
Insistamos no Bem, por Emmanuel
A frase acima é de autoria do nosso entrevistado desta semana. Natural de
Promissão (SP), onde reside, José Airton Salazar Parra é biólogo, mestre
em ecologia e recursos naturais e atua profissionalmente na educação. No
movimento espírita participa das atividades no Lar da Esperança. Tendo
participado de recente evento na mesma cidade voltado à conquista da paz,
buscamo-lo para entrevistá-lo sobre essa temática.
A seguir, a entrevista que ele gentilmente nos concedeu.
No recente evento Educação e Paz, sua abordagem trouxe valiosas reflexões sobre
a Conquista da Paz. Em sua avaliação, temos caminhado para isso?
Na obra kardequiana, fica evidente o destino comum que aguarda a todas as
criaturas. Isso nos permite deduzir que a paz integrará nosso universo pessoal.
O fato é que essa conquista dá-se de forma muito peculiar, uma vez que cada ser
a desenvolve a seu tempo. Assim, entendo que caminhamos para essa conquista,
tendo em vista que o todo é sempre a soma das partes.
Numa análise das lutas humanas com tantos e variados fatores, especialmente os
culturais, como considera que o pensamento espírita tem influenciado nesse
processo?
A Doutrina Espírita surge como uma luz a contribuir para a compreensão do
caminho proposto por Jesus. À medida que me esclarece sobre a efetividade do
amor e da compreensão no processo de rompimento dos grilhões que me atêm à
imperfeição, amplia em mim a capacidade de viver em paz. Não pode haver paz em
terreno onde impera o egoísmo que, conforme explicação encontrada nas obras
básicas, é a origem de todo o sofrimento.
O que verdadeiramente nos falta para construção da paz?
As decisões, via de regra, acontecem a partir de um “gatilho”. Assim como a
semente repousa no seio da terra até o momento em que as condições tornam-se
favoráveis à germinação, o homem pode despertar para a necessidade da paz a
partir de algum fator. O contato, no momento certo, com algum novo conhecimento,
fato, situação, pode vir a gerar a reflexão e a vontade que o conduzirão a uma
íntima paisagem de paz. Porém, ao longo desse processo, muitos conflitos poderão
existir, e são justamente nesses embates que o ser começa a considerar novos
pontos, passando a adotar novos ângulos de interpretação. Entendimento e Fé, que
vêm com o reconhecimento da Verdade, constituem um binômio de grande importância
à construção da Paz.
Nos meios acadêmicos e profissionais da educação há um esforço nessa direção ou
ainda vivemos tempos de omissão e indiferença?
Uma escola é um grande “Balão de Ensaio”. Nela recebemos pessoas oriundas de
diferentes culturas, diferentes valores. Não obstante essa diversidade, há que
prevalecer a ética. Talvez esse seja um dos espaços onde mais se perceba a
necessidade da paz, pois o processo de ensino-aprendizagem demanda um ambiente
harmonioso, onde os diferentes comportamentos sejam equacionados. Esforçar-se
para a implantação da paz, no âmbito escolar, é prática permanente dos
profissionais da educação. Evidentemente, cada um exerce essa prática a seu
modo, obtendo resultados mais ou menos efetivos. Além da função acadêmica
propriamente dita, a escola pode e deve promover a interação com a sociedade,
extramuros, proporcionando oportunidades valiosas de convivência e despertamento
à fraternidade e respeito às pessoas, ao meio ambiente, à vida. Nesse sentido,
temos algumas experiências que nos trouxeram excelentes resultados.
Como ficamos diante da ainda presente incredulidade e até ironia para com os
ensinos do Evangelho? Os esforços para alterações desse quadro têm sido
exitosos?
A evolução é uma conquista particular do ser, influenciada pelo meio que o
circunda. A posição frente à incredulidade e ironia deve ser a mesma daquela que
o Cristo nos exemplifica – compreensão, amor e persistência. Entendo que essa
deva ser nossa postura, da mesma forma como nossos amigos superiores em
entendimento e prática do amor têm para conosco. Nessa trajetória, o “oferecer
apoio” e o “receber apoio” são uma constante maravilhosa que se comporta como
uma mola propulsora para o progresso. Todo esforço vale a pena.
De suas lembranças e reflexões em torno do tema, especialmente considerando o
pensamento espírita, o que mais lhe vem à mente?
