Integração do jovem no movimento espírita e os desafios próprios da idade

Com formação em Letras e em Direito, Dennis Medeiros Henriques nasceu e reside em Campina Grande (PB), onde atua como presidente da Associação Municipal de Espiritismo de Campina Grande (PB). Sendo uma liderança jovem, entrevistado por Orson Carrara sobre os aspectos da juventude e os desafios da integração espírita e da própria fase juvenil.

Eis a entrevista que gentilmente ele nos concedeu:


Sendo espírita de infância, o que você considera de mais consistente colhido com o conhecimento e a vivência espírita em família?

Não me faltam motivos para agradecer nesta vida, mas estar imerso na Doutrina dos Espíritos desde o nascimento é, sem dúvida, um grande presente. Minha família fundou, há 56 anos, o Grupo Espírita Discípulos de Jesus. Foi nesta casa de oração que aprendi muito sobre a importância da família (dentre tantos outros ensinamentos), e foi na minha família que aprendi muito sobre Jesus e sobre o Espiritismo.

Na idade em que você está, como encara o conflito de gerações na sucessão gradativa das instituições espíritas?

Por estar efetivamente dentro do movimento espírita em Campina Grande e na Paraíba, percebo, de fato, a falta de mais jovens na liderança. Várias pessoas ficam surpresas quando sabem que estou como presidente de uma instituição, de uma coordenadoria com 33 casas espíritas e à frente de um evento que reúne mais de 1.000 pessoas no período do Carnaval (o Movimento de Integração Espírita na Paraíba – MIEP), mas não é privilégio algum, como alguns pensam, é responsabilidade. Penso que é preciso mais dedicação dos jovens, mais compromisso com o propósito, mas também é preciso mais acolhimento e desprendimento por parte dos mais experientes. Na nossa região isso tem acontecido, pouco a pouco. Não deve haver conflito, deve-se abrir espaço para diálogo respeitoso, ouvir as novas ideias sem abrir mão da sabedoria e da responsabilidade com a Doutrina e com o Evangelho de Jesus.

Considera que a integração do jovem no centro espírita está realmente se efetivando?

Sim, sou a prova concreta disso. Sou muito grato às oportunidades que tenho e que vieram de dirigentes mais experientes que acreditaram/acreditam no meu potencial e colaboraram com a espiritualidade para direcionar atividades que deverão trabalhar o meu espírito. Entretanto, acredito que não seja a regra, ainda há pessoas apegadas a cargos e à ideia equivocada de que o jovem não é capaz ou que não tem maturidade suficiente, infelizmente.

Quais seriam os principais obstáculos para uma eficiente integração juvenil com as atividades dos centros espíritas?

Na verdade, é uma via de mão dupla. Não penso que é uma responsabilidade apenas dos mais velhos. Estes precisam delegar atividades aos jovens, dando o suporte necessário (ou seja, o obstáculo é trabalhar o apego e a insegurança), mas os mais novos precisam ter mais compromisso, comprometimento, dedicação e constância. Nesse caso, o obstáculo é trabalhar a humildade, porque vão precisar ser cobrados. E essa não é uma relação com João, Pedro ou José, é com Jesus.

Das lembranças artísticas da própria infância e adolescência, o que marcou mais?

Como eu cresci em evangelização espírita, naturalmente a arte fazia parte do nosso contexto. As melhores lembranças nesse sentido são das peças, apresentações artísticas e das músicas cantadas, sempre com alguma coreografia. Ah! Certa feita eu fiz o papel de Jesus e fiquei um bom tempo lá em cima, com braços abertos esperando o momento final para minha única fala: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”.

E sobre os jovens de sua faixa etária ou ainda com idade menor, o que dizer das graves questões da drogadição e do alto índice de suicídio?

Vivemos tempos desafiadores, com portas largas e inúmeros convites que têm tirado o foco de muitos irmãos do verdadeiro sentido da vida. Joanna de Ângelis afirma que, mesmo que não saibamos, somos exemplo para alguém. Resta-nos, dentro das nossas limitações, apresentar o Evangelho do Cristo, a Doutrina dos Espíritos —sobretudo por meio do nosso modo de agir, de falar, de tratar as pessoas e a nós mesmos — bem como orar por todos aqueles que estão precisando de uma mão amiga para voltar ao caminho da porta estreita.

E como foi o envolvimento do programa “Consolando Corações”?

O projeto “Consolando Corações” teve início em setembro de 2017. Na época eu era coordenador do Departamento de Comunicação (Decom) da AME e sempre fazia o registro oficial de todas as atividades. Comecei a ouvir aqueles depoimentos emocionantes, depois já não estava mais fazendo apenas o registro, mas fazendo uma prece, deixando uma mensagem, um comentário... e fui ficando. Penso que ali recebi um chamado para acolher pessoas enlutadas, nunca mais saí. Reuni esse sentimento, minhas experiências com luto, minhas leituras sobre a morte, fui em busca de me capacitar, fazer curso de acolhimento e tantos outros sobre morte, morrer, luto, e hoje continuo no projeto, acolhendo os enlutados, assim como coordenando o programa “Consolando Corações na Web”, que é um bate-papo sobre morte, luto, mas sobretudo sobre Vida. Em 2021, inclusive, lancei um livro intitulado “Aprendendo com a morte: perspectivas finitas e infinitas sobre a vida”, que é também mais uma forma que pensei para abraçar aqueles que estão enlutados, bem como fazer com que as pessoas reflitam mais sobre a vida (e uma boa vida) a partir da perspectiva da finitude.

Fale-nos dessa experiência. E quando e onde o programa é apresentado?

O projeto “Consolando Corações” tem um lugar especial no nosso coração e na instituição. É um espaço de escuta ativa e respeitosa para os enlutados, é uma mão amiga para estar junto no processo de luto. Costumamos dizer que é preciso viver o luto para não viver de luto, para isso, estamos à disposição para auxiliar. O projeto acontece quinzenalmente, aos sábados, 14h (presencial, na AME-CG), e no fim de semana seguinte, alternado, também quinzenalmente, aos domingos, 16h, temos o bate-papo on-line (no canal do YouTube AME-CG e parceiros), sobre temas diversos relacionados a esse contexto.

Algo mais a acrescentar?

Quero aproveitar o espaço para apresentar o Movimento de Integração Espírita na Paraíba (MIEP). O evento vai, em 2024, para a 51ª edição e acontece na nossa cidade, no período do Carnaval. Nessa época, Campina Grande abre as portas e o coração para receber turistas do país inteiro, que vivenciam um momento de imersão espiritual no conhecido “Carnaval da Paz”. Temos Miep baby, Miepinho, Miep jovem e a parte dos adultos, com palestras, mesas-redondas, painéis, apresentações artísticas e muita integração, como o próprio nome traz, é um verdadeiro e propício espaço para o autoconhecimento, para uma jornada interior. Já temos alguns nomes confirmados como: Simão Pedro, Cezar Said, Ana Tereza Camasmie, Altino Mageste, Rafael Lavarini, Denise Lino. Permitam-se vivenciar a emoção de participar do MIEP. Todas as informações estão no nosso Instagram @miep_2024

Suas palavras finais.

Gostaria apenas de agradecer o espaço, mas principalmente agradecer a Deus pela bendita oportunidade de conhecer Jesus, a Doutrina Espírita e de trabalhar no bem, divulgando e mostrando quanto isso é transformador na nossa vida.

Autor: Dennis Medeiros Henriques

Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.

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