Ensinar, por Espíritos Diversos
Novas Teorias
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Podemos incorporar novos princípios à Doutrina Espírita? Como conduzir
teorias polêmicas e ainda não resolvidas no corpo doutrinário do Espiritismo?
Sempre há questões constantemente discutidas, que ensejam pontos de vistas, posições extremas ou ponderadas e temas gerais cujas teorias ainda não são definitivas, exigindo amadurecimento e mesmo o tempo para serem firmadas como incontestáveis.
Pequenos exemplos situarão o leitor:
a) a evolução do princípio espiritual e sua transição pelos reinos da natureza;
b) a origem do ser humano do ponto de vista material e espiritual;
c) o princípio espiritual dos animais; d) mundos habitados, entre outros temas.
Os exemplos "queimam" o raciocínio dos estudiosos. Embora aceitemos as teorias,
pela lógica e pelo raciocínio, pois, diga-se de passagem permanecem nesse campo
teórico, aguardando comprovação científica, as teorias existentes ainda são
escassas e estão na fase de experimentação, sem condições de serem apresentadas
como verdades definitivas. Pelo menos no ambiente externo da Doutrina Espírita.
O que para nós, espíritas, é de fácil entendimento, não o é entretanto para quem
ainda não amadureceu o raciocínio através do estudo e reflexão em torno de tais
temas. E convenhamos: para quem "está de fora", não é tão simples aceitar
teorias ainda não comprovadas pela ciência humana. Daí o cuidado, a prudência.
Este aspecto, entretanto, é altamente estimulador para a pesquisa e o estudo,
pois na literatura espírita há farto material de pesquisa. E sempre
proporcionando construtivos diálogos doutrinários.
Como agir nestes casos? Principalmente para conduzir os estudos e discussões que
os temas apresentam. Recorramos à Codificação. Em "O Livro dos Espíritos", os
capítulos I a IV, com as perguntas 17 a 75 desdobram o assunto com farto
material para reflexão, sendo que a questão 17 indica que "(...) Deus não
permite que tudo seja revelado ao homem, aqui na Terra" (1). Porém, fomos buscar
mais elementos na Revista Espírita (2) e na edição do mês de março de 1864 (3),
encontramos a matéria Da perfeição dos seres criados, onde o Codificador faz
judiciosas argumentações sobre a questão de que se Deus não poderia ter criado
os Espíritos perfeitos, para lhe poupar o mal e suas conseqüências.
Deixamos ao leitor a curiosidade da pesquisa para maior entendimento da questão.
Nosso objetivo é utilizar pequeno trecho de Allan Kardec, fruto de seu lúcido
raciocínio, que se encontra na referida matéria e que embasa o questionamento
desta matéria.
Especialmente a partir da página 68, embora referindo-se à questão dos animais,
o Codificador apresenta o critério que norteia a evolução do pensamento espírita
e sua aceitação de novas teorias ou princípios que possam ser incorporados à
Doutrina Espírita. Observemos pequenos trechos:
"(...) Só a concordância lhes pode dar a consagração, pois nisto está o único e
verdadeiro controle do ensino dos Espíritos. Eis porque estamos longe de aceitar
como verdades irrecusáveis tudo quanto ensinam individualmente; um princípio,
seja qual for, para nós só adquire autenticidade pela universalidade do
ensinamento, isto é, pelas instruções idênticas, dadas em todos os lugares, por
médiuns estranhos uns aos outros, sem sofrer as mesmas influências, notoriamente
isentos de obsessões e assistidos por Espíritos esclarecidos*. (...)"
"(...) Em geral nunca seria demasiada a prudência em face a teorias novas, sobre
as quais poderíamos ter ilusões (...)"
