Saiba como estão associadas a Espiritualidade e as doenças cardiovasculares

Comprovar cientificamente que a religiosidade pode contribuir de maneira positiva no tratamento de pacientes acometidos por doença cardiovascular é um desafio para os profissionais de Medicina que apostam na vertente espiritualista, segundo o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese, que se dedica à assistência, ensino e pesquisa em Cardiologia, em São Paulo (SP), e um dos precursores da Medicina Baseada em Evidências no Brasil.

Embora a relação entre espiritualidade e fatores de risco da doença cardiovascular esteja cada vez mais evidente, o médico acredita que o caminho para sua incorporação à prática clínica é longo. “Estamos, ainda, na fase da promessa. Em ciência, temos de passar pela comprovação e aplicabilidade”, disse Avezum com otimismo. O colega Hélio Penna Guimarães, também cardiologista e membro da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese e coordenador científico da UTI da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo, acrescenta que alguns estudos demonstram que a religiosidade está diretamente ligada aos fatores psicossociais considerados de risco, associados à doença cardiovascular, principal causa de morte no Brasil e no mundo. “As pesquisas apontam, por exemplo, que quando adequadamente controlado o estresse, as taxas de mortalidade podem ser reduzidas em cerca de 30%.”

Abaixo, ambos falam sobre o que está adoecendo a sociedade, reduzindo a expectativa de vida e aumentando a incapacitação das pessoas:

Folha Espírita – Qual a mortalidade atual das doenças cardiovasculares e as perspectivas dela no futuro?
Hélio Penna Guimarães – Atualmente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no mundo, tanto para países desenvolvidos como em desenvolvimento. Elas perfazem quase 40% de todas as causas de mortalidade, sendo que quase 70% desse excesso de óbitos está nos países não-desenvolvidos. A Organização Mundial de Saúde estima que até 2020, se não implementarmos medidas efetivas de prevenção e tratamento, essas taxas chegarão aos alarmantes valores de quase 40 milhões de óbitos/ano.

FE – Vocês participaram de uma pesquisa feita em 52 países, não? Qual o objetivo dela e quais resultados apontou?
Álvaro Avezum – O estudo chamado INTERHEART, publicado em setembro de 2004 em um renomado periódico médico, foi desenhado para avaliar a associação dos fatores de risco para infarto agudo do miocárdio (IAM) em todo o mundo e quantificar o impacto de cada fator de risco isoladamente e em combinação sobre a população. A Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia coordenou esse estudo no Brasil. Ele envolveu 52 países e quase 30 mil pessoas em todo o mundo e permitiu concluir que são nove os fatores de risco simples que estão fortemente associados ao IAM no mundo. Esses fatores de risco são mais importantes nos jovens, mas seus efeitos são consistentes em homens e mulheres e em todas as regiões do mundo. As alterações de colesterol, o tabagismo, diabetes, hipertensão arterial, obesidade abdominal, os fatores psicossociais (depressão e estresse), o não-consumo diário de frutas e vegetais e o sedentarismo são os fatores relacionados à ocorrência de infarto agudo do miocárdio em até 90% dos casos, em todo o mundo. No Brasil, em um estudo anterior, denominado Afirmar e também realizado pelo nosso grupo, os resultados foram muito semelhantes com um grupo de quase 2,6 mil pacientes.

FE – O papel dos fatores psicossociais é tão grande assim?
Avezum – Sem dúvida muito relevante. O estudo INTERHEART foi um dos primeiros a realmente se preocupar com essa análise e conclui que fatores psicossociais como o estresse e a depressão oferecem, quando presentes, um risco de quase três vezes mais chance de infarto do miocárdio. Se fossem adequadamente controlados e extintos, cerca de 32,5% dos infartos seriam evitados em todo o mundo.

