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A límpida doutrina de Jesus teve que ser proclamada no seio da confusa comunidade religiosa de Jerusalém, onde havia o núcleo comum do culto a Javé e da observância da Lei de Moisés, mas havia vários grupos marcados por diversidade de doutrinas e de comportamento. Assim é que havia os fariseus, os escribas, a classe sacerdotal, os herodianos, os saduceus. Todos eles timbravam em apresentar objeções ao que Jesus ensinava. E no fim se ajuntaram todos contra Ele, para levá-lo aos tribunais que o condenaram.
Hoje encontramos Jesus às voltas com os saduceus. Nesta seita – cujo nome parece proceder de Sadoc, sumo sacerdote do tempo de Salomão – eram apegados exclusivamente à fidelidade ao Pentateuco. Não admitiam a ressurreição, nem acreditavam na existência dos anjos. Por isso mesmo, apresentaram a Jesus uma objeção grosseira contra a ressurreição. Apoiados na lei do “levirato” – que mandava que, quando um homem morresse sem deixar filhos, a viúva devia casar-se com o cunhado, a fim de garantir a conservação do patrimônio e a descendência do falecido – propuseram-lhe a tese'>hipótese de uma mulher que tivesse sido casada sucessivamente com sete irmãos, que tivessem todos morrido sem deixar filhos. No fim ela também morreria. De quem – perguntaram eles – seria ela mulher na outra vida? A pergunta parece até um gracejo de mau gosto. Mas Jesus responde nobremente, deixando para nós uma importante lição sobre o sentido da ressurreição: Aqui nesta vida há o casamento. Os homens se casam e as mulheres são dadas em casamento. Mas os que forem admitidos à outra vida e à ressurreição dos mortos não se casam, porque não podem mais morrer. São como os anjos de Deus. São filhos da ressurreição (semitismo, que significa “ressuscitados”) (cfr Lc 20, 34-36).
Vale a pena refletir detidamente sobre a resposta de Jesus. Os ressuscitados não vivem mais a existência própria aqui da terra. Não devemos pensar em sepulcros se abrindo, e ossos se juntando, e carne recobrindo os ossos, para refazer o mesmo corpo de antes. Talvez fosse essa a concepção menos esclarecida, de outros tempos. A ressurreição não é uma continuação da vida terrena. Quem ressuscitou não vai repetir a vida aqui da terra, sujeita às condições biológicas, ao cansaço, ao desgaste e à necessidade de alimentos. Serão como os anjos de Deus. O corpo ressuscitado é um corpo espiritual, como ensina claramente São Paulo, na primeira carta aos coríntios (cfr 1 Cor 15, 35-53). Aí se diz explicitamente que “a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade” (v.50).
(...).
Mas Jesus acrescenta ainda um bonito argumento à sua resposta aos saduceus. Quando Deus se apresentou à Moisés no meio da sarça ardente, apresentou-se como “O Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas Deus de vivos. Portanto os patriarcas estão vivos, vivem a vida da ressurreição (cfr Lc 20, 37-38). Como tudo isso é bonito e grandioso, para iluminar a nossa esperança! Deus é por excelência o Deus vivo, e nós viveremos para sempre com Ele, participando de sua vida, ressuscitados como Cristo ressuscitou. Nós cremos na vida eterna!
Do texto acima podemos claramente deduzir que apesar de muitas pessoas ainda acreditarem na ressurreição no corpo com “sepulcros se abrindo, e ossos se juntando, e carne recobrindo os ossos, para refazer o mesmo corpo de antes” não corresponde ao pensamento de Jesus. Realmente não poderia ser, pois como Ele disse: “Não cuideis que vim destruir a lei” (Mateus 5, 17), e a decomposição é o processo pelo qual o corpo devolve à natureza os elementos de onde tomou emprestado. Isso está nas leis da natureza que por sua vez são as leis divinas. Assim a ressurreição com a volta do espírito ao mesmo corpo é impossível, por isso ser contrário às leis da natureza nos afirma agora a ciência.
A compreensão da ressurreição apresentada por Jesus é a vida do nosso espírito, após devolver a terra seu corpo físico, ou seja, a vida espiritual que iremos viver na outra vida, quando regressarmos à pátria espiritual pela porta da morte. Expressa de maneira clara no “tu és pó e em pó te tornarás” que é a lei natural que estamos falando.
Assim mesmo depois de mortos viveremos, pois iremos ressuscitar, ou seja, ressurgiremos em espírito para a nova vida.
Mas afinal que texto é este que foi colocado para estudo? Quem é o seu autor?
Não falamos nada ainda é para não tirar a graça. Primeiro, nós queríamos fazer este pequeno comentário para depois dizer de quem é a autoria. Isolado é quase certo que todos que tiverem a oportunidade de lê-lo ficará com a nítida impressão de se tratar de um texto totalmente espírita e cujo autor, por via de conseqüência, seria um Espírita. Mas não. Achamos superinteressante este texto justamente por isso porque, muito embora lembrando os conceitos da Doutrina Espírita, foi assinado pelo Arcebispo emérito de Belo Horizonte, Dom João de Resende Costa. Quem quiser comprovar é só ler o Jornal o Estado de Minas este artigo que foi publicado no dia 06.11.1998, página 9.
Talvez a única ressalva que poderíamos fazer é que voltaremos sim a habitar um novo corpo pela reencarnação, lei divina que nos dá a oportunidade de “sermos perfeitos como o Pai Celestial é perfeito”, conforme nos recomenda Jesus. Mas, quando tivermos atingindo a plenitude da evolução espiritual a que todos nós estamos sujeitos aí sim iremos viver somente na condição plena de espíritos.
Será que com isso poderemos vislumbrar para o futuro as religiões indo pouco a pouco compreendendo os princípios da Doutrina Espírita? Quem sobreviver verá. Mas como todos os princípios que adotamos tem como base sólida a lógica e a razão é bem provável que isso um dia acontecerá. O tempo é o nosso maior aliado.


Por: Paulo da Silva Neto Sobrinho, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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