De Marília para a França: mais uma experiência espírita a partir do Brasil

Natural de Marília (SP) e atualmente radicada na França, residindo em Cagnes-sur-Mer no sul daquele país desde 2009, Ana Paula Spinelli da Silva Teles é geógrafa pela UNESP-Rio Claro (SP), com mestrado em Oceanografia pela USP-SP e doutorado em Oceanografia pela Universidade de Southampton, no Reino Unido. Atualmente cursa o 2º ano de Psicologia na UCA, em Nice, França, e nas lides espíritas participa do CESYP - Centre dÉtudes Spirites Yvonne Pereira, que dirige desde 2017, como membro-fundadora. Nesta entrevista a Orson Carrara ela nos fala sobre suas vivências:


Como conheceu o Espiritismo?

Quando criança, ouvindo a família comentar de parentes, vizinhos ou conhecidos que eram espíritas como se fossem especiais e algo diferentes de nós, de criação católica, mas com quem tínhamos amizade, respeito e curiosidade sem muito tocar no assunto. O primeiro contato foi durante a faculdade em Rio Claro (SP), em que uma amiga de São Paulo me apresentou alguns livros e me levou para ouvir uma ou outra palestra. Achei interessante, mas deixei de lado. Foi sobretudo em São Paulo durante o mestrado que procurei um centro espírita em busca de aconselhamento durante uma crise existencial/profissional. Logo depois levei comigo para a Inglaterra, onde ia fazer doutorado, dois presentes preciosos dados por outra amiga, O Evangelho segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos, edição de bolso da LAKE, tradução do saudoso Herculano Pires.

E o que mais a atrai nesse conhecimento?

Sinceramente, adoro os três aspectos da doutrina espírita: o científico/prático, o filosófico/inquiridor e o religioso/ético/moral. A leitura e o estudo dos livros básicos da Codificação espírita de Allan Kardec, dos de Léon Denis, dos psicografados por Francisco Cândido Xavier, por Yvonne do Amaral Pereira e por Divaldo Pereira Franco, os livros da AME-Brasil, de Herculano Pires, Hermínio Miranda e de tantos outros estudiosos do Espiritismo me atraem demais. Gostaria que o dia durasse 30 h para que pudéssemos ter tempo de ler e reler tantos tesouros! Um dos projetos que tenho em mente é de ler a Revista Espírita de maneira metódica, pois confesso ainda não ter lido os 12 volumes.

Fale-nos da sua primeira visita a um centro espírita?

A primeira foi em 1989/90 para assistir a uma palestra em um grande centro de Rio Claro/SP quando estava na faculdade, mas não me lembro bem. Depois por volta de 1994, visitei o centro Maria de Magdala, perto da USP em São Paulo várias vezes, e me lembro até hoje do atendimento fraterno e do rapaz que me orientou tão bem. Também me lembro das palestras e do atendimento fraterno do Centro Paulo de Tarso em São José dos Campos/SP, que frequentei e que muito me ajudou quando perdi um bebê aos 5 meses de gravidez. Quando posso, ao visitar a família, frequento o Centro Paulo de Tarso com os amigos Eduardo Pereira e a esposa Celly e outros e o CEAC (Centro Espírita Amor e Caridade) em Bauru para assistir a palestras e comprar livros (assim como a livraria da USE e eventos como a Feira de Livros).

Houve uma outra instituição marcante a que se vinculou?

Sim, participamos do Grupo de Estudos Allan Kardec de Nice, na França, que se transformou no Centre dÉtudes Spirites Chico Xavier, que continua hoje com as portas abertas e atividades semanais. Temos muita ligação com o CEEAK de Winterthur na Suíça e desde a fundação do CESYP somos filiados à USFF, Union Spirite Française Francophone, ligada ao CEI, Conselho Espírita Internacional.

Com a mudança para a França, como foi com a questão da vivência espírita?

Desde que me mudei para França procurei um centro ou grupo espírita, primeiro em Marselha, o qual tinha encerrado as atividades, mas guardava ainda uma plaquinha na porta e fui encontrar um casal em Nice, Daniela e Guilherme, grandes amigos até hoje, com quem nos encontrávamos a cada 15 dias para estudos de obras espíritas, como os livros da Therezinha Oliveira, do CEAK de Campinas, que traduzíamos para o francês junto com outros amigos. A dificuldade maior foi sempre com meu marido, francês de visão materialista e ateu/agnóstico (hoje quase ex-marido visto que aguardamos a homologação do divórcio), que, no meu modo de ver, sempre achou bobagem ou crença sem fundamento, mas que inicialmente aceitava nosso interesse pelo Espiritismo e após muitos anos de casamento acabou desenvolvendo uma rejeição em relação ao assunto. Por mais que tentássemos apaziguar ou contornar a situação, essa diferença de visão do mundo parece ter contribuído para aumentar a distância entre nós, até que finalizou em divórcio, que foi e está sendo vivido de maneira dolorosa, mas amigável, para preservar o respeito mútuo e a relação com nossos três amados filhos.

