Perante a Ciência, por André Luiz
Num Domingo de Calor
Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Espíritas
Cristãs, de Araçatuba, no Estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de
damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de
assistência. E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes
mentais, não pode esquivar-se.
Entretanto, a presença da conhecida missionária causava espécie.
O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto mantô de lã, apenas
compreensível em tempo de frio.
– Mania! – cochichava alguém, à pequena distância.
– De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu... – dizia elegante
senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.
– Isso é pura vaidade, – falou outra – ela quer parecer diferente.
– Caso de obsessão! – certa amiga lembrou em voz baixa.
– Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e de amor.
Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembléia, a presidente
alegou que Benedita suava por todos os poros, e, em razão disso, rogou a ela que
tirasse o mantô por gentileza.
Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas
presentes puderam ver que a mulher admirável, que sustentava em Araçatuba
dezenas de enfermos, com o suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de
chitão com remendos enormes.
A+ | A- | Imprimir |