Reencarnação na Bíblia

--- Questão [#001]
Gostaria de saber quais as passagens do Velho Testamento em que estão inseridas
as provas da reencarnação.

Resposta: Trata-se de um ensino constantemente velado. Por isso, para alguns,
seriam no máximo evidências. Mas, para nós, respondem por provas de que a
interpretação espírita da bíblia não é menos viável do que qualquer outra. Ao
contrário! Supera as demais exegeses por ser a única que mantém a sua lógica
intrínseca.
Em meu livro REENCARNAÇÃO: LEI DA BÍBLIA, LEI DO EVANGELHO, LEI DE DEUS
(Lachâtre, 1999), escrevi sete capítulos sobre o Velho Testamento, cada um
deles epigrafado por uma passagem contendo a idéia da reencarnação. Referências
propriamente ditas, contudo, são muitas. Certamente, mais do que todos podemos
imaginar. Eu ressaltaria as seguintes:
- o próprio Decálogo abriga em si o conceito de retorno "na terceira e quarta
geração" (Êxodo, 20:5);
- o caso dos gêmeos de Rebeca, que " ‘lutavam’ no ventre dela" (Gênesis,
25:22), sendo que o profeta Isaías afirma haver, no caso, prevaricação "desde o
ventre" (48:8);
- a sentença de Ana, mãe de Samuel, a qual diz que "o Senhor faz descer ao xeol
e faz tornar a subir dele" (1.º Samuel, 2:6);
- Salmo 71, versículo 20, que afirma: "(...) me restaurarás ainda a vida e de
novo me tirarás dos abismos da terra";
- Eclesiastes, que assevera: "O que é já foi; e o que há de ser também já foi;
Deus fará renovar-se o que se passou" (3:15);
- Jó, em meio ao seu infortúnio, confessa: "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu
voltarei para lá" (1:21);
- ainda Jó, na versão da Igreja Grega, afirma: "Quando o homem está morto, vive
sempre; acabando os dias da minha existência terrestre, esperarei, porquanto a
ela voltarei de novo";
- no livro de Sabedoria, aceito pelos católicos, o autor diz que "sendo bom,
entrou num corpo sem mancha" (8:20);
Etc., etc.

--- Questão [#002]
Comente a citação Eclesiastes 12.7.

Resposta: Esse passo eu o comento no capítulo 10 do meu livro COM QUEM FALARAM
OS PROFETAS? FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA FENOMENOLOGIA ESPÍRITA (Lachâtre, 2000).
Ao interpretar o versículo, não devemos incidir no panteísmo. Esse passo é
conseqüência de uma exposição acerca da fragilidade e brevidade da vida,
recomendando-nos que lembremos de Deus enquanto somos jovens, antes que as
limitações e tribulações da velhice nos assaltem, e nos sobrevenha a morte,
descrita como remoção ou rompimento da corda ou fio de prata (cf. 12:6), isto
é, o "laço fluídico", espécie de "cauda fosforescente", de "rastro luminoso",
que liga o espírito ao corpo, sobretudo quando emancipado pelo sono físico (cf.
O Livro dos Médiuns, 118 e 284:40.ª)
Assim, chegamos ao ponto (12:7), "o pó (corpo) volta à terra, como era; e o
espírito (eu imortal) a Deus, que o deu". Trata-se de referência à
preexistência da alma! Há evidente metáfora na linguagem, tomando-se o mundo
"divino" (para os antigos) ou "espiritual" (para nós) pelo próprio "Deus".
Portanto, de lá viemos e para lá voltamos, repetidamente, pois o mesmo
Eclesiastes diz, como vimos acima, que Deus fará renovar-se o que se passou.

--- Questão [#003]
Em que trechos da Bíblia fala mais claramente sobre a Reencarnação?

