Ensinar, por Espíritos Diversos
Evangelização Infantil
Essa entrevista foi realizada por Sônia Barsante Santos e publicada pelo jornal “A Flama Espírita”, de Uberaba – MG, em 25 de dezembro de 1971 sob o título de “Entrevista com Chico Xavier sobre o Pré-Mocidade.
P – Como o Senhor vê o curso Pré-Mocidade?
R – Nós reconhecemos pessoalmente a nossa incompetência para interferir nos assuntos de educação, mas, como espírita militante, nós vemos no Curso Pré-Mocidade uma iniciativa das mais edificantes, porque o Curso encontra os nossos companheiros reencarnados entre a infância e a juventude num período em que nós acreditamos seja mais proveitosa a aplicação de normas educativas capazes de auxiliar a criatura durante a sua encarnação na Terra. Concordamos que o Pré-Mocidade é um empreendimento dos mais dignos e que merece a atenção de todas as instituições do Espiritismo Cristão, principalmente.
PROGRAMA PARA OS JOVENS
P – Sendo a fase da adolescência de transição. o que o Senhor julga mais importante para se dar aos jovens neste Curso?
R – Cremos que é nossa obrigação ministrar conhecimentos práticos em torno da vida prática, idéias tão sólidas quanto possíveis, quanto á realidade da vida em si. Precisamos acordar não só a juventude como também a madureza para as questões da autenticidade. Devemos ser nós mesmos com a aceitação até mesmo de nossas próprias imperfeições, para que venhamos a conhecer-nos por dentro,melhorando o nosso padrão de vida íntima, com a reforma que a Doutrina Espírita nos aconselha e com o aproveitamento máximo de nosso tempo de reencarnação.
ESTUDO EM GRUPO
P – O estudo em grupo é hoje um método muito divulgado. Este método é vantajoso para o adolescente?
R – Tanto para os jovens como para os adultos o estudo em grupo é o mais eficiente até porque nós não podemos esquecer que na base do Cristianismo, o próprio Jesus desistiu de agir sozinho, procurando agir em grupo. Ele reconheceu a sua missão divina, constituiu um grupo de doze companheiros para debater os assuntos relativos á doutrina salvadora do Cristianismo, que o Espiritismo hoje restaura, procurando imprimir naquelas mentes, vamos dizer, todo o programa que ainda hoje é programa para nossa vida, depois de quase vinte séculos. Programa de vivência que nós estamos tentando conhecer e tanto quanto possível aplicar na Doutrina Espírita, no campo de nossas lides e lutas cotidianas.
MOTIVAÇÃO DE AULAS DOUTRINÁRIAS
P – De que modo podemos fazer o adolescente interessa-se realmente pelas aulas de Doutrina? Que motivação usaríamos?
R – Creio que um entendimento entre os professores para que eles possam estudar o problema do relacionamento entre eles e os alunos é uma iniciativa que nós não podemos desprezar, porque aprendemos com os nossos benfeitores espitituais que cada espírito é um mundo por si. Que Deus não dá cópias; cada um de nós é uma criação independente, de modo que precisamos estudar a natureza, as tendências, os problemas, as dificuldades, as facilidades de cada um de nossos companheiros que levam o nome de nossos aprendizes, para que venhamos a beneficiá-los com a nossa influência, os ensinamentos de que sejamos portadores. Mas embora sejamos apaixonados pelas estórias que usam apólogos e símbolos, nós acreditamos que estamos atravessando agora num período de progresso da Humanidade em que devemos usar a verdade tanto quanto possível, mas a verdade que não fira, a verdade que não destrua, porque se o professor é autêntico, descobre autenticidade em seu aluno; encontra a chave para penetrar na mente e no coração do aluno, de modo a auxiliá-lo. Então o problema do relacionamento é problema vital em toda escola. Devemos estudar, observar bem para que nós venhamos a criar o clima capaz de interessar os nossos irmãos adolescentes no estudo da verdade. Entretanto, somos também de parecer que cada Centro Espírita é um educandário em que os adultos também estão na mesma posição. Nós precisamos descobrir quais as motivações para que os adultos se interessem pela Doutrina Espírita. Não somente receber os benefícios, como sejam os benefícios da prece, do passe, do amparo espiritual, do auxilio magnético, mas a luta da criatura em si para o conhecimento dela própria, à luz da verdade. São assuntos da atualidade, que nós precisamos estudar, estudar para penetrá-los devidamente.
P – Para despertar então no adolescente o amor à Doutrina, o caminho seria este?
R – Cremos que sim: o amor à Doutrina com demonstrações da vida prática.
DEBATES E RESPEITO
P – Quer dizer que o senhor acha que devem constar do programa do Curso Pré-Mocidade, além da parte Doutrinária, aulas práticas?