E o grupo que recebeu o nome de Yvonne Pereira?

Esse grupo surgiu principalmente de uma necessidade de evitar deslocamentos para o centro espírita em outra cidade, tendo sido aberto na garagem de casa, aprovado na época com certo contragosto pelo meu ex-marido, que provavelmente preferiria que eu não mais gastasse meu tempo com assuntos espíritas e levasse uma vida mais normal. Procuramos horários de atividades que não perturbassem a família. Tínhamos reuniões semanais nas quartas à noite, 1 ou 2 estudos durante o dia e palestras mensais no sábado à tarde. Poucas pessoas frequentavam, de 3 a 8 normalmente, mas chegamos a ter 14 umas duas ou três vezes. Também fazíamos juntamente com o centro de Nice a Evangelização Infantil com nossos filhos, aos sábados, antes da palestra no CESYP e aos domingos de manhã no CESCX em Nice.

Como está hoje a atuação desse grupo?

Desde a pandemia, convertemos a reunião de quarta em estudo on-line e isso permanece até hoje. Desde a reabertura dos lugares públicos, retomamos estudos presenciais semanalmente aos sábados, mas há alguns meses passamos a fazer mensalmente como também a palestra que era presencial passou a ser virtual. Vocês podem encontrar todos os vídeos e lives no nosso canal do YouTube "Centre dÉtudes Spirites Yvonne Pereira" e postagens no nosso Facebook - clique aqui-1. Para entrar em contato podem também enviar um e-mail para cesyp06@gmail.com.

Desde o início nossas atividades foram essencialmente em francês. Temos a felicidade de poder ler os originais de Kardec e tantos pioneiros do Espiritismo e muitos livros de qualidade já foram traduzidos para o francês facilitando a divulgação e estudo.

Sobre o intercâmbio com os conteúdos do Brasil, o que gostaria de dizer?

Justamente, como muitos livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, Yvonne do Amaral Pereira e Divaldo Pereira Franco já foram traduzidos para o francês, nós podemos recomendar a leitura e o estudo deles, facilitando essa interação. Muitas palestras também são traduzidas para o francês. E eu pessoalmente continuo ligada a grupos, estudos e palestras do Brasil, aproveitando o conteúdo disponibilizado no YouTube, pela Web Rádio Fraternidade, pela FEBTV e diversas federativas, Mansão do Caminho, Instituto SER, Jardim das Oliveiras, com congressos e cursos e por tantos outros meios de divulgação. Quero chamar a atenção para o recente estudo da série psicológica Joanna de Ângelis disponível no canal da AME-Brasil e de diversas AMEs, como a AMERGS, AME Planalto, AME Osasco etc. Excelente conteúdo e que me interessa muito no momento!

De suas lembranças com a vivência espírita, no Brasil e na França, o que foi mais marcante?

No Brasil, as palestras no Centro Paulo de Tarso, de São José dos Campos, que me emocionaram, principalmente quando lindos poemas eram recitados no final. Na Suíça, o encontro com Divaldo Franco durante suas palestras em Winterthur e Zurique. Essa de Winterthur em 2016 ou 2017 foi muito forte e me tocou no fundo da alma. O 8º Congresso Espírita Mundial em Lisboa, onde conheci o projeto Sim à Vida. Na França, uma ida a Paris para ouvir Divaldo Franco foi inesquecível! Já tinha ido visitar o túmulo de Allan Kardec no cemitério Père-Lachaise e alguns locais históricos em Paris, Lyon e Tours, sempre uma grande emoção! E o Congresso Espírita que ocorreu em Menton, no sul da França em outubro de 2018, também me tocou profundamente. Nessa oportunidade, aproveitamos para fazer a 1ª Semana Espírita de Cagnes-sur-Mer com palestras de participantes do congresso. Em suma, todos esses eventos que congregam irmãos do ideal espírita nos fazem muito bem ao coração!

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Todos nós podemos fazer algo útil pela divulgação da doutrina, seja falando com alguém no momento propício, escutando com atenção e carinho, atuando na casa espírita, auxiliando alguém que precisa, contribuindo com várias atividades dentro da possibilidade de cada um, como tradução de textos, por exemplo. Jesus aumenta o pouco que podemos oferecer!

Suas palavras finais.

Apenas quero agradecer o convite e parabenizá-los pelo esforço e trabalho de divulgação da doutrina espírita! Foi um prazer poder contribuir de alguma forma com o movimento espírita. Um grande abraço, paz e bem a todos!

Autor: Ana Paula Spinelli da Silva Teles

Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.

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