Resposta: Salvo melhor juízo, a palavra REENCARNAÇÃO surgiu nas obras de
Kardec. Nas escrituras, fala-se de novo nascimento (palingenesia), de
ressurreição dos mortos (anástasis ek tõn nekrõn), nunca propriamente de
ressurreição dos corpos, expressando, portanto, a idéia de retorno, de
ressurgimento, mas do espírito, não do corpo. O contexto é que revela tratar-se
de retorno do espírito ao plano espiritual (desencarnação) ou de seu retorno ao
plano físico (reencarnação). Do sem-número de referências ao processo
reencarnatório nas escrituras, cito como as mais explícitas as seguintes:
- Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec ressalta a versão da Igreja
Grega para o Livro de Jó, no Velho Testamento, em seu capítulo 14, versículo
14, onde se lê: "Quando o homem está morto, vive sempre; acabando os dias da
minha existência terrestre, esperarei, porquanto a ela voltarei de novo".
Infelizmente, as demais versões não conservaram esta afirmação clara.
- No Evangelho segundo Mateus, capítulo 11, versículo 14, Jesus declara sobre
João Batista: "Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é Elias, que
está destinado a vir". No mesmo Evangelho, capítulo 17, versículos 12 e 13,
lemos: "Eu vos declaro que Elias já veio e eles não o reconheceram. Então seus
discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara". Nenhum
malabarismo da exegese bíblica pode desmentir o próprio Cristo.

--- Questão [#004]
Você pode nos indicar uma edição da Bíblia para consultas e estudos?

Resposta: Não existe nenhuma edição "infalível", não só porque isso seria
praticamente impossível, mas também porque é grande a influência dos
"corretores". Particularmente, quando necessário, faço um trabalho de
comparação de diversas versões e edições, adotando, para cada caso particular,
a que mais reflete a verdade espírita, que deve ser o nosso critério de
julgamento. Interpreto as escrituras à luz do espiritismo e não o espiritismo à
luz das escrituras.
No meu livro REENCARNAÇÃO: LEI DA BÍBLIA, LEI DO EVANGELHO, LEI DE DEUS
(Lachâtre, 1999), relaciono, na bibliografia, todas as edições e versões de que
fiz uso. Pessoalmente, gosto muito da BÍBLIA DE JERUSALÉM (Paulinas, 1985) e da
edição revista e atualizada de JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA (SBB, 1993).

--- Questão [#005]
Se a Bíblia de capa a capa ensina claramente que não existe reencarnação (esta
palavra não existe na bíblia), como explicas isso? Jesus ressucitou e não
reencarnou. Como sustentar a doutrina de reencarnação sem base bíblica? A visão
de Samuel foi apenas uma visão e Deus não disse que a visão era Dele. Tomar
versículos isolados da Bíblia e esquecer o resto é correto?

Resposta: A premissa desta questão é falsa. Primeiramente, as escrituras
ensinam desde o mais obtuso materialismo até o mais sublimado espiritualismo...
Não há, na letra, nenhuma unidade doutrinária de capa a capa. Ao contrário! Há
bastantes contradições. Ao demais, muitas coisas existem antes que as culturas
as definam desta ou daquela maneira, com esta ou aquela palavra, sem deixarem,
por isso, de ser o que são. A reencarnação é lei natural! Ainda que as
escrituras não a mencionassem, ela continuaria vigendo, como imutável lei
divina. Mas o fato é que elas a referem, a seu modo. Mesmo assim, porém,
independentemente da "base bíblica", a reencarnação sustenta-se em pesquisas
científicas e especulações filosóficas.
Jesus ressuscitou, sim; ou seja, no caso, ressurgiu para o plano espiritual,
com sua "glória", de onde, aliás, já na posse também de suas respectivas
"glórias", Moisés e Elias falaram com ele, estando Jesus ainda encarnado
(Lucas, 9:30-31). Isto demonstra que a ressurreição do Mestre foi mitificada
pelas religiões; ou seja, nada houve de excepcional do ponto de vista das leis
naturais. Lá estavam, igualmente ressuscitados, isto é, ressurgidos para a vida
imortal, tanto Moisés quanto Elias!
Para um verdadeiro cristão, por mais isolado que seja um versículo, se ele for
verdadeiramente de Jesus, como o é o que afirma que João Batista foi Elias, de
nada valem outros que digam o contrário...
O fato é que só os princípios espíritas dão lógica às escrituras, pondo em
evidência a unidade do espírito (que vivifica) e superando a diversidade formal
da letra (que mata). Já as teologias das diversas religiões dogmáticas,
simplesmente pararam no tempo.