R – Se houvesse possibilidade, aulas expressando contatos humanos entre os professores e alunos, palestras, conversações em grupo, em que cada um pudesse expor suas idéias, mas sem provocar de nenhum modo em ninguém, nem o espanto, nem o ridículo, quando estas idéias destoassem das idéias chamadas normais entre as pessoas. O aluno poderia se exteriorizar como ele é, o professor aceitá-lo como ele é, ajudá-lo como ele é, para que ele possa produzir melhor na vida dele. Nós estamos atravessando uma época em que toda imposição espiritual significa violência, e o espírito humano recusa a violência. Nós estamos diante de uma revolução no mundo, uma revolução pacífica contra a violência entre as pessoas humanas. Então precisamos de senso de humanidade no trato com os outros e este trato uns com os outros. A base deste trato chama-se respeito. Se não respeitamos as idéias do aluno, ele não nos respeita. De modo que precisamos estabelecer esta linha de definição.
DURAÇÃO DAS AULAS
P – Qual seria a duração de maior rendimento doutrinário para uma aula do Pré-Mocidade?
R – Máximo de quarenta (40) minutos, para não cansar; meia hora no mínimo. Vou explicar: não tenho experiência no magistério espiritual, sou médium e mau médium.
EVANGELIZAÇÃO DA CRIANÇA
Encontramos no movimento de Evangelização da criança, aquele verdadeiro movimento de formação espiritual da infância, diante do futuro!…
Com essas palavras, o nosso querido companheiro CHICO XAVIER inicia sua entrevista concedida ao TRIÂNGULO ESPÍRITA, a propósito do mais sério movimento espírita nacional: a evangelização da criança.Eis, na íntegra, a entrevista:
FORMAÇÃO ESPIRITUAL DA INFÂNCIA
P – Como o senhor vê o movimento de Evangelização da criança?
R – Há muitos anos, nós todos, os companheiros de Doutrina Espírita, encontramos no movimento de Evangelização da criança, aquele verdadeiro movimento de formação espiritual da infância, diante do futuro. Há muito tempo acompanho o Departamento de Infância e Juventude da Federação Espírita do Estado de São Paulo, e admiro profundamente o trabalho que ali se realiza neste setor. Creio que devemos incrementar esse trabalho, tanto quanto nos seja possível, associando as lições evangélicas com as interpretações da Doutrina Espírita, à luz dos princípios codificados por Allan Kardec. Será uma situação ideal, que só os professores poderão definir como necessário.
APOIO AOS EVANGELIZADORES
P – Qual a tarefa do dirigente espírita junto aos evangelizadores?
R – Cremos que o dirigente de Instituição Espírita, a nosso ver, deveria prestigiar no máximo o trabalho dos evangelizadores, porque eles funcionam dentro da Organização Espírita-cristã, como legítimos educadores dos pequeninos que amanhã tomarão o nosso lugar, em todos os setores da experiência terrestre. Esse trabalho é grande e sublime demais para ser subestimado, por isso mesmo nós admitimos, que o assunto não pode escapar do apoio dos dirigentes espíritas, que, naturalmente, se estão devidamente conscientizados de suas tarefas, hão de apoiar os professores como sendo companheiros dos mais estimáveis na Seara Espírita evangélica.
SIMPÓSIO SOBRE EVANGELIZAÇÃO DA CRIANÇA
P – O Que o senhor acha da realização do Simpósio sobre Evangelização da Criança?
R – Nós acreditamos que o Simpósio é uma necessidade, porque favorece a troca dos pontos de vista e dos estudos experimentais que possam ser realizados emtorno da educação espírita-cristã, dedicada à criançã; antes da ministração de ensinamentos mais claros e mais definitivos da Doutrina Espírita, aplicada à nossa própria vivência, no caminho da Terra.
O Simpósio é como se fora uma reunião de pais ou responsáveis observando que tipo de alimentação pode ser dado a determinadas comunidades infântis. Antes das lições em si, o Simpósio é sempre uma preparação dee contatos. E nós não podemos esquecer isto, sem nos perdermos na precipitação, que acaba sempre em prejuízo e em atividade inútil dentro de nossas instituições.
PROGRAMA DE ESTUDOS
P – Quais as matérias que os espíritos gostariam que fossem estudadas neste Simpósio?
R – Temos ouvido o espírito de Emmanuel há muitos aos com respeito a estes assuntos, e ele admite, sem nenhuma exigência, porque os nossos amigos espirituais não nos violentam em atitude alguma, ele considera que seria muito interessante os professores encarnados na Terra, e que se encontram nessa maravilhosa tarefa de preparação do futuro na mente infantil, ele considera que seria interessante reuniões deles, selecionando os temas espíritas, dentro da atualização dos nossos processos atuais de vivência, para que a criança possa se desenvolver para a vida adulta, com o conhecimento possível das estradas e experiências que a esperam no dia de amanhã. Nós sempre nos desvelamos em nossas casas, no ensino da bondade, do perdão, das atitudes evangélicas em si, mas precisávamos descobrir um meio de comunicar à criança, algum ensinamento em torno da lei de Causa e Efeito, mostrando determinados tópicos do mais expressivos para o mundo infantil, com respeito à reencarnação, o problema da imortalidade da alma.
