Ensinar, por Espíritos Diversos
Leia a ntrevista concedida por Divaldo P. Franco para a RIE
por: Julia Nezu - SP
O embaixador da paz e do bem
Divaldo Pereira Franco, natural de Feira de Santana, BA, 81 anos de idade, dos quais mais de 60 dedicados à causa espírita e às crianças carentes da periferia de Salvador. Aos 20 anos de idade fundou o Centro Espírita Caminho da Redenção e mais tarde, em 1952, fundou, juntamente com Nilson de Souza Pereira, a Mansão do Caminho que atende cerca de 3 mil crianças, adolescentes e jovens de famílias carentes, por dia, em regime de semi-internato e externato. Educador que é, adotou mais de 600 crianças e hoje tem mais de 200 netos. Realizou mais de 11 mil conferências em mais de 2 mil cidades brasileiras e em 62 países; concedeu mais de 1.100 entrevistas de rádio e televisão, em mais de 450 emissoras;
recebeu mais de 700 homenagens, de instituições culturais, sociais, religiosas,
políticas e governamentais; publicou mais de 200 livros, com todos os direitos
autorais doados às instituições espíritas que dirige, com a publicação de 8
milhões de exemplares, com 92 versões para 16 idiomas.
– RIE – Com as dificuldades que vivemos no mundo atual, com drogas, prostituição
e violência de toda sorte o senhor acredita que o mundo está progredindo?
Divaldo Pereira Franco – Vivemos um momento histórico dos mais expressivos da
humanidade. A ciência e a tecnologia alçaram o ser humano às culminâncias do
progresso material, nada obstante, a evolução moral não obedeceu ao mesmo
parâmetro. Permanecem as injustiças sociais, os separativismos, a miséria de
todo porte, as lutas bélicas, a agressividade, demonstrando que a evolução foi
horizontal, no sentido do intelecto, sem a correspondente vertical para o amor,
para a imortalidade e para Deus. Nada obstante, o mundo vem progredindo porque,
por outro lado, nunca houve como hoje tanto devotamento nas criaturas em favor
do seu próximo, da Natureza, do cumprimento dos deveres, da solidariedade… Há
mais amor entre os seres humanos do que se pode perceber ou imaginar.
Multiplicam-se as organizações de serviços sociais, de iluminação de
consciências, enquanto, por outro lado, cientistas e tecnólogos afadigam-se no
trabalho em favor da saúde, do bem-estar, da erradicação de terríveis males que
sempre afligiram a sociedade, como a fome, os vícios e a promiscuidade.
– RIE – O que é essa fase de grande transição, segundo o Espírito Joanna de
Ângelis?
Divaldo – Segundo a benfeitora espiritual estamos vivendo o período em que o
nosso planeta se transfere de mundo de provas e de expiações para mundo de
regeneração, conforme nos ensina o Espiritismo. Neste período estão reencarnando
Espíritos que se encontram retidos em regiões de muito sofrimento, a fim de
terem a oportunidade de escolher continuar no comportamento que os assinala ou
avançar no rumo da plenitude. Na primeira hipótese, os perversos e inimigos da
sociedade, após a desencarnação, já não volverão à Terra, indo transitoriamente
a mundos inferiores, onde resgatariam os males praticados e se renovariam pela
ação do bem. Ao mesmo tempo, uma geração nova (A Gênese, capítulo XVIII, Itens
27 a 38 – 36ª Edição da FEB.) surgirá na Terra, provinda de outra dimensão, a
fim de contribuir pelo progresso da humanidade, assim apressando o momento da
grande transição.
– RIE – Que regras podemos adotar para colaborar na melhoria do mundo que
vivemos?
Divaldo – Nunca houve tanta necessidade de amor, de fraternidade, de
compreensão, de bondade e compaixão como nestes dias. A dor campeia em toda
parte, e ninguém existe que se encontre sem o desafio da transformação moral
para melhor, talvez sob o estigma de muitas aflições. Construir o bem em toda
parte, cooperando em favor da harmonia geral, evitando as dissensões e as lutas
infelizes, ajudando em silêncio e divulgando os postulados do Espiritismo pelo
exemplo e por todos os meios lícitos e nobres possíveis, constituem valiosos
meios de contribuir em favor do mundo melhor de amanhã.
– RIE – Como cultivar a paz interior num mundo tão conturbado?
Divaldo – A paz interior, aquela que vem de Jesus e que resulta dos pensamentos
edificantes, das palavras iluminativas e das ações dignas, resiste a todas as
agressões de fora, porque harmoniza o ser e o faz compreender as dificuldades.
No silêncio da oração, na reflexão em torno dos deveres e na ação contínua da
solidariedade fraternal, distende-se a paz como um perfume ou uma claridade que
se irradia de um foco, eliminando as conturbações, qual um algodão que amortece
uma pedrada…
– RIE - Estamos vivendo a hora do testemunho coletivo e individual?
