amor, a gente cede aqui, cede ali... ou a gente diz o que tem que dizer, de uma forma amorosa, de uma forma fraterna e nós vamos ganhando em profundidade. A cada conflito superado, nós nos tornamos mais maduros e a Casa Espírita se torna mais sólida.

O problema das diferenças não é que as pessoas sejam diferentes, até porque as diferenças potencializam a Casa Espírita,

Há que administrar o conflito para que o melindre não se estabeleça, solapando a base das relações do Centro Espírita

(Do jornal Universo Espírita – Nº 26 – 1º agosto de 1998).(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 98)


Por: Alberto Almeida, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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