Voltemos a Confiar

Dois adolescentes conversavam. A amizade iniciava muito bela. Todos os dias, o casal de amigos conversava largas horas por telefone.

Certo dia, a menina, entristecida e amargurada, confessou ao garoto:

"Eu me decepcionei tanto nas amizades, que hoje em dia não confio em mais ninguém! Fico com os dois pés atrás."

"Quantos anos você tem mesmo?" - Questionou o jovem, quase que em tom de brincadeira.

"Quinze! Ora, você não sabe? A essa altura do campeonato!" - Respondeu ela, intrigada.

"Calma, calma! Eu sei a sua idade biológica. Mas, é que, ao falar, parecia uma anciã!

Sabe... Talvez você não precisasse colocar tanta expectativa nos outros. E também não acho que deva desconfiar de todo mundo antecipadamente."

"Como assim?" Quis saber mais a menina.

"Se você continuar desse jeito... sei não. Porque se você só tem quinze anos e está assim... fico a imaginar quando tiver uns trinta e cinco!"

A conversa saudável revela características de muitos de nós, que merecem ser analisadas.

Quem sabe alguns sejamos desses que não confiam mais em ninguém. Esses que, perante os demais, ficamos com os dois pés atrás.

Quem sabe muitos sejamos os decepcionados com a Humanidade como um todo. Descrentes de que daqui poderá sair algo de bom, esquecendo-nos de que também fazemos parte dessa tal Humanidade.

Sofremos decepções, a todo instante, é possível. Somos feridos, alcançados pela desdita, surpreendidos por palavras e ações que nunca imaginávamos receber.

É de nos perguntarmos: Por que nunca imaginávamos? Paramos para pensar nisso?

Ingênuos? Descuidados?

De um modo geral, não esperamos o mal. Quando ele nos alcança nos decepcionamos.

Se fosse só isso até que o problema não seria tão grande, pois a repulsa ao mal é natural. No entanto, o que podemos perceber, em grande parte dos casos de decepção, é que simplesmente o outro não agiu como nós esperávamos que ele agisse.

Vejamos que não há julgamento da nobreza da atitude, mas se ela foi como imaginávamos ou não.

Por isso, nos decepcionamos com fulano ou beltrano. Em muitas oportunidades, porque ele não atendeu aos nossos caprichos, às nossas expectativas.

Porque não nos respondeu do jeito que queríamos, porque não estava disponível quando queríamos que estivesse. E assim por diante, uma série do que nós pensamos, do que nós desejamos.

Caprichos de uma alma infantil.

Sabemos, por outro lado, que existem fatos marcantes, as grandes ofensas, as traições, os abandonos.

Cada um irá responder por seus atos diante das leis maiores.

Mesmo assim, não podemos desistir das pessoas, desistir de tentar novamente. Às vezes, dar uma nova chance.

Lembremos: todos erramos. Inclusive nós. Aliás, por vezes, erramos muito mais do que os outros.

Sejamos menos duros com os outros e mais exigentes conosco. Relevemos os atos corriqueiros, evitando expectativas ingênuas, evitando querer que todos caibam dentro de uma caixinha do modelo que criamos em nossa cabeça inventiva.

Voltemos a confiar. A vida é mais feliz assim.


Momento Espírita