--- Questão [#006]
Gostaria de saber porque nas escrituras embora algumas partes falam claramente
da existência da reencarnação outras vão claramente ao contrário como por
exemplo quando Jesus disse que seriam lançados na geena onde o "verme" não
morre e o sofrimento se torna eterno?

Resposta: Fomos acostumados a pensar que há nas escrituras uma unidade
doutrinária que na verdade elas não possuem. A bíblia é plural! Então é natural
que a letra revele as contradições de cronistas e implementos de corretores. As
teologias, com suas interpretações, é que vivem a fabricar pseudo-unidades,
expressas assim: "Segundo a PALAVRA DE DEUS... A BÍBLIA DIZ QUE...", quando o
mais honesto seria admitir as diversas variantes da equação do problema. 
O espiritismo não surgiu de nenhuma releitura da bíblia, embora tenha sua
própria interpretação, por força de razões históricas, culturais e, sem dúvida,
espirituais. Exatamente, por essa sua independência, enquanto revelação,
ciência e filosofia, só o espiritismo nos pode fornecer a fórmula de superação
desses inglórios obstáculos a uma lúcida compreensão das verdades espirituais
escriturísticas, inegáveis, mas à luz da doutrina.
O versículo apontado nesta questão (Marcos, 9:44) simplesmente não figura na
TRADUÇÃO DO NOVO MUNDO DAS ESCRITURAS SAGRADAS (bom trabalho das testemunhas de
Jeová, que seria excelente se não cometesse a desfaçatez de substituir em
muitos passos "feitiçaria" por "prática de espiritismo", e "feiticeiro" por
"médium espírita", termos estes criados por Kardec já no séc. XIX). O referido
versículo 44 do capítulo 9 de Marcos também está entre colchetes na excelente
versão bíblica para computador de Ismael Vieira, o que significa que foi
acrescentado posteriormente.

--- Questão [#007]
Qual a importância da Bíblia, principalmente o Antigo testamento, para o
Espiritismo?

Resposta: Evidente que não devemos priorizar a bíblia em detrimento do
espiritismo, mas, por outro lado, para compreendê-lo melhor, não podemos
desprezá-la... O grande filósofo Herculano Pires disse: "A bíblia é muito
valiosa para os espiritistas estudiosos porque é o maior e o mais vigoroso
testemunho da verdade espírita na antigüidade". (Visão espírita da bíblia,
artigo 15.º)
Além do que, as revelações podem ser esparsas ou concatenadas. A revelação
espírita mostra-se seqüência de duas anteriores, codificadas exatamente no
Velho e no Novo Testamento. Veja-se o n.º 3 do capítulo XX de O Evangelho
segundo o Espiritismo: "Mais de um patriarca, mais de um profeta [1.ª revelação
- Velho Testamento], mais de um discípulo do Cristo, mais de um pregador da fé
cristã [2.ª revelação - Novo Testamento] se encontram no meio deles [dos
espíritas], porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não já na
base [as duas primeiras revelações] e sim na cumeeira do edifício [a 3.ª
revelação]".

--- Questão [#008]
Um amigo protestante argumentou-me que a reencarnação não existe e que na
própria Bíblia existe uma outra passagem que comprova que João Batista não é
Elias reencarnado. Segundo ele, quando Jesus "encontrou" no fenômeno de
transfiguração com "Elias e Moisés", não existe nenhuma citação quanto tal
assunto, e que se João Batista era realmente Elias ele não deveria ter parecido
como tal. Sou espírita e acredito na reencarnação, o que dizer neste caso?