FE – Em que medida a espiritualidade influi na redução dessas doenças?
Guimarães – Estamos cada vez mais próximos das chamadas evidências científicas sólidas e robustas que comprovem o relevante papel que a espiritualidade tem sobre a ocorrência, prevenção e prognóstico das doenças cardiovasculares. O Dr. Harold Koenig, um dos pioneiros no estudo da associação da espiritualidade e saúde, que recentemente nos abrilhantou com sua presença em um evento em São Paulo, tem demonstrado em suas revisões que a prática da religiosidade ou busca pela espiritualidade promove redução da pressão arterial e do tabagismo, maior prática de exercício, moderação do consumo de álcool, menor incidência de depressão ou mais rápida recuperação e maior suporte social. Também alguns pequenos estudos com o uso de meditação ou prece em preparação para cirurgia cardíaca demonstraram menor incidência de arritmias (alterações do ritmo do coração); estudos com o uso da prece intercessória para pacientes internados em UTIs, apesar de ainda não definitivos sob análise estatística, demonstraram tendência à redução de óbitos. Obviamente, precisamos ampliar e sedimentar essas evidências científicas ainda incipientes, pois somente a confirmação de novo paradigma da real influência da espiritualidade ou religiosidade será suficiente para a modificação da percepção e conduta da sociedade atual, independentemente de suas crenças.

FE – O que está faltando nas terapêuticas preconizadas atualmente para as doenças cardiovasculares?
Avezum – Sem dúvida, uma intervenção mais efetiva para implementação dos resultados das pesquisas na prática diária dos consultórios. Sabemos de forma clara o que promove a doença cardiovascular, mas não a controlamos efetivamente.

FE – Quais as sugestões preventivas?
Guimarães – O controle rigoroso dos nove fatores de risco previamente citados: controle de hipertensão, diabetes e colesterol; manutenção da cintura abdominal abaixo de 90cm (homens) e 80cm (mulheres); atividade física regular de pelo menos três vezes por semana, suspensão do tabagismo, consumo diário de frutas e vegetais e controle do estresse e depressão.

FE – Quem é muito espiritualizado nunca vai ter doenças assim?
Avezum – Ainda temos todos um largo caminho a percorrer em busca da espiritualidade adequada. Essa é uma questão difícil, mas devemos lembrar que o controle dos fatores de risco associados a doenças cardiovasculares pode reduzir a ocorrência de infarto em até 90% dos casos, e a prática da religiosidade ou busca pela espiritualidade parece associada com a maior tendência ao controle de alguns desses fatores.

FE – Nos templos religiosos, particularmente, nos centros espíritas, qual a melhor forma de ajudar os pacientes?
Avezum – Os templos religiosos podem divulgar a busca por hábitos de vida saudáveis como exposto acima, controlando os fatores de risco associados. A religiosidade ou espiritualidade pode resgatar com sua prática a lacuna que temos na abordagem dos fatores psicossociais que citamos, que ainda aparecem como de difícil controle pela subjetividade que lhes é associada.



A Folha Espírita entrevistou o Dr. Álvaro Avezum (AME-SP), diretor da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese e um dos precursores da Medicina Baseada em Evidências no Brasil e o Dr. Hélio Penna Guimarães (AME-SP), membro da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese e coordenador científico da UTI da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo. Matéria publicada na Folha Espírita em dezembro de 2005.


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Datas Importantes do Espiritismo

NOVEMBRO

Dia 01 de 1890
Em 01de Novembro de 1890, a Federação Espírita Brasileira, através do <<Reformador>>, dirige ao Sr. Ministro da Justiça uma longa defesa contra os artigos 157 e158 do novo Código Penal, artigos que embaraçavam a prática do Espíritismo.
Dia 01 de 1918
DESENCARNAÇÃO EURÍPEDES BARSANULFO
Dia 02 de 1951
DESENCARNAÇÃO LÍCIO GUEDES TRINDADE
Dia 03 de 1990
REALIZAÇÃO CONGRESSO MUNDIAL DE ESPIRITISMO, em Liége, Bélgica, presidido por Rafael Gonzáles Molina
Dia 20 de 1889
20/11/1889 - Os jornais de Nova Iorque publicam uma declaração assinda por Margarida Fox, na qual ela confessa que sua declaração anterior, contrária ao Espíritismo, foi-lhe obtida com promessas de riqueza.

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