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Chegaste, por fim, amor desejado e santificador!

Agora, quando o Teu riso vibrante ilumina a minha choupana triste e invade as regiões silenciosas do meu coração solitário, tomado de espanto, eu me interrogo, emocionado: Como me foi possível viver sem Ti, por tantos incontáveis dias?

Via-os passar, lentos e modorrentos, sem qualquer motivação para prosseguir vivendo, e não sei como pude respirar sem o Teu oxigênio, sem o som das Tuas palavras no ouvido dos meus sentimentos.

Aqueles que me conheciam, invejavam-me a felicidade, as alegrias que lhes apresentava, sem que se dessem conta de que a música saída dos meus lábios possuía acordes de saudade e de tristeza ignota. Eles tanto desejavam alguém que lhes lenisse as dores, que nunca se preocuparam com as minhas aflições. Estavam cheios de si e vazios de solidariedade. Por isso, nunca notaram que, também eu, era caminhante sem destino...

As minhas noites de expectativa faziam-se então infinitas, e os meus dias de silêncio prolongavam-se além das horas habituais. Eu vivia, mas não sabia o que era a vida. Eu amava, porém, não bebia o licor capitoso do prazer. Eu sonhava, e era apenas Tu a quem eu buscava.

Como foi possível esperar-Te tanto, amor fagueiro, sem haver enlouquecido de dor?

Se eu não Te houvesse conhecido antes, certamente não experimentaria a Tua falta. Mas como sorvi na Tua taça o vinho da eterna juventude, essa Tua ausência era-me tormentosa e sem fim.

Agora, quando desceste do Teu carro de luz e me chamaste pelo nome com essa Tua voz enternecedora, que me penetra as regiões desconhecidas da emoção, convidando-me a seguir Contigo, eu exulto e choro, e canto, e me ilumino, amor incomparável, perguntando-me se não estarei delirando, tal a sede que tenho de Ti e tal a fome que me devora pela falta do Teu aconchego.

Não me deixes despertar deste sonho, acalentado por tantos anos e por tantas vidas, segurando-me a mão, a fim de que o calor do Teu afeto dilua o frio do meu prolongado abandono!

Receio dormir, e, desse modo, prolongo estes momentos, em face da angústia que tenho de, ao despertar, já não Te encontrar próximo de mim.

Eu sabia que o Teu sorriso de pérolas irradiava luz, que o Teu hálito perfumado inebriava, que o Teu calor fazia arder, que a Tua voz cantava mantras divinos e que o Teu toque conduzia ao paraíso, mas tudo era menos do que a realidade...

Agora, quanto Te sinto, navego nos rios invisíveis da felicidade e fico impregnado da Tua energia que me vitaliza, tão fraco me encontro.

Dou-me conta do quanto eu era frágil e conseguia disfarçar-me na couraça da força; do quanto eu era carente e ocultava-me na fartura aparente; do quanto era dócil e escondia-me nas roupas da aspereza, do quanto sofria, mascarando-me com sorrisos...

Ninguém me conhecia, e, por essa razão, nunca alguém se atreveu a penetrar no país desconhecido do meu ser, procurando entender-me.

Mas Tu, desde que me viste, desnudaste-me, reconheceste-me, anelas-te por Ter-me, sem que percebesses que eu vivia somente aguardando pela Tua chegada.

Suplico-Te, amor incomparável: Não me abandones mais, pelo menos por enquanto, deixando-me à porta da minha cabana vazia com o coração cheio de anseios, oferecendo-me algumas migalhas da fortuna que possuis em ternura e em carinho...

Mas, se puderes e não Te constituir desagrado, leva-me ao Teu carro de ventura a passear Contigo pelo país de estrelas e de inesgotável luz onde vives!

Jamais Te arrependerás por amar-me. Eu sei silenciar, e saberei viajar de retorno ao lugar em que estou, bastando, apenas, perceber que estás triste, porque estou Contigo.


Por: Rabindranath Tagore, Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 25.7.1997, em Paramirim, Bahia. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=318


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