Muitas vezes, encontramos crianças traumatizadas pela perda de irmãos pequeninos, pela perda de pais, pela perda de amigos, de parentes próximos, e nos esquecemos de que os pequeninos, também, esperam uma palavra de consolo e de esclarecimento, qual acontece com os adultos, diante dos processos de desencarnação.
E muitas vezes, nós esquecemos de conduzir a criança para este tipo de lição, para este tipo de comentários, com receio de apressar na mente da criança determinados pensamentos com relação à morte do corpo. Precisávamos estudar quais os meios de começar a oferecer à criança, bases para que ela se conheça no mundo em que está vivendo e naquele mundo social em que vai viver. Mas, é assunto dos professores, porque os espíritos amigos dizem sempre que, aqueles que se reencarnam na Terra para determinadas tarefas, não devem ser incomodados com opiniões estranhas a eles mesmos, desde que, se eles receberam estes encargos, é porque eles os merecem, e está na órbita das responsabilidades deles. Os professores espíritas reencarnados têm essa responsabilidade, esse encargo a cumprir, selecionar os assuntos, para fortalecer e amparar a criança diante do futuro.
PROGRAMAÇÃO DAS AULAS INFANTIS
P – Em face do desenvolvimento mental da criança, da influência dos meios de comunicação do processo de aprendizagem, justificar-se-ia a programação de aulas predominantemente de Doutrina Espírita?
R – Pelo menos depois de 8 a 10 anos de idade, acreditamos que sim, porque a mente infantil de 9 a 10 anos de idade, já se encaminha para uma posição consolidada na reencarnação, que a criança está começando a viver. As 10 anos, dos 10 aos 12, temos um mundo de informações para dar à criança, e isso a nosso ver é muito necessário, porque a criança está encontrando hoje, um mundo diferente daquele que os adultos de agora encontraram há 40, 50, 30 anos atrás. Há muitos pequeninos que são chamados aos 8, 9, 10, e 11 anos de idade a facear problemas que só adultos conheciam há 10 anos passados. Hoje, autoridades da Europa e da América do Norte, em diversos comentários e estudos de revistas de divulgação científica, muitas autoridades andam impressionadas com o suicídio entre crianças, suicidios de crianças de 10, de 11, de 12, de 13.
Ainda ontem, tivemos em nossa casa, aqui na Comunhão Espírita Cristã, um casal de São Paulo que vinha desolado à procura de reconforto, porque o filho único do casal, um menino de 12 para 13 anos se enforcou deliberadamente, tão-só porque encontrou uma negativa da parte dos pais, para ir a cinema, depois de ter ido ao cinema durante algumas noites consecutivas. Isto é muito importante.
Estes suicídios nessa idade não eram comuns, nem mesmo conhecidos há 15, 20 anos atrás. Crianças que sofrem a perda de pais ou que são abandonadas pelos pais e que se suicidam mesmo, se afogam, se envenenam, procuram armas, atiram contra si próprias. Isto é um problema sério para todos aqueles que se sentem vinculados à tarefa de socorro à criança.
O ENSINO E A REALIDADE
P – O que o senhor tem a nos dizer sobre material didático constante de apólogos e símbolos para as Escolas Espíritas de Evangelização, desde a faixa de 5 a 13 anos?
R – Nós estamos vendo discussão em torno do assunto, por toda parte.Uns não querem que a criança ouça apólogos com vozes humanas em animais, outros exigem que este material seja posto em função. Não estando dentro do movimento de educação da criança nos meios espíritas, nós não temos o direito de opinar, porque só devemos opinar num assunto quando estamos em atividade dentro dele.
Mas, como criatura humana que sou, creio que até os 6 anos nessa faixa, uma árvore, uma borboleta, uma fonte, uma andorinha conversar, isto ajuda muito a criança.
Agora, depois dos 6 ou 7 anos é interessante que a criança entre num mundo de realidades objetivas, para que ela não acuse o adulto de mentiroso. Mas, não devemos levar tão longe essa idéia de que estejamos mentindo.
A criança nos primeiros tempos de vida, tem necessidade da história tocada de amor, tocada de ternura, beleza, espiritualidade. E o apólogo em que os animais comparecem conversando entre si, dando lições, este apólogo é sempre um agente muito proveitoso no esclarecimento da mente.
Não vemos nenhum inconveniente, mas deixamos o assunto para os técnicos.
Trascrita do livro A Terra e o Semeador – IDE – Instituto de Difusão Espírita – 5ª edição.
Autor: Chico Xavier
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.
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