Resposta: Fica difícil argumentar em termos lógicos com pessoas que dizem, por
exemplo, que João Batista não podia ser Elias porque este último não morreu,
foi elevado ao céu num carro de fogo, interpretando ao pé da letra a narrativa
do 2.º Livro de Reis, 2:1-18. Ou então com pessoas que, na bíblia, preferem a
palavra de João Batista à do próprio Jesus... João até podia não saber se tinha
sido Elias, pois normalmente não lembramos de vidas anteriores. Mas o fato é
que Jesus sabia!
Quanto aos fenômenos que secundam a transfiguração de Jesus, bem mais
comprobatório de que João Batista foi Elias é o fato de ter ele aparecido como
tal (essa propriedade do perispírito se chama plasticidade) do que se tivesse
aparecido sob a forma de João, porquanto o próprio Jesus disse que Elias já
tinha vindo, mas não fora reconhecido na figura do Batista.
Vejam-se os capítulos 17 de Mateus e 9 de Lucas! Claríssimo!

--- Questão [#009]
Se a Bíblia foi muitas vezes "revisitada", diríamos assim pela Igreja Católica
ao longo dos séculos, e ela não admite a reencarnação, como se explica que
tenha deixado textos como o diálogo de Nicodemos com Jesus; o que Jesus falou
sobre Elias e João Batista, na Bíblia?

Resposta: A Igreja não admite, hoje e publicamente, a reencarnação, mas a
verdade é que nunca a condenou formalmente. Alguns de seus chamados "pais" eram
partidários da reencarnação. Certos líderes contemporâneos da Igreja é que
querem saber mais do que aqueles que eles mesmos consideram fundadores da
"Santa Madre"... Recomendo a leitura do texto de Léon Denis sobre a relação da
Igreja Católica com a reencarnação, inserido no clássico O Porquê da Vida (FEB).

--- Questão [#010]
É sabido que nenhuma tradução feita é plenamente igual ao original. Além disso,
a Igreja Católica já retirou diversos textos da Bíblia que não era
interessantes para ela nos famosos Concílios de Trento, inclusive os referentes
à reencarnação. Por que então tantas referências no Espiritismo da questão
bíblica, já que este livro foi escrito por discípulos que não conheceram Jesus
e outros depois de anos da morte do Mestre, acrescentando-se as traduções má
interpretadas e influenciadas pela Igreja?

Resposta: Mesmo reconhecendo as limitações que por estes ou aqueles motivos se
impuseram ao processo de transmissão dos ensinos de Jesus, os evangelhos são
documentos de valor histórico, cultural e espiritual comprovado, e isto por
sábios de diversas áreas e ao longo de séculos. Digo mesmo que Kardec foi o
maior deles! Não fossem esses documentos e pouco ou nada teríamos sabido da
doutrina do Mestre. O próprio Cristo tinha conhecimento de que haveria
deturpações e imperfeições no repasse formal de seus ensinos à posteridade. Mas
por essa razão é que prometeu restabelecê-los mediante o envio do Consolador.
Assim, o espiritismo coloca as coisas nos seus devidos lugares e, para isso,
tem de recorrer também às fontes culturais e históricas de que dispomos.

--- Questão [#011]
Até que ponto, nós, espíritas, não "forçamos" demais a Bíblia para ela falar em
reencarnação? Parece-me fato que, os textos canônicos (exceção feita aos
apócrifos) não pareciam muito inclinados as crenças reencarnacionistas,
principalmente os paulinos. O que pensa sobre isso?

Resposta: Para efeito deste ponto de vista, os chamados textos apócrifos não
excedem em nada os canônicos. Apresentam a mesma diversidade formal de
possibilidades. Mas esta pergunta é oportuna e muito pertinente.
Certa vez, um confrade nosso me disse que o cego de nascença expiava
inegavelmente uma falta, pois não poderíamos "perder essa prova da
reencarnação"... Eu o adverti para o fato de que não poderíamos "atropelar"
Jesus, porque o próprio Mestre afirmou que o pecado não era do cego de
nascença, nem menos ainda de seus pais.
Claro que se tratava, desse modo, de uma prova de caráter não expiatório, como
esclarece Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, n.º 9, e em A
Gênese, cap. XV, n.º 25. Esse nosso confrade estava de fato "forçando a bíblia"
a falar em reencarnação.
O que temos no caso é a reencarnação, senão afirmada, ao menos cogitada, haja
vista a pergunta dos discípulos: se o cego de nascença tinha cometido um pecado
para que nascesse sem visão. A reencarnação aparece como evidente hipótese
especulativa.
Então, penso que, sim, alguns espíritas querem fabricar "provas" da
reencarnação a todo custo. Mas a reencarnação, como um dos fundamentos
legítimos de nossa civilização, dispensa tais negligências. É o que pretendi
demonstrar no meu livro REENCARNAÇÃO: LEI DA BÍBLIA, LEI DO EVANGELHO, LEI DE
DEUS (Lachâtre, 1999), seguindo com rigor o critério kardeciano para o
tratamento da matéria.

