O Tijolo do Amor

Tijolo a tijolo o homem constrói a sua casa, destinada a ser o seu refúgio no mundo. Ali dentro procurará desenvolver as intuições que traz da vida espiritual, na criação paciente do lar, no convívio amoroso da esposa e dos filhos. A casa é o seu ninho de amor. É o meio adequado à germinação das sementes divinas semeadas por Deus no seu coração. O ego solitário e duro como pedra, que caracteriza a individualização, será rompido como as lajes da calçada pelo poder sereno e suave da relva.

Primeiro a mulher que o atrai pelo magnetismo da espécie e, depois os filhos, que o prendem pelos laços da afinidade, forçam naturalmente a expansão do seu egoísmo que é o amor em semente, fechado em si mesmo. Como a semente, o seu ego se rompe e pelas brechas da casca o amor começa a germinar. É o processo de socialização que se desenvolve. Do lar o amor se expandirá para os demais familiares, para o meio social, para a Humanidade.

Mas antes de atingir o grau superior do amor ao próximo, ensinado por Jesus, a planta em desenvolvimento se enroscará no muro ou na cerca e se enrolará como trepadeira espinhosa, defendendo o seu reduto. É a fase do sociocentrismo, do apego ao meio familiar e social, quando os outros não aparecem como nossos semelhantes, mas como estranhos. A reencarnação se incumbirá de romper mais essa barreira. E de casa em casa, de família em família o homem se abrirá finalmente para a amplitude universal do amor.

As guerras e as aflições da guerra provêm dos resíduos do egoísmo. Para superá-las no plano social temos primeiro de superar o orgulho, a vaidade, a arrogância, a auto-suficiência, esses restos da casca da semente que ainda persistem em separar-nos dos outros. Temos de nos desapegar da nossa vida para encontrarmos a verdadeira vida, como lemos no Evangelho. A nossa vida é um fragmento da vida abundante, do oceano de vida que anima o Universo. Sem compreendermos isso nunca teremos paz.

A expressão de Emmanuel: “o tijolo do amor” nos mostra que só o amor constrói, mas não constrói para prender-nos de novo entre muros e cercas de espinhos e sim para libertar-nos. O “copo de água fria”, por sua vez, é a água da paz que damos aos outros e que no simples gesto da doação apaga “o incêndio das aflições humanas”. Essa receita exige a nossa reflexão.


J.Herculano Pires