Temas e Notas, por Fidélis Alves
O autor da mais recente biografia de Bezerra de Menezes fala à revista
Natural de Fortaleza (CE), onde reside, Luciano Pinheiro Klein Filho (foto)
tem formação em Geologia, bacharelado em Administração de Empresas e
Licenciatura em História, com especialização em História, Questões Teóricas e
Metodológicas. Professor efetivo de História do Colégio Militar de Fortaleza há
30 anos e sócio vitalício do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e
Antropológico), participa do Centro Espírita João, o Evangelista, Memorial
Bezerra de Menezes (MEBEM) e da Federação Espírita do Estado do Ceará (FEEC), de
que é o atual presidente. Entrevistado por Orson Carrara lançou uma nova
biografia do dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a qual tem tido enorme repercussão.
Considerado, atualmente, o maior biógrafo do notável Bezerra de Menezes, ele
falou à nossa revista.
De onde o interesse pela história e a pesquisa, inclusive considerando sua
profissão?
Desde a infância sempre fomos apaixonados pela História. Contudo, a partir do
início da década de 1990, após a conclusão da pós-graduação na área e a
dedicação ao magistério, passamos a nos dedicar às pesquisas.
É desse fato que surgiu também o interesse pela pesquisa espírita?
Exatamente. Graças, em especial, ao incentivo de um velho amigo, Aldemir Souza,
meu professor no curso de História da Universidade Estadual do Ceará. Aldemir,
que era espírita, propôs que empreendêssemos buscas a fim de escrever sobre a
História do Espiritismo no Ceará. De lá até hoje, não mais paramos.
Da História Espírita no país, o que mais lhe chama atenção?
A fase que chamo de “proto-espírita”, ou seja, casos relacionados aos fenômenos
das mesas girantes no Brasil no início dos anos 1850, que ocorreram antes ou
concomitantemente às pesquisas de Allan Kardec na Europa. Há muitas lacunas
relacionadas a esse período, bem como ao do decênio seguinte com a ação de
pioneiros, muitos deles esquecidos, presentemente, do movimento espírita.
Desse esforço com dados biográficos, casos, pesquisas infindáveis, fotos e
documentos, como sente as descobertas que vão sendo alcançadas?
É algo que nos proporciona um bem-estar indizível e a sensação incrível
propiciada por amigos espirituais que nos auxiliam nessa tarefa. Por vezes, já
me vi sozinho comemorando como se estivesse assistindo a um gol em jogo de
futebol, depois de alguma inusitada descoberta.
Seu recente livro sobre BEZERRA DE MENEZES, de extensa pesquisa, traz hoje à sua
lembrança qual fato principal?
São muitos, muitos mesmo. Mas destacaria o trabalho, quase arqueológico, de
tentar recompor a relação de filhos do Dr. Bezerra dos dois matrimônios. Dois
deles, Adolfo e Antônio, com Maria Cândida, a primeira companheira desencarnada
prematuramente aos 19 anos, em 1863. E do segundo casamento com Cândida Augusta
de Lacerda (na intimidade familiar chamada de “Dodoca”), mais 14 filhos: Maria
Cândida, Ernestina, Carolina, Otávio, Emmanuel, Cândida Augusta, Cristiana, José
Rodrigues, Francisco da Cruz, Hilda, João, Maria da Conceição, Consuelo e
Antônia. Esta última, Antônia Bezerra de Menezes, foi adotada por Bezerra e
Dodoca e era escrava alforriada pelo sogro de Bezerra, em 1867, logo após o seu
nascimento. Destes filhos todos, porém, quando do retorno do Médico dos Pobres
ao Mundo Espiritual, em 1900, estavam encarnados apenas sete: Ernestina, Otávio,
José Rodrigues, Francisco, Hilda, Maria da Conceição e Antônia.
Fale-nos sobre o livro.
A obra saiu com 1.192 páginas. Possui encadernação especial em face da
celebração, em 2021, dos 190 anos de nascimento do nosso biografado. Com o
título “Bezerra de Menezes, o Homem, seu Tempo e sua Missão”, apresenta 17
capítulos: “Bezerra de Menezes – vários olhares”; “Nascimento, infância e
familiares no Ceará”; “Do Riacho do Sangue ao exílio na Serra do Martins e à
juventude em Fortaleza”; “Na Faculdade de Medicina”; “Médico de corpos, médico
de almas”; “Os Bezerra de Menezes do Rio de Janeiro”; “Na vanguarda das Ciências
no Brasil”; “O educador e seus sonhos”; “Pioneirismo empreendedor”; “Escritor
polígrafo”; “O mais científico dos espíritas brasileiros oitocentistas”;
“Memorável inquérito”; “O político”; “Meu Ceará”; “Bezerra e o cancro social da
escravidão”; “O Apóstolo do Espiritismo” e “Retratos para a posteridade”.
Através deste trabalho procuramos entender Bezerra de Menezes como homem de seu
tempo, o Brasil Oitocentista.
Quais as impressões pessoais e repercussões externas com o lançamento da obra?
Para nossa surpresa o livro está causando boa impressão em todo o Brasil e, com
um mês de lançamento, já atingiu a casa de mil exemplares vendidos.
Nessas décadas de seleção de dados, o que mais o impressionou?
A forma e as circunstâncias como encontrávamos alguns documentos e o carinho
recebido da parentela encarnada do Dr. Bezerra, no Rio de Janeiro e Ceará.
Confesso que, em 37 anos de Espiritismo, se tivéssemos alguma dúvida no tocante
à presença da Espiritualidade, esta dúvida teria sido irrefragavelmente dirimida
através de muitos achados, os quais, sem a ação dos Espíritos, não teria sido
possível encontrar. Daria para escrever um outro livro se fosse relatar essas
experiências.
Depois de um livro desse porte, se algo pudesse dizer pessoalmente a Bezerra,
seria mais uma pergunta de pesquisa? No caso, qual seria? Ou seria um louvor de
gratidão?
Apenas agradeceria a ele por me ter permitido pesquisar sua vida porquanto sinto
que, na humildade de seu generoso Espírito, ele preferiria que muitas dos fatos
revelados ficassem encobertos pela poeira do tempo. Por outro lado, sinto ser
dever de todos aqueles que são beneficiários de seu amor, certamente muitos
amigos do Mundo Espiritual, trazermos a sua rutilante trajetória de vida como
exemplo a todos nós.
De suas vivências espíritas, nesses anos todos, inclusive atualmente com a
gestão da federativa estadual, o que lhe salta aos olhos e à memória?
A saudade dos meus quatro anos iniciais de estudos espíritas, particularmente as
atividades na Mocidade Espírita Joanna de Ângelis, aqui em Fortaleza, da qual
fazíamos parte. Ali vivemos momentos inesquecíveis de estudos e trabalhos de
promoção social.
Suas palavras finais.
Gratidão a você, Orson, um irmão querido que reencontrei e do qual não mais me
apartarei. Obrigado pelo seu carinho e sua parceria na divulgação desse
trabalho.
Autor: Luciano Pinheiro Klein Filho
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.
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