O controle da concordância, pois, é o critério estabelecido na Codificação para
a aceitação de novas teorias ou incorporação de novos princípios. Enquanto
estiverem na área de caráter individual, permanecem como temas discutíveis, sem
serem aceitos como verdades definitivas. Sem a concordância, como poderíamos
estar seguros da verdade absoluta? Como pondera Kardec, "a razão, a lógica, o
raciocínio, sem dúvida, são os primeiros meios de controle a serem usados." (4)
E quase ao final do capítulo, ainda à página 70, observemos a prudência da
personalidade do Codificador: "(...) Jamais as emitimos antes que tenham
recebido a sanção de que acabamos de falar, razão por que algumas pessoas, um
tanto impacientes, se admiram de nosso silêncio em certos casos. Como sabemos
que cada coisa virá a seu tempo, não cedemos a nenhuma pressão (...)"
Diante, pois, de questões polêmicas ou ainda não resolvidas, o melhor critério é
o da concordância, ainda que incompleta, da maioria. Nos temas ainda em
discussão, a universalidade dos ensinos, ou seja, a concordância dos ensinos
vindos dos Espíritos - como acima delineado por Kardec - é o melhor guia a
conduzir estudos e pesquisas. Somente este critério é capaz de estabelecer a
aceitação de novas teorias ou princípios que venham a ser incorporados ao corpo
doutrinário do Espiritismo.
Fora disso, ficamos entregues a opiniões ou sistemas individuais ou de pequenos
grupos, sujeitos a ilusões, desacertos o equívocos, sempre prejudiciais ao real
entendimento do ensino espírita. O que não é desejável, pois, o que se pretende
mesmo é entender e viver o Espiritismo, em sua plenitude, com o embasamento do
Evangelho de Jesus, conforme apresentado por Kardec à humanidade no dia 18 de
abril de 1857, quando do lançamento de O Livro dos Espíritos, ao invés da defesa
de pontos de vistas sujeitos à ação do tempo que derruba teorias que não estejam
apoiadas na lógica ou na razão. Aliás, posição contrária à índole da Doutrina
Espírita que diz que "Fé inabalável só o é a que pode encarar a razão frente a
frente, em todas as épocas da Humanidade" (5).
Sejamos coerentes a refletir que não temos ainda o conhecimento completo; é
preciso esperar o tempo, o amadurecimento da consciência humana, o que só será
conseguido à custa de muito esforço. Isto, entretanto, não nos impede de
continuar pesquisando, estudando, e principalmente aproveitando os avanços da
Ciência que, dia-a-dia, comprova o que a Codificação apresenta há mais de um
século.
(1) 3ª Edição FEESP, tradução de J. Herculano Pires, São Paulo-SP, 1987.
(2) Publicação fundada por Allan Kardec em 1858 e que ainda circula na França.
(3) Edição da EDICEL, São Paulo - 1966 -, tradução de Júlio Abreu Filho, páginas
65 a 70.
(4) Página 70, primeiro parágrafo.
(5) Folha de rosto de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", 107ª edição FEB,
tradução Guillon Ribeiro, Rio de Janeiro-RJ, 08/93.
Nota do autor: Por espíritos esclarecidos deve-se entender aqueles que provam
sua superioridade pela elevação do pensamento, pelo alto alcance de seus
ensinos, jamais se contradizendo e jamais dizendo nada que a lógica mais
rigorosa não possa admitir, como pondera o próprio Codificador no trecho em
questão.
BOX PARA A MATÉRIA NOVAS TEORIAS
Critérios de aceitação*:
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual se
submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta
contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já
adquiridos, deve ser rejeitada;
A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação;
Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que
haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande
número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.
*Síntese do pensamento de Kardec, exposto na Introdução de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, item II - Autoridade da Doutrina Espírita -, páginas 28 a 36 da
107ª edição FEB, tradução de Guillon Ribeiro, Rio de Janeiro-RJ, 08/1993.
O conselho de Erasto*:
"É melhor repelir dez verdades momentaneamente do que admitir uma só mentira,
uma única teoria falsa."
*Revista Espírita, 1861, página 324 - edição EDICEL. Transcrição parcial do item
mentira no livro Doutrina Espírita no Tempo e no Espaço 800 verbetes
especializados, de A. Merci Spada Borges, 1ª edição da Panorama Comunicações (telefone 0 xx 11 6101-1165), São Paulo-SP, novembro de 2000.
Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site
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