Enquanto preparávamos o tema para a apresentação no ENEPAZ, tomamos conhecimento
de alguns casos, envolvendo pessoas que, em determinado momento da vida,
ressignificaram seus valores. Percebi, em todos eles, como ponto comum, o
afastamento da “indiferença” e a real vontade de transformar o seu espaço de
ação/interação. É preciso importar-se com o próximo e avaliar como o nosso modo
de vida repercute no todo. Em um primeiro momento, deixar de pensar o “eu” para
pensar o “nós” parece estar na ordem inversa. Porém, o que percebemos é que, ao
desenvolvermos o olhar para o coletivo, o “eu” se fortalece naturalmente, sem
que busquemos por esse resultado. Se minhas ações e objetivos refletem
positivamente no todo, aumentam-se as chances de a paz brotar em mim, como um
olho d’água que finalmente surge na superfície, após longo percurso pelo
interior da terra. Não se trata de autonegação, muito pelo contrário, se
ressignifico é porque, antes, me conheço e quero atender aos meus novos anseios.
Algo marcante que gostaria de relatar aos leitores nesse binômio educação e paz?
Nesse tema, vale realçar que a família é o cenário ideal para a construção dos
alicerces do equilíbrio e da moral. Uma vez lançada a fundação em solo firme, as
paredes erguer-se-ão em segurança. As conversas e a convivência, momentos
preciosos em qualquer lar, não devem ser suprimidas. Vivemos um momento que
apresenta, entre tantas outras características, a “liquidez”, como nos esclarece
Bauman. É importante que a família consiga conduzir, com sabedoria, essa
transição entre gerações, de forma a manter os valores que fundamentam a paz na
sociedade e, ao mesmo tempo, compreender o novo que surge. A firme orientação
pelo caminho do bem, com o exercício da socialização, do respeito e da partilha,
auxiliará na formação de um adulto mais resiliente (característica essa que se
vem fragilizando), compreensível e sensível à dor do próximo (princípios
fundamentais do amor), capaz de viver e promover a paz. Em termos de educação,
nada substitui a família.
Como espírita, como vê os desafios, lutas, conquistas e fracassos da atualidade?
Estamos em um planeta pleno de possibilidades. Somos todos alunos desta grande
escola. Avançar ou precisar refazer a lição é um fato normal e esperado. A
evolução tecnológica nos convida a patamares mais altos, porém a resistência no
egoísmo prende-nos, ainda, na praia, dificultando-nos navegar por outras águas e
descobrirmos novas e mais belas paisagens. Demandaremos tanto tempo quanto for
necessário para alinharmo-nos nas duas vertentes ascensionais – a intelectual e
a moral. Em todo esse mar, peço licença para parafrasear, de forma bem humorada,
uma personagem de um famoso desenho animado: “continue a nadar, continue a
nadar”.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Dos tantos ensinamentos preconizados e vivenciados por Jesus, o episódio
envolvendo Madalena nos remete, de forma especial, a um dos principais pontos
para a instalação da paz: a prontidão para o perdão e o cuidado para com o
julgamento. Jesus nos convida a soltarmos as pedras que insistimos em trazer nas
mãos. Um coração preenchido pelos arroubos da ira e sede de violência é um campo
ainda árido para a semente da paz. Nesse contexto, faz-se mister o exercício já
sugerido, desde tempos idos: “Conhece-te a ti mesmo”. Difícil conquistar a paz
sem o humilde reconhecimento de seus pontos a serem reformulados.
Suas palavras finais.
Somos espíritos vivendo uma experiência material, com o claro propósito de
crescimento. Sem querer escorregar para o terreno da dicotomia, o fato é que,
com o passar dos dias, vamo-nos sobrecarregando com a criação de necessidades
imaginárias, que estão longe de nos auxiliarem na caminhada. Algumas tornam-se
pesos que dificultam nossa jornada e nos afastam da paz. Submergimos em um
oceano de “ânsias” e nos agrilhoamos em exigências infindáveis, dando-nos a
sensação de constante insatisfação. Entendamos melhor a alusão do Mestre, ao nos
sugerir o olhar para os lírios do campo e para as aves do céu. Reconheçamos e
valorizemos, aqui e agora, o que de fato propicia a paz. Em suma, simplifiquemos
nossa existência – assim conseguiremos reconhecê-la em toda sua grandiosidade e
plenitude.
Autor: José Airton Salazar Parra
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.
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