--- Questão [#012]
Algumas pessoas contestam que João Batista foi outra encarnação de Elias,
argumentado que Elias, segundo o texto bíblico não morreu, foi arrebatado por
uma carruagem de fogo. Como interpretar a luz da doutrina Espírita A questão do
Arrebatamento de Elias?

Resposta: Essa contestação não vale certamente para pessoas razoáveis... Aliás,
mais uma vez, certos cristãos demonstram ser algo judaizantes, ao preferirem o
Velho Testamento ao Novo... Quanto à interpretação do texto bíblico, eu fiz uma
em meu livro COM QUEM FALARAM OS PROFETAS? FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA
FENOMENOLOGIA ESPÍRITA (Lachâtre, 2000). Entendo que houve fatos mal
compreendidos aliados a um processo de mitificação da figura de Elias, o que
gerou uma narrativa de característica superficialmente lendária, mas verídica
em seu fundo.

--- Questão [#013]
Por que temos que nos prender a Bíblia, se Jesus nos trouxe a Boa Nova?

Resposta: Isto me faz recordar a razão do incêndio da famosa biblioteca antiga
de Alexandria, sob a falsa justificativa de que o contido em todos aqueles
livros já estava no Alcorão...
Não se trata de nos prendermos ao Velho Testamento. Como podemos entender o
processo de construção de um edifício ignorando que ele teve lançados,
criteriosamente, por um Construtor, os seus fundamentos? Jesus disse que não
vinha destruir a Lei de Moisés, mas complementá-la, da mesma forma que, segundo
Kardec, o espiritismo não revoga a Lei Cristã, dá-lhe execução. Há, portanto,
uma seqüência a ser observada, se não em sua forma, indispensavelmente em seu
fundo.
Quando menos, vejamos o que nos diz o item 628 de O Livro dos Espíritos:
"Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem
precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.
Jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicações tão completas e
instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia, como sabeis, na antiguidade
alguns indivíduos possuidores do que eles próprios consideravam uma ciência
sagrada e da qual faziam mistério para os que, aos seus olhos, eram tidos por
profanos. Pelo que conheceis das leis que regem estes fenômenos, deveis
compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas verdades esparsas,
dentro de um conjunto equívoco e, na maioria dos casos, emblemático.
Entretanto, para o estudioso, não há nenhum sistema antigo de filosofia,
nenhuma tradição, nenhuma religião, que seja desprezível, pois em tudo há
germens de grandes verdades que, se bem pareçam contraditórias entre si,
dispersas que se acham em meio de acessórios sem fundamento, facilmente
coordenáveis se vos apresentam, graças à explicação que o espiritismo dá de uma
imensidade de coisas que até agora se vos afiguraram sem razão alguma e cuja
realidade está hoje irrecusavelmente demonstrada. Não desprezeis, portanto, os
objetos de estudo que esses materiais oferecem. Ricos eles são de tais objetos
e podem contribuir grandemente para vossa instrução".

--- Questão [#014]
No século IV a bíblia foi traduzida do grego para o latim com a exclusão do
assunto sobre a reencarnação, que era uma crença comum e, no século VI o
assunto foi considerado pela igreja romana como heresia. Por que motivo isso
ocorreu? Qual era o interesse da igreja e esconder o assunto? Seria ignorância
ou má fé?

