
Bagagem de Risco, por Orson Carrara
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É muito comum ouvir essa afirmação, que usei como título, como justificativa
de dirigentes, coordenadores de reuniões mediúnicas e médiuns diante de
situações inesperadas ou mediante questionamentos onde os indagados não sabem ou
não querem responder.
Compara-se às desculpas comuns no cotidiano dos relacionamentos, onde o medo, ou
excesso de zelo e outras preocupações e interesses entram no processo para
solução de alguma pendência. E mesmo por não saber como agir, claro,
transferindo ou terceirizando responsabilidades. É uma forma de escapar do
“aperto” de algum questionamento.
Os questionamentos surgem de várias circunstâncias. Podem ser oriundos de
decepções, frustrações, dificuldades, discordância, incômodos variados e mesmo
ignorância (de não saber mesmo) ou de constrangimentos diversos.
Afinal é mais fácil transferir para os espíritos aquilo que não sabemos como
resolver ou responder. E referida prática acaba se transformando num
“espiritismo à moda da casa ou do dirigente”, adaptado ao conceito daquele que
se acha investido, ou assim se sente, do poder de decisão sobre questões que os
espíritos deixam à nossa avaliação, justamente para aprendermos e amadurecermos.
Um benfeitor espiritual legítimo nunca dá respostas prontas, deixando que
experimentemos as decisões, as escolhas, os acertos e equívocos. Eles respondem
sim, com agrado, questões que nos auxiliem o progresso e nos façam melhores, mas
não se submetem a um plantão de respostas a resoluções que nos cabe avaliar para
as melhores decisões.
Será de muita importância, antes de quaisquer argumentos que possam apresentar,
que se consulte atentamente – e com constância – o conteúdo do capítulo XXVI –
Perguntas que se podem dirigir aos Espíritos – constante de O Livro dos Médiuns,
em sua Segunda Parte. Especialmente no item 291 – Perguntas sobre os interesses
morais e materiais (itens 17 a 20), onde se concentra o cerne da presente
abordagem. Principalmente, é claro, na questão moral, onde se originam os
questionamentos mais comuns.
Dirigir perguntas aos espíritos não é algo banal. Há circunstâncias específicas,
que devem ser levadas seriamente e não como “muleta escapatória”. Afinal fazer
disso um hábito vicioso favorecerá que espíritos fraudulentos – e que se
aproveitam da própria invisibilidade para enganar e dominar – sejam os que
respondem, normalmente jogando mais lenha na fogueira.
E, por outro lado, há que se considerar que os espíritos aí não estão para
simplesmente ficarem responderem nossas dúvidas. Muitas questões cabem à nossa
capacidade de sentir, raciocinar, refletir, com uso inclusive das diretrizes
doutrinárias já disponíveis na Codificação Espírita. Muitas decisões cabem a nós
mesmos. Muitas escolhas cabem aos encarnados, que vamos aprender nesse desafio
de analisar e decidir.
Tudo submeter à opinião dos espíritos é no mínimo falta de bom senso, ausência
de discernimento. É exatamente na análise ponderada das situações que
amadurecemos para as escolhas mais corretas e coerentes. Transferir decisões com
a justificativa de que “precisamos consultar os espíritos” denota falta de
conhecimento doutrinário. O que é grave para um dirigente ou coordenador de
grupos mediúnicos. Claro que a busca de uma orientação para dúvidas variadas,
com a prece, com a vibração, com os pedidos mentais, são recursos que não podem
nem devem ser desprezados, mas se a prática é comum no cotidiano, algo está
errado.
Ou falta conhecimento ou criou-se dependência. Nos dois casos fica-se exposto à
influências dos chamados “falsos profetas da erraticidade”, tão bem apresentados
em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 21, especialmente no item 10 com
aquele título. Ali, o Espírito Erasto classifica as comunicações como oriundas
de espíritos vaidosos e medíocres.
Portanto, cuidado com a dependência de espíritos. O estudo doutrinário nos
preserva de enganos e ilusões. Na verdade, nos protege. E fujamos ao hábito de
que vamos consultar os espíritos. Antes, analisemos as diretrizes doutrinárias
já disponíveis. Somos capazes de uma análise parcial'>imparcial, lógica, coerente, sem
fugir aos questionamentos. O estudo doutrinário continuado nos capacita para
isso.
Convenhamos, todavia, não somos sábios, somos todos aprendizes. Surgirão sim
dúvidas e questionamentos variados. Tenhamos, porém, a humildade de reconhecer
nossa limitação e caso não sejamos capazes de discernir sobre determinadas
questões, busquemos trocar ideias com amigos próximos ou outros, ainda que
distantes, confiáveis. Mas procuremos erradicar do vocabulário e do
comportamento de que “preciso consultar os espíritos”. Se isso virar rotina, não
entendemos ainda o Espiritismo.
Como garantir nas repostas que possamos obter, que provém de espíritos sábios e
coerentes? Somente o estudo doutrinário nos dará condições de discernimento. Se
nos acostumarmos com a prática, abrimos brechas para que espíritos mal
informados, e muitas vezes hipócritas, se aproveitem de nossa provável
ingenuidade. Afinal, os bons espíritos se afastam de quem não se esforça..
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