Ensinar, por Espíritos Diversos
Em Torno da Prece
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No Templo do Socorro, o Ministro Clarêncio comentava a sublimidade da prece,
e nós o ouvíamos com a melhor atenção.
— Todo desejo — dizia, convincente — é manancial de poder. A planta que se eleva
para o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida, é um
ser que ansiou por multiplicar-se...
— Mas todo petitório reclama quem ouça —interferiu um dos companheiros. — Quem
teria respondido aos rogos, sem palavras, da planta?
O venerando orientador respondeu, tranqüilo:
— A Lei, como representação de nosso Pai Celestial, manifesta-se a tudo e a
todos, através dos múltiplos agentes que a servem. No caso a que nos reportamos,
o Sol sustentou o vegetal, conferindo-lhe recursos para alcançar os objetivos
que se propunha atingir.
E, imprimindo significativa entonação à voz, continuou:
— Em nome de Deus, as criaturas, tanto quanto possível, atendem às criaturas.
Assim como possuímos em eletricidade os transformadores de energia para o
adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em todos os domínios do
Universo, os transformadores da bênção, do socorro, do esclarecimento... As
correntes centrais da vida partem do Todo-Poderoso e descem a flux,
transubstanciadas de maneira infinita. Da luz suprema à treva total, e
vice-versa, temos o fluxo e o refluxo do sopro do Criador, através de seres
incontáveis, escalonados em todos os tons do instinto, da inteligência, da
razão, da humanidade e da angelitude, que modificam a energia divina, de acordo
com a graduação do trabalho evolutivo, no meio em que se encontram. Cada degrau
da vida está superlotado por milhões de criaturas... O caminho da ascensão
espiritual é bem aquela escada milagrosa da visão de Jacob, que passava pela
Terra e se perdia nos céus... A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando
a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que
foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota,
segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização
próxima na própria esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais nobre
são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação
profunda na imortalidade remontam às alturas...
O mentor generoso fez pequeno intervalo, como a dar-nos tempo para refletir e
acentuou:
— Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado
potencial de freqüência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de
sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras. Sabemos que a
Humanidade Universal, nos infinitos mundos da grandeza cósmica, está constituída
pelas criaturas de Deus, em diversas idades e posições... No Reino Espiritual,
compete-nos considerar igualmente os princípios da herança. Cada consciência, à
medida que se aperfeiçoa e se santifica, aprimora em si qualidades do Pai
Celestial, harmonizando-se, gradativamente, com a Lei. Quanto mais elevada a
percentagem dessas qualidades num espírito, mais amplo é o seu poder de cooperar
na execução do Plano Divino, respondendo às solicitações da vida, em nome de
Deus, que nos criou a todos para o Infinito Amor e para a Infinita Sabedoria...
Quebrando o silêncio que se fizera natural para a nossa reflexão, o irmão
Hilário perguntou:
— Contudo, como interpretar o ensinamento, quando estivermos à frente de
propósitos malignos? um homem que deseja cometer um crime estará também no
serviço da prece?
— Abstenhamo-nos de empregar a palavra «prece», quando se trate do desequilíbrio
— aduziu Clarêncio, bondoso —, digamos «invocação».
E acrescentou:
— Quando alguém nutre o desejo de perpetrar uma falta está invocando forças
inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabilizará. Através dos
impulsos infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações
da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado poço
do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes estagnadas
na ignorância, que se fazem instrumentos de nossas baixas idealizações ou das
quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra. Todas as nossas aspirações
movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção delas
permanece afeta à nossa responsabilidade. Analisemos com cuidado a nossa
escolha, em qualquer problema ou situação do caminho que nos é dado percorrer,
porquanto o nosso pensamento voará, diante de nós, atraindo e formando a
realização que nos propomos atingir e, em qualquer setor da existência, a vida
responde, segundo a nossa solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos
recebido.
O Ministro sorriu, benevolente, e lembrou:
— Estejamos convictos, porém, de que o mal é sempre um círculo fechado sobre si
mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora um quisto
de curta ou longa duração, a dissolver-se, por fim, no bem infinito, à medida
que se reeducam as Inteligências que a ele se aglutinam e afeiçoam. O Senhor
tolera a desarmonia, a fim de que por intermédio dela mesma se efetue o
reajustamento moral dos espíritos que a sustentam, de vez que o mal reage sobre
aqueles que o praticam, auxiliando-os a compreender a excelência e a
imortalidade do bem, que é o inamovível fundamento da Lei. Todos somos senhores
de nossas criações e, ao mesmo tempo, delas escravos infortunados ou felizes
tutelados. Pedimos e obtemos, mas pagaremos por todas as aquisições. A
responsabilidade é principio divino a que ninguém poderá fugir.
Nesse instante, uma jovem de semblante calmo penetrou no recinto e, dirigindo-se
ao nosso orientador, falou algo aflita:
— Irmão Clarêncio, uma de nossas pupilas do quadro de reencarnações sob suas
diretrizes pede socorro com insistência...
— É um apelo individual urgente? — indagou o Ministro, preocupado.
— É assunto inquietante, mas numa prece refratada.
O prestimoso instrutor convidou-nos a acompanhá-lo e seguimo-lo, atentamente.
(1) Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor. — Nota do Autor
espiritual.
Por: André Luiz, Do livro: Entre a Terra e o Céu, Médium: Francisco Cândido Xavier
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