Resposta: Infelizmente para eles, não foi por ignorância do assunto! O problema
foi o lastro de liberdade oferecido pela idéia da reencarnação, que suprime
todas as barreiras de mediação institucional, livrando-nos do jugo opressor de
dogmas como o da condenação eterna. Como já disse, eles tentam esconder, porém
nunca condenaram formalmente a reencarnação, salvo algumas lideranças que mais
querem saber do que os "pais" da "Santa Madre". Recomendo novamente o texto
sobre a relação da Igreja Católica com a reencarnação, inserido no clássico O
Porquê da Vida (FEB), de Léon Denis.

--- Questão [#015]
O livro Analisando as Traduções Bíblicas de autoria de Severino Celestino da
Silva, à pg. 144, refere-se a história do II Concílio de Constantinopla, cujo
imperador era Justiniano e s/ esposa, Teodora. Favor confirmar a veracidade
desses fatos.

Resposta: Não tenho conhecimento a respeito. Quanto à natureza verídica ou
hipotética das informações, é da responsabilidade do autor apenas.

--- Questão [#016]
Você entende que a passagem em que é dito que aqueles que precisam primeiro se
reconciliar com seu adversário e que devem primeiro deixar sua oferta diante do
altar e buscar a reconciliação, fala claramente da reencarnação, quando diz que
não sairemos dali (da prisão - a reencarnação) enquanto não pagarmos o último
ceitil?

Resposta: Vejamos bem o que Jesus disse: "Concilia-te depressa com o teu
adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem
na prisão. " Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não
pagares o último ceitil". (Mateus, 5:25-26.) A reencarnação aparece na
possibilidade de sairmos da prisão quando pagarmos o último centavo. A prisão é
a consciência de culpa, a responsabilidade assumida perante o adversário.
Assim, é melhor conciliarmo-nos enquanto estamos encarnados (no caminho), do
que sermos entregues ao juiz (a consciência), ao oficial de justiça (a lei de
causa e efeito) e, enfim, sermos lançados na prisão (estado de culpa). Daí
somente sairemos reparando as faltas. Nesse ponto, sim, é que surge a
reencarnação. E vejamos bem! Para Jesus, ela surge como libertadora, não como
aprisionadora!

--- Questão [#017]
O papa Constantino retirou da Biblia partes que falavam da reencarnação. Existe
possibilidade de se ter acesso a esse material, ou ficou completamente perdido?

Resposta: Não sei. Parece impossível recuperarmos as informações, caso isso
tenha acontecido. A arqueologia, contudo, sempre nos surpreende... Mas se
estudarmos o que temos, não haverá dúvidas sobre os precedentes
reencarnacionistas da civilização judaico-cristã. Esta é exatamente a premissa
da qual eu parto em meu livro já citado. Demoremo-nos sobre o que temos de
concreto. Evitaremos muitas polêmicas estéreis.

--- Questão [#018]
Em Jeremias (1:5), está claro a preexistência do Espírito; Em Malaquias (4:5),
está prevista a volta do próprio Elias (Profeta, e não "messias"), portanto, a
reencarnação do Profeta que viria a ser João Batista. Entretanto, Roustaing nos
informa que Elias teria sido Moisés. Gostaria de saber como comprovar tal
afirmativa no texto bíblico.

Resposta: O texto evangélico dá conta de que Moisés e Elias apareceram "falando
com" Jesus (Mateus, 17:3). Dois espíritos distintos, portanto! Isso de Elias
ter sido Moisés reencarnado é só mais um dos muitos absurdos, mais uma das
muitas mistificações contidas nos livros roustainguistas.

--- Questão [#019]
Os judeus, na época do Velho Testamento tinham conhecimento da existência da
reencarnação, ou só ouviram falar dela pelas alusões indiretas de Jesus?