Divaldo – Realmente, estes dias são caracterizados pelos testemunhos individuais
e coletivos. Enquanto o planeta estertora, adaptando as camadas tectônicas e
produzindo tsunâmis, terremotos, erupções vulcânicas, secas e enchentes,
tempestades devastadoras, conforme sempre houve no passado, alterando a própria
estrutura, a sociedade como um todo padece injunções muito graves, como dantes
nunca houve, embora as terríveis fases vividas anteriormente…Essas calamidades
coletivas, às quais associamos os incêndios, os desmoronamentos, o terrorismo,
as guerras, as epidemias, as revoluções e outros fenômenos destrutivos, que
comovem a sociedade, têm por objetivo despertar também as consciências para a
reflexão em torno da transitoriedade da vida física, do esforço que se deve
empreender em favor da paz interior e da harmonia geral, constituindo motivos de
provas e de expiações para os indivíduos que optam pelas ilusões e anestesia da
consciência. Também alcançam as mulheres e os homens de bem, portadores de fé,
de conduta irreprochável, porque a dor não apenas é instrumento de purificação,
fomentadora do progresso moral, como também fenômeno natural de desgaste a que
está submetida a organização física, aprimorando a moral e a espiritual do ser.
RIE – O Movimento “Você e a Paz” criado pelo senhor está na sua 10ª edição
realizada em dezembro de 2007: quais as propostas desse movimento?
Divaldo – Depois de haver visitado algumas dezenas de presídios e
penitenciárias, casas de detenção, falsamente denominados como reeducandários
sociais, e vivido por quase cinqüenta anos em um bairro muito violento, em que
80% dos seus habitantes vivem na linha abaixo da miséria econômica e educado
quase 25.000 crianças e jovens que passaram pelas nossas Escolas, senti a
necessidade de fazer algo mais. Amparado pelo pensamento espírita e tomado de
compaixão pelos violentos, resolvi enfrentar alguns desafios propondo o
Movimento Você e a paz, na praça pública. Levamos o projeto à Egrégia Câmara de
Vereadores e nobre Edil apresentou-o aos seus pares, que votaram por unanimidade
para que o dia 19 de dezembro ficasse denominado como o Dia da Paz na cidade do
Salvador. Conseguimos o apoio da mídia e realizamos a primeira edição. Notei,
porém, que era necessário ir mais profundo no trabalho. Com amigos devotados,
passamos a proferir palestras em escolas de diversos bairros, atraindo pessoas
violentas, abordando o tema da paz e convidando-as para que no dia 19 de
dezembro fossem à praça, a fim de participar de ação mais ampla. Logo após
encorajamo-nos a visitar as praças públicas desses bairros, denominados
perigosos, e fomos recebidos com carinho por grande parte da população que se
dizia feliz por ouvir algo dessa natureza, comprometendo-se a participar conosco
do Evento maior.
– RIE – É aberto às outras denominações religiosas?
Divaldo - Em nosso projeto não condicionamos o trabalho a nenhuma doutrina
religiosa, embora, no momento em que me apresento para a palestra, explique ser
espírita militante, mas que o Movimento é neutro, sem nenhuma conotação
política, religiosa ou de qualquer outra natureza que o desvie da sua
finalidade. Nunca tivemos o menor embaraço, antes, pelo contrário, diversos
traficantes de drogas abandonaram o crime, outros violentos modificaram o seu
conceito sobre a existência, conforme depoimentos pessoais que nos têm feito
espontaneamente. O objetivo nosso, portanto, foi sair da intenção para a ação,
deixar de falar sobe a violência que estarrece, fazendo algo pela não violência
que proporciona a paz, conforme somente Jesus a pode dar.
– RIE – Como as pessoas podem engajar-se nessa proposta? Tem previsão da próxima
edição e onde será?
Divaldo – Felizmente o Movimento Você e a paz tem sido realizado no Rio de
Janeiro, tanto na capital como em cidades do interior – neste ano será na cidade
de Nova Friburgo no mês de agosto –, em Santa Catarina e no interior do Estado
da Bahia. Foi também lançado em Paris no ano de 2007, em Portugal (Coimbra duas
vezes, Lagos) em 2005, pela primeira vez…No próximo dezembro teremos a 11ª
edição na cidade do Salvador, na praça Dois de Julho, conforme vimos fazendo nos
anos anteriores. Quem deseje engajar-se nessa proposta, poderá entrar em contato
conosco ou com Luiz Pimenta e teremos todo o prazer de apresentar os planos e
diretrizes do Movimento, a fim de que se expanda ao máximo. Nos últimos cinco
anos tem cooperado conosco um dos maiores oradores sacros da Igreja Católica na
Bahia, o monsenhor Gaspar Sadoc, que participa do Evento na praça pública,
sensibilizando a multidão de milhares de pessoas.
– RIE – Nesse momento conturbado de grande transição verificam-se diversos
desvios das práticas espíritas no nosso movimento espírita. Como devem agir os
dirigentes espíritas?
Divaldo – O fenômeno que ocorreu com o Cristianismo nascente, depois com o
luteranismo e outras doutrinas, inclusive as filosóficas, vem sucedendo com o
Espiritismo. Grande número de pessoas, imaturas umas, presunçosas outras,
prepotentes mais outras, e de diversas condutas emocionais, aderem às idéias
novas para servir-se e não para as servir. Ao entusiasmo inicial sucedem-se a
arrogância, o egoísmo desmedido, e logo passam a modificá-las a seu bel-prazer.
