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"Todo homem que observa e reflete não pode dissimular que a sociedade moderna atravessa uma crise terrível. Uma profunda decomposição surdamente a corrói.
O ódio que divide as classes e o engodo do lucro, o desejo dos gozos, tornam-se dia após dia mais rudes, mais ardentes. Quer-se possuir a todo custo. Todos os meios são bons para adquirir o bem-estar, a fortuna, único objetivo que se julga digno da vida.
Tais aspirações não podem produzir senão duas consequências: o egoísmo implacável nos felizes, o desespero e a revolta nos infortunados. A situação dos pequenos, dos humildes é dolorosa; e muito freqüentemente estes, mergulhados numa treva moral onde nenhuma consolação ilumina, buscam no suicídio o fim de seus males.
O espetáculo das desigualdades sociais, os sofrimentos de uns, opostos às alegrias aparentes, à indiferença dos outros, esse espetáculo atiça nos deserdados cobiças ardentes. A reivindicação dos bens materiais já se acentua. Levantem-se as massas profundas, e o velho mundo pode ser abalado por atrozes convulsões. A ciência é impotente para conjurar o mal, para reerguer os caracteres (...) Se as religiões agonizam, se a envelhecida morre (...), tudo estaria entregue ao desespero?
Não; pois uma doutrina de paz, de fraternidade (...) vem apaziguar os ódios selvagens (...) Ela diz a todos: Vinde a mim, eu vos aquecerei, eu vos consolarei; tornarei vossa vida mais suave, a coragem e a paciência mais fáceis, as provas mais suportáveis. (...) Ela diz a todos: Sede irmãos, ajudai-vos, sustentai-vos na vossa marcha coletiva.
Vosso objetivo está mais distante do que essa vida material e transitória; ele está nesse futuro espiritual que vos reunirá como os membros de uma só família, ao abrigo das preocupações, das necessidades e dos males inumeráveis. Merecei-o, pois, pelos vossos esforços e vossos trabalhos!
A humanidade se erguerá, de novo, grande e forte no dia em que essa doutrina, fonte infinita de consolações, for compreendida e aceita. Nesse dia, a inveja e o ódio se apagarão no coração dos pequenos; o poderoso, sabendo que foi fraco, e que pode modificar-se, que sua riqueza não é senão um empréstimo do alto, tornar-se-á mais socorredor, mais doce para seus irmãos infelizes.
A Ciência (...) expulsará diante de si as superstições, as trevas. Não mais ateus, não mais cépticos. (...) A Terra, desembaraçada dos flagelos que a devoram, prosseguindo sua ascensão moral, subirá um degrau a mais na escala dos mundos."
O trecho acima é de Léon Denis e está no livro O Porquê da Vida (capítulo 9, páginas 103 a 115 da edição CELD). Concordemos, não é tão difícil mudar tudo isso... Basta a iniciativa, boa vontade e a vontade de querer. É que todos colocamos um grande número de obstáculos para proceder esta mudança que a humanidade tanto busca. Ficamos na teoria das palavras, desejamos a paz, falamos dela, mas pouco fazemos para alcança-la. Preferimos impor, criticar, dominar... Enquanto isso, atrasamos a felicidade possível de ser construída.


Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site


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