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Há algum tempo está na praça um neologismo nascido do verbo ficar, que significa a união de duas pessoas, sem acarretar a ambas qualquer responsabilidade.

Dia destes assistimos a um programa de televisão que apresenta assuntos do cotidiano. O tema escolhido era: “Casamento, nunca mais !”

Diferentes convidados deram a sua opinião, mas em todos se percebia um quadro comum: Foram para o casamento ainda imaturos e se equivocaram quanto ao que desejavam obter nessa união.

Doutor psicanalista, presente ao programa, dava sua versão conforme os diferentes relatos dos entrevistados. Uma das argumentações que nos chamou à atenção foi quando ele disse que a maioria se casa com o casamento e não com a pessoa. Procura o que o casamento lhe oferece de vantagens, como a casa, o automóvel, a segurança financeira, a empregada doméstica e a enfermeira gratuita. Vamos para o casamento pensando em nós e nunca no outro.

Vários dos que opinaram, eram jovens que se casaram entre 14 e 18 anos e que depois de curto prazo se desencantaram com a vida em comum. Hoje, abominam a idéia de casar-se novamente, preferindo “ficar”, segundo o termo moderno para definir amasiar-se ou amancebar-se.

Mesmo os que se desiludiram com a vida a dois, procuram ter seus namorados, definindo tal união, muitas vezes, como casamento ideal, no qual vive cada um em sua casa. Houve uma que afirmou ser muito feliz, embora more no Brasil e o parceiro em Paris. Também disse que não gosta de obedecer, de ser mandada ou ter de pedir permissão. Lhe parece fundamental ser a dona do próprio nariz. Por isso, vive como quer e como gosta.

Houve quem fosse favorável a que nascessem filhos dessa parceria, desde que eles convivessem um pouco com o pai e um pouco com a mãe. Querem brincar de boneca, evidentemente.

Não se tem dúvidas de que um relacionamento no qual cada um viva na sua casa, resolva seus próprios problemas, se relacione com o outro apenas quando está saudável, feliz e contente, será uma união duradoura. Não ter de pedir licença, nem de dividir espaços, nem de ter de renunciar aos menores prazeres é algo com que todos sonham. Não percebem que mesmo não fazendo isso no lar estão obrigados a submeter-se às leis da sociedade, na rua, no trabalho, na escola. Às leis da vida, sintetizando.

Estudando o assunto à luz da Doutrina Espírita, vamos encontrar em O Livro dos Espíritos, na questão 775, Allan Kardec perguntando aos Superiores “qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família ?”

Eles responderam, “uma recrudescência ao egoísmo”.

Se analisarmos os casais, concluiremos que não há casamento ideal, por melhor que as pessoas se dêem ou se tolerem. O amor como é conhecido pelo homem da Terra, ainda é insuficiente para uma total harmonia. Se ainda nem casamos conosco, somos um conflito íntimo permanente, como poderemos ter nos outros a companhia ideal.

Os casamentos de hoje podem ser classificados como insuportáveis, que acabam levando os cônjuges à separação, toleráveis, que resistem às rusgas, e agradáveis, aqueles que ao final de certo tempo chegam a valer um pouco a pena. Por isso, o amor humano, na verdade paixão, é insuficiente para manter pessoas unidas. Ele precisa ser assessorado pela paciência, pela renúncia, pela resignação, respeito, doação. No dia em que as pessoas se casarem com a intenção de fazer o outro feliz, tudo mudará e elas perceberão que é só assim serão igualmente felizes. Feliz é quem ama, não quem é amado.

Quando se unem um homem e uma mulher, independentemente das alegadas programações feitas na espiritualidade e compromissos assumidos com outros espíritos antes da encarnação, o fato é que na vida conjunta as arestas vão sendo aparadas. Na convivência aprende-se e ensina-se e, por mais desagradável que pareça a convivência, os dois se beneficiam. Se não houver algum avanço, a encarnação terá sido inútil.

Nascendo filhos dessa união, há a recompensa de receber espíritos em caminhada de aprimoramento e os casais vão sentir no íntimo a alegria de vê-los crescer em entendimento e auxiliar no aprimoramento do caráter desses espíritos que voltam para reaprender. Dá grande trabalho, mas traz muitas compensações.

Como pode ser feito isso se os cônjuges apenas “ficam” deixando de viver em comum os momentos difíceis que são exatamente os que mais ensinam. Quando o filho está enfermo, a dedicação do casal junto ao seu leito faz crescer o amor entre esses espíritos. Sentem-se amigos nessa reciprocidade de carinho.

Ao voltar da escola, o filho quer contar as novidades ao pai e à mãe, porque cada um tem função e visão diferente. Se o filho escolhe a mãe para certas confidências íntimas, para o apoio nos momentos de tristeza, precisa igualmente do pai ao seu lado no jogo de futebol.

Ao regressar do trabalho e suportar as pressões do patrão, o homem quer o aconchego do lar, o ombro da esposa para o desabafo. A mulher que passou o dia estressando-se com as peraltices dos filhos, quer dividir o peso com o companheiro.

Se casar é ruim, “ficar” nada acrescenta para o que está em trabalho de progresso. Satisfaz o homem animal, afeito somente ao prazer, mas não o homem espiritual que cresce pouco nesses momentos, mas que sempre avança nas horas mais amargas.

O programa de televisão refletiu a realidade e, embora amostragem pequena, deu idéia exata da aversão que existe hoje em relação ao casamento. Os pais mostram aos filhos uma relação egoísta e grosseira. Homens viciados, deixam esposas desesperadas e assustam as filhas, que temem encontrar um parceiro como o pai, alcoólatra e violento. E as mães, hoje é tão comum, estão preocupadas em embelezar-se, sensualizar-se por meio de artificialidades, apresentar-se em sociedade, deixando para traz sua tarefa missionária de educadora dos filhos.

Enquanto a crença geral for a vida única, não há porque lutar e privar-se dos prazeres do mundo, se, ao final, tudo se acaba e vira pó. Para que o quadro mude, é preciso popularizar-se as Leis Eternas, com explicações amplas sobre a continuidade da vida, as implicações da reencarnação e a defesa de uma família espiritual. Sem que haja núcleos familiares bem estruturados, evangelizados, não teremos um país ou um planeta harmonioso. Nem material, nem espiritualmente.


Por: Otávio Caumo Serrano, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.


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