Promovem as lamentáveis alterações e divisionismo. Infelizmente, esse fenômeno é
típico do período de transição moral planetária que estamos vivendo. O
Espiritismo, porém, na sua magnífica estrutura monolítica, sobreviver-lhes-á,
porque a desencarnação os arrebatará e os seus seguidores logo se extraviarão,
desnorteados. Acredito que os dirigentes espíritas devem permanecer fiéis à
codificação, preservando os valores doutrinários e vivenciando-os, porque os
modismos passam, não atacando essas vertentes filhas da vaidade e da prosápia
dos seus líderes que, não tendo quem os combata para assumir posição de vítimas,
debilitam-se e desaparecem. O silêncio, nesses casos, acompanhado das ações
dignas e coerentes com a Codificação constitui o melhor contributo para a
preservação do Espiritismo conforme o recebemos de Allan Kardec e dos nobres
missionários que vieram para dar-lhe sustentação e mantê-lo digno para as
gerações do futuro.
– RIE - Como os dirigentes devem se posicionar diante de uma avalanche de obras
mediúnicas de conteúdo duvidoso que estão prestando um desserviço à divulgação
da Doutrina Espírita?
Divaldo – O melhor antídoto ao mal é sempre o bem, assim como a luz é a
libertadora da sombra. Penso que todos deveremos ter muito cuidado para não
voltarmos à presunção e intolerância medievais, elaborando um novo código de
obras que devem ou não ser publicadas, o que seria profundamente lamentável.
Assim, divulgando as obras legítimas, aquelas que não têm conteúdo doutrinário
ou têm-no deformado, ficarão à margem. É lamentável a confusão que essas obras
produzem em pessoas não conhecedoras da Codificação e que se empolgam com as
fantasias de que se fazem portadoras, dificultam-lhes a visão clara e real do
Espiritismo. Nada obstante, os responsáveis terão que responder pelos equívocos
propositais ou não de que se fizerem instrumentos.
– RIE – Há um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional para obstar a
utilização das mensagens psicografadas nos tribunais. Qual é a sua opinião?
Divaldo - Embora eu desconheça o projeto referido, acredito que a missão do
Espiritismo não é a de defender pessoas acusadas desta ou daquela ocorrência
infeliz. Vulgarizando-se a prática, teremos um desvio total dos objetivos da
Justiça, que passaria para ser analisada através de fenômenos mediúnicos, nem
sempre autênticos, com graves danos para a sociedade. Quando o venerando
apóstolo da mediunidade, Chico Xavier, psicografou duas mensagens narrando o que
aconteceu realmente com os desencarnados, o objetivo que os Mentores mantiveram
foi o de comprovar a autenticidade daqueles que as assinavam. Eram, no entanto,
tão verdadeiras que, ao serem levadas ao Tribunal, foram consideradas provas da
inocência dos réus. Tal ocorrência, no entanto, foi especial e única, não
devendo tornar-se corriqueira…
– RIE - Por favor, suas considerações finais.
Divaldo - O Espiritismo é o Cristianismo redivivo, conforme Jesus nos havia
prometido (João XIV-16 e seguintes), ao referir-se ao Consolador, que rogaria ao
Pai para que viesse ficar conosco. Divulgá-lo, o mais amplamente possível,
vivendo-o em toda a sua grandeza, é tarefa que não podemos desconsiderar,
postergando-a ou ignorando-a. Na condição de apóstolo da Era Nova, Allan Kardec
deu-nos o exemplo de como comportar-se o espírita, jamais agredindo, mesmo
quando agredido, trabalhando sem cessar em favor de si mesmo e do seu próximo.
Assim sendo, o espírita poderá ser considerado um verdadeiro cristão.
Fonte: Entrevista publicada na revista "RIE - Revista Internacional de Espiritismo" - (Julho/2008).
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Datas Importantes do Espiritismo
NOVEMBRO
Dia 01 de 1890
Em 01de Novembro de 1890, a Federação Espírita Brasileira, através do
<<Reformador>>, dirige ao Sr. Ministro da Justiça uma longa defesa contra os
artigos 157 e158 do novo Código Penal, artigos que embaraçavam a prática do
Espíritismo.
Dia 01 de 1918
DESENCARNAÇÃO EURÍPEDES BARSANULFO
Dia 02 de 1951
DESENCARNAÇÃO LÍCIO GUEDES TRINDADE
Dia 03 de 1990
REALIZAÇÃO CONGRESSO MUNDIAL DE ESPIRITISMO, em Liége, Bélgica, presidido por
Rafael Gonzáles Molina
Dia 20 de 1889
20/11/1889 - Os jornais de Nova Iorque publicam uma declaração assinda por
Margarida Fox, na qual ela confessa que sua declaração anterior, contrária ao
Espíritismo, foi-lhe obtida com promessas de riqueza.