Resposta: Já vimos que os judeus tinham conhecimento, mesmo que imperfeito, da
reencarnação, da idéia de que poderiam voltar a viver, de que poderiam tornar a
se levantar do xeol (ressurreição dos mortos: anástasis ek tõn nekrõn), embora
esse conhecimento fosse dissimulado numa linguagem iniciática, dirigida a
alguns poucos. Jesus supôs que Nicodemos possuísse tal conhecimento, ao dizer:
"Tu és mestre em Israel e ignoras estas coisas?". (João, 3:10.) Será que
Nicodemos ignorava o ritual litúrgico batismal, que já era praticado havia
milhares de anos? Será que ele ignorava, por outro lado, o seu sentido
simbólico de renovação, tão evidente? Ou será que quando Jesus lhe disse que
"não pode ver o reino de Deus senão aquele que renascer de novo", na verdade
lhe ensinou a reencarnação, e Nicodemos hesitou?... Não tenho dúvidas de que
esta última hipótese corresponde mais perfeitamente ao famoso diálogo constante
do capítulo três do Evangelho segundo João.

--- Questão [#020]
O conceito reencarnação, desde o primitivo povo hebreu, e até hoje, não se
confundiu com o conceito ressureição? Ressureição dos mortos (ressurgir no
plano espiritual) e ressureição da carne (ressurgir no corpo físico). É
possível explicar esta questão?

Resposta: Tudo explicado no capítulo "Ressurreição e Reencarnação", do meu
livro já citado.
Nas escrituras, ressuscitar implica tornar a viver, no sentido de ressurgir,
quer para o plano espiritual, mediante o processo de desencarnação, quer para o
plano físico, por meio do processo de reencarnação. Embora essa crença,
vulgarmente, incidisse às vezes na volta da alma ou espírito ao corpo atingido
pela morte, quem ressuscita de fato é o ser imortal, não o organismo perecível.
E tanto assim é que as escrituras falam em ressurreição "dos mortos" (anástasis
ek tõn nekrõn), não propriamente em ressurreição "dos corpos" ou "da carne".
Quando Jesus afirma aos materialistas saduceus que "na ressurreição nem se
casam nem se dão em casamento, mas são como os anjos no céu", refere-se à
passagem da alma para a vida espiritual, tanto que ele chega a citar os
próprios patriarcas como exemplo, dizendo: "Quanto à ressurreição dos mortos,
não lestes o dito: " Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaac, e o Deus de
Jacó? Não é o Deus de mortos, mas de vivos". (Mateus, 22:31-33.)
Por outro lado, o povo entendia que Jesus podia ser "um dos antigos profetas,
que ressurgiu", ou "que ressuscitou", como preferem outras versões. Trata-se aí
de ressurgimento na carne de um novo corpo (reencarnação), porque Jesus fora
visto criança e conhecida era sua origem, de Nazaré, na Galiléia. Se criam que
ele podia ser um dos antigos profetas ressurgido, somente pelo espírito ele o
poderia, não pelo corpo (Lucas, 9:18-19.)
Neste mesmo sentido, instruiu-nos o autor da epístola aos hebreus: "Mulheres
receberam os seus mortos pela ressurreição; alguns foram torturados, porque não
queriam aceitar o seu livramento por meio de algum resgate, a fim de que
pudessem alcançar uma ressurreição melhor; " outros, por sua vez, passaram a
sua provação por mofas e por açoites, deveras, mais do que isso, por laços e
prisões". (11:35-36.)
Não só vemos neste passo que ressurreição era, muitas vezes, reencarnação, como
resta claríssimo o conceito de provas e expiações, para que se obtenha, segundo
o autor, uma "ressurreição melhor". No seu pensamento deve isso significar uma
estada mais feliz no plano espiritual, depois da purificação obtida pela vinda
à Terra em expiação, porque "carne e sangue não podem herdar o reino de Deus".
(1.ª aos Coríntios, 15:50.)
Aliás, fica assim patente que quando o mesmo autor escreve que "ao homem está
destinado morrer uma só vez, depois disto vindo o juízo" (Hebreus, 9:27), não
pode ter em mente negar a reencarnação, sob pena de contradizer-se. Referia-se,
portanto, ao corpo, não ao espírito que o anima, até porque este último não
morre sequer uma vez.

Autor: Sérgio Fernandes Aleixo

Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.

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